Foi o Hélder que esteve por detrás da fundação da Casca Wines em 2008. O que o motivou na altura?
O desejo de evidenciar a excelência vinícola de Portugal, mostrando ao mundo a riqueza das nossas regiões, castas e terroir’s únicos. Quis criar vinhos que representassem o lema da Casca Wines: ‘Novos vinhos do Velho Mundo’.
O nome Casca Wines joga com a sonoridade da palavra Cascais. Foi esse o motivo para a escolha dessa designação?
Sim, a escolha é uma homenagem à minha terra natal, Cascais. O nome ‘Casca’ ressoa com Cascais, e isso reflete a origem comum dos nossos vinhos, apesar de eles serem produzidos em várias regiões. Cascais é o plural da palavra “Cascale” que significa um Monte de Cascas.
Como empresário também, olhando para trás, nos últimos 15 anos, qual foi para si o momento mais marcante para a afirmação da Casca Wines?
A Casca Wines já teve vários momentos marcantes. Costumo dizer que entrámos agora, após estes 15 anos, para a casca 3.0. A Casca 1.0 ocorreu durante os primeiros 5 anos, onde tivemos uma grande expansão na produção de vinhas muito velhas um pouco por todo o país. Durante esses anos criámos a nossa rede de viticultores e a base da nossa essência. Dos 5 aos 10 anos, a grande concentração de esforços foi no crescimento da base da pirâmide. Na Casca 2.0 criámos vinhos para chegar a qualquer consumidor do mundo, o vinho que gostamos de apreciar todos os dias, com muito carácter e também muito fáceis de beber. Nestes últimos 5 anos estivemos a consolidar e a corrigir alguns erros normais do crescimento de qualquer empresa. A Casca 3.0 quis voltar à sua base, mas numa dimensão bastante maior, focando cada vez mais na sua origem e transmitir a todos a bandeira de sempre: a sustentabilidade nas suas vertentes económica, social e ambiental.
Durante estes anos houve dois momentos muito marcantes. O primeiro, “A Rota dos Vinhos”, um programa de televisão onde partilhei o ecrã com o ator José Fidalgo e ambos percorremos todo o país a mostrar tudo aquilo que me fez criar a Casca Wines. O segundo momento foi poder levar a região de Colares para a National Geographic através da série de televisão do chefe Gordon Ramsay; estivemos no segundo episódio da terceira temporada, a partilhar que a minha paixão pelos vinhos vem da região mais peculiar de Portugal, Colares.
Como descreveria a posição da Casca Wines no panorama português de vinhos?
A Casca Wines é pioneira nas questões da sustentabilidade. Preocupamo-nos com a vertente económica dos viticultores, e também social na medida em que reavivamos tradições antigas na cultura do vinho português; estamos igualmente a produzir vinhos biológicos na Beira Interior e a marca Cabo da Roca é hoje um guardião dos oceanos, estando associada a ONG’s que estão focadas na proteção dos nossos mares e oceanos.
Para quem não vos conhece, como definiram os vossos produtos e em que gama de preços se situam?
Somos um produtor de vinho minimalista focado naquilo que nos fez nascer! Novos vinhos, com o caráter de cada região e de extrema elegância, do velho mundo – Portugal. Em relação a preços, estamos fora dos vinhos básicos ou populares, mas bem presentes nas gamas Premium e acima até das Luxury.
Em termos de preços, estamos fora dos vinhos básicos ou populares, mas bem presentes nas gamas Premium e acima até das Luxury.
A empresa tem uma gama de vinhos de que regiões?
As regiões nas quais a empresa tem uma gama completa de vinhos são apenas três: a região de Lisboa, onde começamos pelos vinhos de Colares; a Beira Interior, onde só produzimos vinhos biológicos; o Douro, que está na minha génese como enólogo. Depois temos vinhos de outras regiões que são projetos de paixão por vinhas incríveis que se cruzaram comigo e eu não pude deixar de as partilhar com o mundo, como um Fernão Pires do Tejo plantado em 1899; a Vinha do Quinto, na Bairrada, onde a casta Baga faz parte do seu caracter: ou a vinha da Carpanha, no Dão, que será talvez a Touriga Nacional mais antiga do país.
