Está na moda falar-se de igualdade do género? Qual a sua opinião?
Lembro-me de desde muito nova profetizar que seria uma mulher independente e que não iria precisar de homens para nada. Olhando aquela menina, para mim já era normal ser possível viver essa igualdade, acho que esse tema tem sido falado já há muitos anos, mas sem dúvida que a internet deu lhe ainda mais voz. É uma questão que será sempre assunto pois é uma realidade para muitas culturas e sociedades e em que todas elas a luta é totalmente diferente. É uma luta nossa a vários níveis, é uma luta que alguém plantou lá atrás em que as gerações vindouras terão de enfrentar. É necessário que sejamos todos vistos pelo nosso trabalho, capacidades e competência e jamais pelo nosso género.
A Rose tem una marca que se espalha pela lusofonia. Como abarca mercados tão distintos?
O facto de ter nascido em Angola, crescido em Portugal e me ter formado no Brasil já me dá uma visão um pouco mais ampla, mas sem dúvida que a arte une culturas e é isso que tem acontecido pela lusofonia face ao meu trabalho.
Como o fenómeno da pandemia afetou o seu negócio?
Eu hoje posso dizer que teve um impacto positivo. A Rose Palhares Ready to Wear existe por causa da pandemia, ela foi lançada através de máscaras bem no início do confinamento. Digo sempre, as crises têm todas um lado positivo, basta enfrentar.
“As crises têm todas um lado positivo, basta enfrentar”
Quais serão as grandes tendências para as coleções deste ano?
As pandemias, guerras e revoluções mudam o curso da história para sempre e se a moda é uma forma de leitura de uma sociedade, ela também muda. As pessoas estiveram confinadas por muito tempo e com isso houve uma grande necessidade de moda minimalista, mais sustentável, como também houve quem procurasse os excessos, as fantasias e os corpos de fora. Eu crio para a mulher real, a que gosta de estar bem vestida, gosta de ostentar o que lutou para conquistar…seja material ou saúde, a que gosta de conforto e a que todos os dias precisa de ir trabalhar, mas que adoro registar momentos. A moda é comunicação e a primeira inspiração vem sempre de mim e da minha vida pessoal. Para mim a maior tendência este ano é a saída da zona de conforto… roupas que ajudem a comunicar melhor o nosso propósito.
O que faz uma mulher ser feminina nos dias de hoje?
Eu acho que isso é muito pessoal. Para mim, ser feminina está no carisma, no impacto que tens na tua comunidade, na marca que deixas por onde passas e a moda ajuda imenso nesse aspeto. Para muitas mulheres a feminilidade está na forma de se vestir, noutras está no que elas dizem e para mim está nas batalhas que eu aceito enfrentar.
“Para mim, a feminilidade está nas batalhas que eu aceito enfrentar”
Há preconceitos no mundo da moda e com a moda. Como se pode ultrapassá-los?
Falando somente na moda… há sim, mas é como tudo. Tens que escolher as tuas batalhas para que possas decidir se é preconceito ou apenas gente a meter o nariz onde não é chamada. Falando de moda como um negócio…sim, também há. Para muitos é uma profissão fútil, mas é a moda que veste o mundo inteiro e é através dela que podemos fazer leituras face ao comportamento das sociedades e isso desde o homem primitivo até aos dias de hoje.
Que impulso precisam as mulheres africanas para serem mais empreendedoras?
Educação, identidade e união. Acesso a educação de igual modo, identidade como mulher Africana e união entre outras mulheres africanas.
O que traz na manga para este ano?
Já trouxe, abri no passado dia 11 de fevereiro a primeira loja Rose Palhares Ready To Wear, renovamos o nosso atelier e aumentamos a equipa. Contamos hoje com 22 pessoas, na sua maioria mulheres que ocupam as áreas de maior responsabilidade na marca. O meu foco agora é manter a qualidade, continuar a dar resposta ao que viemos aqui fazer, identificar possíveis negócios para expansão da marca e manter a marca que criei como referência de moda em Angola e no mundo.