A The Agency foi anunciada em Portugal há pouco mais de um mês, mas já chegou como um nome conhecido pela maioria. Para os que ainda se questionam de onde a conhecem, a resposta está no catálogo da Netflix. A agência imobiliária norte-americana, fundada por Mauricio Umansky, está no centro da série “Buying Beverly Hills”.
Em Portugal, a operação vai ser liderada por Ayres Neto. Natural do Brasil, mas com nacionalidade portuguesa, sabia que queria viver no país da família do pai. “Quando cheguei a Portugal percebi no imobiliário uma excelente possibilidade de carreira”, diz à FORBES. Passou por algumas marcas até que criou o seu próprio projeto. Foi o sucesso dessa empresa que o levou até à The Agency.
Como surgiu o projeto de trazer a The Agency para Portugal?
A The Agency existe nos Estados Unidos há cerca de 12 anos e o dono da marca, o Mauricio Umansky, que aparece na série da Netflix “Buying Beverly Hills”, tinha planos para expandir para Portugal. Eu já trabalhava no imobiliário português, numa outra marca, e fui contactado pela equipa dele para ser entrevistado e conversar sobre o projeto. Ele vê, e nós também vemos, que Portugal é o país ideal para ser a entrada na Europa para a The Agency. Já existe uma operação pequena nos Países Baixos, mas a maior operação hoje na Europa é nossa. Abriu na semana passada Maiorca também e está a abrir em outros países.
Porque é que Portugal é o ideal?
Porque Portugal tem características muito únicas. Portugal tem um índice de proficiência em inglês muito alto. No sul da Europa, Portugal é o país onde mais se fala inglês, então é natural que uma marca que vem dos Estados Unidos queira usar Portugal como um case study, um princípio no processo europeu. Além disso, Portugal tem tido uma busca por clientes americanos muito grande, cresceu muito nos últimos anos. Em função do clima, infraestrutura, segurança, questões relacionadas com o sistema de saúde. Tudo isto é muito forte para os americanos. A The Agency está situada em Beverly Hills, na Califórnia, que tem um clima muito parecido com Portugal. Foi um processo natural, orgânico.
Porque é que o mercado imobiliário português é um mercado onde neste momento vale a pena investir?
No nicho de mercado a que eu me dedico, médio alto, alto e luxo, existe uma estabilidade. Existe também um fator que é os compradores no geral virem do estrangeiro, não quer dizer que não sejam portugueses, existem portugueses a voltar também. Isto traz uma certa estabilidade para o mercado, no sentido em que essas pessoas têm rendimentos no estrangeiro, têm uma condição financeira muito favorável porque trabalham remotamente, têm as suas próprias companhias. Então para eles comprarem no mercado português, com o custo de vida como o que existe em Portugal, que para eles é mais fácil, isso dá qualidade de vida que é o que eles procuram. No caso do norte europeu, muitas pessoas vêm em função de benefícios fiscais. Mas na realidade é uma variedade de fatores que faz com que o mercado seja estável, embora exista uma discrepância entre a quantidade de produto disponível e a quantidade de compradores. Isto leva a que o mercado continue em crescimento. Nos últimos anos, os valores estão sempre a subir, e isso não tende a mudar enquanto não houver um encontro entre a oferta e a procura.
A procura é muito maior?
Muito maior, não há dúvida nenhuma. Eu tenho muitos clientes que demoram dois, três, quatro meses a encontrar uma casa em Cascais, por exemplo, e têm dificuldade porque não encontram o produto disponível. O que está disponível é muito limitado e às vezes não atende as necessidades específicas daquele casal. Isso não é só em Cascais, vai por Lisboa, Margem Sul. Aroreira, por exemplo, é uma zona que tem muita procura por estrangeiros. Se for para o norte, acontece a mesma coisa no Porto, Gaia. Ou no sul, no Algarve.
Em termos de clientes, são maioritariamente os que veem de fora e não tanto os portugueses?
Isso na realidade tem duas faces. Se o comprador vem de fora, o vendedor é português no geral. Então nós focamos também no vendedor português, temos muitos clientes portugueses que estão a vender imóveis e às vezes compram outros imóveis. Por exemplo, tem uma casa em Cascais, vende a casa e compra dois apartamentos em Lisboa. O comprador estrangeiro existe, mas o vendedor é português. Assim como existem compradores portugueses que estão a voltar, já fiz muitas vendas para pessoas que veem do Luxemburgo, França, Suíça, Inglaterra. É um fenómeno de pequena dimensão, mas que está a crescer. Vejo que o número está a aumentar, de portugueses já bem estabelecidos financeiramente que voltam para criar os filhos cá e trabalhar remotamente, ou têm as próprias empresas, principalmente na área de tecnologia e informação.
