O mercado imobiliário português manteve um volume de transações elevado, em 2020, com cerca de 2,6 mil milhões de euros investidos em imobiliário comercial e outros 24 mil milhões de euros em compra de habitação, de acordo com estimativas da JLL, a que a FORBES teve acesso.
Em ambos os casos, indica a empresa de serviços profissionais especializada em imobiliário e gestão de investimento, trata-se do terceiro melhor ano de sempre do mercado, uma vez que em 2019 foram transacionados 3,240 mil milhões de euros em imobiliário comercial e 25,1 mil milhões de euros em residencial. Já em 2018, foram transacionados 3,356 mil milhões de euros em imobiliário comercial e 24,1 mil milhões de euros em residencial.
Numa nota enviada à FORBES, Pedro Lancastre, diretor-geral da JLL, comenta que o ano passado começou “a todo o gás” nos diferentes segmentos do mercado e, não fosse a proliferação da Covid-19, teria sido o melhor ano de sempre para o imobiliário, quebrando novos recordes.
“Esta situação totalmente inesperada, de contornos desconhecidos e inéditos, veio impor um ritmo disruptivo em todas as esferas da nossa vida, com um impacto muito profundo na economia e, também, no mercado imobiliário”, refere.
No entanto, o gestor afirma que depois de um segundo trimestre de pânico, num quadro de absoluto desconhecimento, o terceiro foi trazendo normalidade ao setor, com as transações a acontecerem, sendo que o quarto trimestre foi já marcado por uma maior confiança e o regresso de muitos investidores ao ativo. Lancastre garante que Portugal se mantém no radar dos investidores internacionais, pois continuo a apresentar os fundamentais que antes os atraíam.
Por sua vez, Fernando Ferreira, Head of Capital Markets da JLL, considera que apesar do contexto de crise, o capital local, proveniente dos fundos de investimento imobiliário abertos e dos fundos de pensões, esteve mais ativo.
O responsável explica que os escritórios foram um dos ativos mais apetecíveis, pois mantiveram uma boa procura mesmo na pandemia, ao passo que o retalho sofreu maior escrutínio por parte dos investidores, devido ao impacto da Covid-19 na livre circulação dos consumidores, o que provocou uma quebra na performance de muitos ativos deste segmento, especialmente no que respeita os centros comerciais.
Por outro lado, avança Fernando Ferreira, o mercado residencial tem tido forte procura, incluindo os ativos para arrendamento de longo prazo, mais conhecido por multifamily, no qual a falta de produto acabado e pronto a funcionar, tem atrasado alguns processos de compra e venda. Outro segmento com muita procura, mas com falta de produto para satisfazer o apetite dos investidores, aponta, é o setor industrial e de logística, destacando ainda o crescente interesse pelos ativos imobiliários por parte dos privados, apoiado pela incerteza do mercado de ações e pelas baixas taxas de juro.
“Mercado continuará dinâmico em 2021”
As estimativas da JLL perspetivam que, apesar da pandemia da Covid-19, o mercado de investimento imobiliário, quer na vertente de aquisição para rendimento, quer na área de promoção e desenvolvimento, vai continuar “muito” dinâmico em 2021.
Pedro Lancastre considera que existe muita liquidez no mercado e, além dos investidores tradicionalmente interessados em imobiliário, as baixas taxas de juro vão direcionar novo capital para este segmento, ao mesmo tempo que o mercado em Portugal manterá os seus fatores distintivos de atratividade.
“Temos um imobiliário muito bem cotado, com um bom potencial de valorização e oportunidades muito interessantes em setores que noutros países já estão aquecidos, mas que aqui estão a dar os primeiros passos”, explica.
Na sua perspetiva, Portugal, com as características que tem, pode atrair cada vez mais talento, e, por conseguinte, mais empresas estarão a se instalarem no país, em vez de noutros pontos da Europa, podendo ainda ser um hub importante para muitas pessoas que passarão a trabalhar a partir de casa ou em teletrabalho.
No que tem que ver com a habitação, a par dos usos tradicionais, o diretor-geral da JLL assegura que estão a emergir no país projetos para novas ocupações, como as residências seniores ou de estudantes, onde o arrendamento é o segmento alvo de investimento institucional, acrescentando que outros setores como os escritórios e o retalho, especialmente, estão num momento de grande transformação, tendo de lidar com a dualidade conveniência/experiência.
Apesar disso, ressalvou que, o setor continua a ter de lidar com desafios estruturais que existiam antes da pandemia, nomeadamente os de resolver os atrasos nos processos de licenciamento e rever a estratégia para os Vistos Gold, que podem voltar a ser um catalisador importante para a retoma económica do país.
“Manter as alterações recentemente anunciadas pelo governo a este regime é uma ameaça para o setor imobiliário, pois o investimento canalizado para o interior do país, através deste veículo, será sempre muito residual”, advoga.