Qual é o vosso produto “estrela”, o que mais vende?
O vinho que mais vende de todo o portfolio é o Monte Cascas Colheita Beira Interior Biológico Tinto. Estamos agora a criar outra “estrela” o Cabo da Roca Guardião dos Oceanos Lisboa Tinto.
Qual é o vosso cliente tipo?
O nosso público é cosmopolita, talvez resultado da irreverência de produzir sem ter vinhas, e valorizar a qualidade e o caráter único dos nossos vinhos, fruto da parceria com viticultores locais, que são a essência do que chamamos terroir.
Vendem para o mercado internacional. Qual a quota de mercado que a exportação representa para a Casca Wines?
A exportação sempre foi o grande motor de crescimento da empresa, tendo já representado 75% do total das vendas. Este ano o mercado nacional vai bater o seu recorde e como existe uma retração nos mercados internacionais, estimamos que a exportação fique apenas com 55%-60% do bolo.
Quais são os principais países para onde exportam?
Os principais mercados de exportação incluem Coreia do Sul, Brasil, Canadá, Bélgica, Emirados Árabes Unidos e Angola. São seis principais países de um total superior a trinta.
A Casca Wines vende vinhos com certificação Biológica e Vegane. Em que é que consiste esse tipo de produção?
São certificações bastante distintas. A certificação biológica é garantida pelo uso de uvas em produção biológica, as quais trabalhamos na adega com regras bem restritas, que garantem a transformação destas uvas em vinho também no regime biológico. A produção biológica, de uma forma simplificada, é produzir sem utilizar ingredientes de síntese, isto é, sem utilizar produtos que não existem na natureza. Quanto à certificação vegan: não utilizamos produtos de origem animal na produção dos nossos vinhos. Parece estranho, mas desde há centenas de anos que se usam proteínas de origem animal na produção de vinhos, como a albumina do ovo, que retirámos dos nossos processos de produção.
Certificação Vegane num vinho quer dizer o quê, em concreto?
É ainda comum na produção de vinhos utilizar-se proteína de origem animal. Uma das fases de produção de vinhos – a clarificação- usa estas proteínas que são muito eficientes para “limpar” os vinhos e clarificá-los. Desde 2018 que conseguimos retirar e substituir estas proteínas de origem animal por proteínas de origem vegetal, como as proteínas com origem em ervilha ou batata.
“Estamos a produzir vinhos biológicos na Beira Interior e a marca Cabo da Roca é hoje um guardião dos oceanos”
Todos os vossos vinhos têm essa certificação ou apenas alguns?
Apenas alguns dos nossos vinhos têm essa certificação, creio que mais de vinte no momento. Mas toda a empresa já só produz vinhos vegan, no entanto não vemos necessidade de obter essa certificação em todos eles. Somos hoje uma empresa de produção 100% vegan.
Decidiram fazer um rebranding da marca Cabo da Roca? Qual foi a motivação por trás dessa iniciativa?
Por trás deste novo conceito da marca Cabo da Roca – Guardião dos Oceanos, está a vontade de garantir a sustentabilidade dos oceanos. Sendo de Cascais, tanto o Cabo da Roca como o mar são algo muito presentes na minha formação. Após iniciarmos a produção de vinhos biológicos na região da Beira Interior senti que precisava de fazer mais pela sustentabilidade ambiental; renovámos o conceito dos vinhos Cabo da Roca e transformámos os seus vinhos da região de Lisboa em guardiões dos oceanos. Somos hoje parceiros da Sailors For The Sea, que é uma organização não-governamental com sede nos Estados Unidos e com filiais em Cascais e em Tóquio, e que está ligada à Oceana – a maior organização de proteção dos mares e oceanos no mundo. Associámo-nos também à Cascaisea, que tem vindo a fazer também um trabalho incrível na orla marítima.