Não temem que a situação económica atual no mundo possa ser um problema ou o mercado não foi assim tão afetado?
Portugal é um país de pequenas dimensões, se existe uma crise no resto do mundo, o que é que acontece? Há um lado negativo para Portugal, principalmente no mercado mais baixo, imóveis de valores mais baixos, mas tem um lado positivo que é o seguinte: as pessoas no norte da Europa ou que estão próximas ao local onde há uma guerra a acontecer ou nos Estados Unidos, decidem que é o momento de mudança e Portugal é uma escolha natural para essas pessoas. Isso não muda a pressão imobiliária no topo da pirâmide do mercado, pelo contrário, aumenta.
E a base da pirâmide?
O facto de ter uma pressão acima, também ajuda o mercado mais baixo. Por exemplo, se alguém tiver uma herança de um apartamento de um milhão de euros em Lisboa, isso é vendido a um americano, brasileiro, inglês ou francês. Esse imóvel será dividido por três ou quatro pessoas que são herdeiros, 200 e tal mil euros para cada um, e essas pessoas vão comprar imóveis mais baratos ou vão reinvestir. Isto também ajuda o mercado baixo nesse sentido. Fora isso, existem hoje dezenas de construções de prédios, isso cria um fenómeno na construção civil de pleno emprego, de pessoas que estariam a ir para o Luxemburgo, Suíça, ou outros destinos, e ficam agora em Portugal porque é um facto que os ordenados estão a aumentar na construção civil. É uma conta complexa, temos fatores positivos e negativos. Eu acho que no geral, embora seja negativo para o mundo, isto acaba por ser positivo para Portugal nesta troca de fatores, pelo crescimento da construção civil, da indústria hoteleira. O fator guerra, por exemplo: já tive clientes ucranianos abastados que disseram: “nós escolhemos Portugal, não tínhamos a menor ideia do que era Portugal, mas escolhemos porque era o país mais longe da Ucrânia na Europa”. Isso aconteceu no ano passado, houve um grande aumento no mercado de arrendamento muito em função dos ucranianos que vieram para cá.
Que objetivos traçaram a curto e longo prazo?
O objetivo inicial era a abertura da agência de Lisboa, que está agora no processo de remodelação para se adequar aos padrões The Agency, depois a agência Algarve, Cascais e Porto. São quatro agências que teremos em Portugal. Não temos interesse no franchising, isto será toda uma operação da The Agency Portugal, gerida por nós no país inteiro. Temos um objetivo claro no mercado de ser uma marca diferenciada no setor de luxo, de fornecer um white gloves service, que é tratar cada cliente, seja vendedor ou comprador, da melhor maneira possível do princípio até ao fim.
Esperam que o sucesso da agência mãe e o êxito da série possam ser uma ajuda?
Já é uma ajuda. Completamos um mês [a 7 de março], no meu plano de negócio inicial tinha alguns números a atingir no primeiro mês, nós superámos todas as metas possíveis e imaginárias. No dia 7 de fevereiro pela manhã já recebia chamadas de clientes. Nestes 30 dias recebi mais de uma centena de contactos de pessoas que querem colocar os imóveis na The Agency pela abordagem diferente que temos, pela maneira de trabalhar diferente que temos e pelo acesso ao mercado internacional. Se tens um imóvel de padrão mais alto em Portugal, esperas vender esse imóvel para o estrangeiro, então queres um canal de venda que tenha acesso a esses potenciais compradores. Isso criou essa situação de uma verdadeira vaga de pessoas a contactarem-nos para que vendêssemos os seus imóveis em função de entenderem que a The Agency tem potencial para encontrarem esse possível comprador onde quer que seja. Ao mesmo tempo viram a série, viram como a empresa trabalha, que é colaborativa, que tenta fornecer sempre o melhor serviço possível seja aos compradores ou vendedores e compraram a ideia. Basicamente tivemos um sucesso nestes últimos 30 dias muito acima de qualquer expetativa que eu poderia ter tido, e olhe que eu sou uma pessoa otimista.