São vários os fatores que estão a impactar a indústria automóvel a nível mundial. Os desafios são mais do que muitos, sendo esta uma das indústrias que mais vive na incerteza. O estudo “What Car Buyers Want: A Global Guide for Automotive OEMs”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG) analisou as preferências de cerca de nove mil consumidores em dez países e concluiu que a indústria automóvel global está a atravessar uma mudança estrutural profunda. Em suma, o setor está a ser marcado pelo avanço das marcas chinesas, pela crescente aceitação dos veículos elétricos, pela quebra na lealdade às marcas, pela evolução da condução autónoma e pela procura crescente de experiências digitais. O relatório aponta ainda que “os próximos cinco anos serão decisivos para manter relevância e competitividade num panorama que se tornou mais fragmentado, mais digital e menos previsível”.
O estudo revela, por exemplo, que apenas 35% a 40% dos europeus e dos norte-americanos pretendem voltar a comprar a mesma marca, numa próxima aquisição. No caso da China, a taxa de fidelização é de apenas 10%. Outra das conclusões é que a atração dos consumidores para os BEV (Battery Electric Vehicle), ou seja, veículos 100% elétricos, está a aumentar, já que 71% dos proprietários destes automóveis estão dispostos a repetir a compra. Por outro lado, 31% dos inquiridos estão dispostos a comprar o seu próximo veículo totalmente online.
O estudo recomenda que os fabricantes adaptem as suas estratégias regionais, reforcem as suas capacidades digitais e desenvolvam ofertas de veículos 100% elétricos acessíveis e tecnologicamente avançadas.
Segundo Carlos Elavai, managing director & partner da BCG, citado em comunicado, “Estamos a assistir a uma mudança estrutural no setor automóvel: os consumidores estão a redefinir as suas prioridades, a lealdade está a enfraquecer, as marcas chinesas estão a ganhar protagonismo e os veículos elétricos estão a consolidar a sua ascensão. Os OEM que conseguirem antecipar estas tendências, investir em tecnologia e criar experiências de cliente diferenciadoras serão os que irão liderar o próximo ciclo de crescimento”. O estudo recomenda que os fabricantes adaptem as suas estratégias regionais, reforcem as suas capacidades digitais e desenvolvam ofertas de veículos 100% elétricos acessíveis e tecnologicamente avançadas. Deverão ainda modernizar os pontos de contacto com os consumidores e reposicionar a marca num mercado em que a fidelidade já não é garantida.
Conheça, a seguir, em maior detalhe, as cinco grandes tendências que o estudo identifica:
1 – Consumidores estão mais predispostos a comprar veículos chineses
A atração dos fabricantes de veículos chineses está a aumentar, em parte devido aos preços mais competitivos que a tecnologia permite. O estudo mostra que entre 10% e 20% dos consumidores europeus consideram a compra de um elétrico chinês, ficando este valor acima da quota atual de 4% destes fabricantes no Velho Continente. Ou seja, a margem de crescimento é elevada. Se olharmos para os inquiridos no mercado brasileiro, esta intenção sobe para os 36%, e também os próprios chineses estão com mais apetência para consumir automóveis nacionais, que já representam 69% do total do mercado. Do lado oposto, apenas 7% dos norte-americanos ponderam essa aquisição.
2 – Transição para os BEV avança devagar, mas é cada vez mais firme
A generalidade dos consumidores tendem a manter o mesmo tipo de motor que têm atualmente. Ou seja, 71% dos condutores de elétricos pretendem comprar novamente um motor elétrico, enquanto que apenas 50% dos condutores de veículos não BEV planeiam manter o mesmo tipo de motor numa próxima compra. Por um lado, por causa das preocupações ambientais, mas no caso da europa, o fator principal é a poupança nos custos, enquanto que nos Estados Unidos e na China o principal fator é a tecnologia e as suas funcionalidades. No entanto, persistem ainda dúvidas em relação à autonomia, à velocidade de carregamento e custos iniciais.
3 – Fidelidade às marcas está em queda
A fidelização está a cair, sobretudo devido aos consumidores mais jovens. Nos Estados Unidos e na Europa, apenas cerca de 40% dos consumidores planeiam comprar novamente a mesma marca. Porém, no caso dos consumidores mais jovens, essa percentagem desce para os 21%, sendo que na China são apenas 10%. Os mais jovens mostram uma maior apetência para novas marcas, para novas tecnologias e para novas formas de compra.
4 – Consumidores começam a ficar rendidos à condução autónoma
Segundo o estudo da BCG, 79% dos utilizadores de veículos com funcionalidades autónomas consideram-nas úteis, e mesmo 45% quem nunca as utilizou reconhecem o seu potencial. Na China, cerca de 60% dos inquiridos referem que aceitariam viajar num táxi autónomo, mas na Europa e nos estados Unidos apenas 30% estão predispostos a isso.
5 – A digitalização tornou-se decisiva na compra
A BCG refere que a transformação digital chegou finalmente ao setor automóvel, moldando a decisão de compra e até a utilização diária. Segundo o relatório, 31% dos consumidores admitem comprar o próximo veículo totalmente online, sendo que essa percentagem sobe para os 44% no caso dos mais jovens. Acresce que os consumidores valorizam o acesso a ecossistemas digitais e opções como Apple, Android e sistemas proprietários, sendo que a maioria exige atualizações over-the-air, indicando que as funcionalidades digitais contínuas são um fator crítico na escolha.