Decidiram eliminar a cápsula de plástico das garrafas. Isso trouxe um desafio para a linha de produção?
Quem fala de sustentabilidade dos oceanos, fala sempre em plástico. O plástico é algo muito útil para o ser humano, mas que está a ser abusivamente utilizado aqui… refiro-me à sua utilização apenas numa só vez. Quando iniciámos o processo de renovação do conceito dos vinhos Cabo da Roca, a primeira medida foi retirar a cápsula de produção que não tem qualquer desafio produtivo mas que em alguns países mostra bastantes desafios no ponto de vista comercial. Alguns países ainda pensam que não havendo cápsula o produto poderá estar falsificado. Estamos agora a avaliar o passo de retirar também a cápsula de todos os nossos vinhos de produção biológica e assim reduzir bastante a nossa pegada de plástico.
Como tem sido a resposta do público à iniciativa de sustentabilidade do Cabo da Roca?
A resposta a esta iniciativa do Cabo da Roca tem sido incrível, não só cá em Portugal, mas também no mercado da exportação. Alguns dos nossos importadores, que ainda pouco tinham explorado os vinhos da marca, viram uma grande oportunidade de garantirem também a sustentabilidade dos oceanos e, ao mesmo tempo, de poderem fazer crescer os seus próprios negócios. Tem sido maravilhoso sentir que estamos a ajudar uma causa mundial e a reforçar a nossa presença um pouco por todo o globo.
Vão dar entrada nas grandes superfícies comerciais, através da Sonae. O que esperam?
Desde o arranque deste processo de renovação do conceito do vinhos Cabo da Roca, iniciámos contactos com os líderes das cadeias de distribuição. Todos se entusiasmaram com a nossa proposta, mas os vinhos da Região de Lisboa ainda têm ainda pouco espaço nas prateleiras. A Sonae abriu, felizmente, esse espaço e torna-se no primeiro grande distribuidor a abraçar esta aventura. Estou certo que, ainda este mês, a Casca Wines poderá ser vista nas lojas grupo, reforçando a nossa missão de ajuda aos mares e oceanos.
“A Sonae torna-se no primeiro grande distribuidor a abraçar esta aventura”
Têm um contrato de exclusividade com a Sonae ou vão também fazer acordos semelhantes com outras grandes superfícies?
Não temos qualquer contrato de exclusividade até porque queremos estar presentes em todos os players da moderna distribuição. Estes vinhos representam uma causa que, pela sua grandiosidade, nos obriga a querer crescer e chegar a todos os pontos de distribuição.
Há planos para expandir a presença da marca em novos mercados? Quais?
Planeamos expandir para os Estados Unidos, Japão e fortalecer nossa presença no Brasil – que já é bastante considerável, com os vinhos Cabo da Roca. Além de tudo isto os nossos atuais clientes já iniciaram as compras e as reações têm sido muito positivas.
Vão alargar em 2024 as regiões vinícolas em que estão presentes? A quais?
O foco atual é consolidar a nossa presença nas principais regiões vinícolas, mas estamos abertos a novas oportunidades, sempre, ou a vinhas incríveis que se possam cruzar no nosso caminho, mas esse não é o propósito no momento.
Como vê 2024 e que objetivos pretendem alcançar?
Vejo este próximo ano com muitos desafios pela frente. Já tivemos uma retração na exportação que poderá provocar um arranque mais lento e demorar a voltar ao ritmo habitual. Em 2024 queremos fazer chegar aos nossos clientes, de uma forma mais próxima, os nossos vinhos Luxury, que resultam destes 15 anos a produzir vinhos de vinhas incríveis e que agora com o tempo se mostram de uma forma excecional.