Instalado há três anos, o campus tecnológico do grupo Crédit Agricole, KLx, que emprega atualmente 450 pessoas, tem como objetivo recrutar nos próximos dois anos mais 300 trabalhadores. Com um volume de negócios de 31 milhões de euros em 2022, a empresa subsidiária do grupo Crédit Agricole investiu 3,6 milhões de euros no campus de Lisboa.
Numa altura em que várias empresas enfrentam dificuldades em contratar, a KLx permanece em Portugal para contrariar essa tendência, refere Elizabeth Pugeat, diretora-geral da KLx, à FORBES.
Quais são as atividades que são desenvolvidas no campus de Lisboa da KLx?
Elizabeth Pugeat: A KLx, subsidiária do Crédit Agricole, foi criada com o objetivo de fornecer competências à área de TI do grupo, dedicando-se ao desenvolvimento de aplicações bancárias e de seguros. No campus de Lisboa, onde nos instalámos em 2020, trabalhamos com as equipas de TI das diferentes empresas do grupo, num trabalho contínuo que tem como finalidade a transformação e crescimento do grupo Crédit Agricole.
Embora esteja sediada em Lisboa, a KLx trabalha para empresas que operam em cinco países europeus diferentes, sendo França o maior mercado.
Que principais projetos e iniciativas têm em curso aqui?
Na KLx, cobrimos uma vasta gama de tecnologias, desde as linguagens bancárias tradicionais de mainframe até às linguagens digitais e de dados como Java, Angular e Python, citando algumas. As novas tecnologias estão a crescer e já constituem a parte principal da nossa atividade.
Trabalhamos com várias linhas de negócio do banco, desde a banca de retalho e o financiamento ao consumo até às seguradoras, passando pelo leasing e factoring, gestão de ativos e serviços de pagamentos.
Adaptamo-nos efetivamente às necessidades dos nossos clientes em termos de desenvolvimento de software. Trabalhamos em front offices para clientes e colaboradores – temos uma aplicação online com assinatura eletrónica para clientes de seguros, por exemplo. Focamo-nos ainda em aplicações de core business; aplicações para serviços de investimento, aplicações para pagamentos utilizadas na gestão de fraudes, entre outras. Temos também projetos com dados, construímos aplicações e dashboards para monitorização de empresas, e trabalhamos no motor de uma aplicação estratégica utilizada para a análise da saúde financeira de clientes empresariais.
Quais são as metas e objetivos da empresa em termos de contratação e aumento da equipa em Portugal?
Devido ao sucesso dos nossos primeiros projetos, existem agora quatro outras empresas do grupo que estão dispostas a começar a trabalhar com a KLx.
A KLx conta atualmente com 450 trabalhadores e tem como objetivo aumentar a equipa em 300 pessoas durante este ano e o próximo.
Recrutamos perfis com grande talento que querem acompanhar o nosso crescimento e que adquirem, ao longo do processo, um extenso conhecimento das atividades dos nossos clientes.
A maioria dos perfis que procuramos atualmente são ligados a novas tecnologias.
“A KLx conta atualmente com 450 trabalhadores e tem como objetivo aumentar a equipa em 300 pessoas durante este ano e o próximo”
Esses novos elementos em Lisboa irão desempenhar que funções e ser integrados em que projetos?Os profissionais de TI que se juntarem à KLx vão integrar um projeto com um dos quatro novos clientes referidos anteriormente. Estas quatro empresas operam em diferentes setores: banco de retalho online, seguros, banca de investimento empresarial ou infraestruturas de TI.
Iremos trabalhar nos front-offices destas empresas, nas suas aplicações de negócio principais, bem como em ferramentas de produtividade. São desafios distintos, mas muito interessantes em termos de desenvolvimento de software.
Procuramos principalmente perfis técnicos, como programadores Java ou full stack, tech leads, mas também analistas de negócios e gestores de projetos para se juntarem às nossas equipas.

Com as dificuldades de contratação enfrentadas por muitas empresas atualmente, como é que a KLx vai conseguir atrair talentos em Portugal para concretizar o vosso objetivo?
Enquanto várias empresas de TI estão a enfrentar dificuldades e a despedir, a KLx pretende contrariar essa tendência e tem como objetivo crescer e alcançar 750 colaboradores até ao final de 2024.
Tal como muitas outras empresas, a KLx escolheu Portugal como sede devido ao grande número de trabalhadores de TI altamente qualificados. O país continua, indiscutivelmente, a criar novos talentos de TI e até atrai talentos do estrangeiro.
Para conseguirmos atrair estas pessoas, focamo-nos em construir uma marca forte, oferecendo vantagens competitivas e benefícios e um modo híbrido de trabalho muito flexível, com 120 dias de trabalho remoto por ano. Todos os nossos benefícios – como o seguro de saúde ou a opção de aluguer de automóveis – estão disponíveis para todos os colaboradores, independentemente da posição ou antiguidade na empresa.
“A KLx escolheu Portugal como sede devido ao grande número de trabalhadores de TI altamente qualificados”
Também investimos consideravelmente em formação para permitir que os nossos colaboradores desenvolvam novas competências e cresçam como profissionais.
Por outro lado, não estamos numa relação tradicional de cliente-fornecedor; construímos relações de longo prazo com os nossos parceiros do grupo. Trabalhamos como uma extensão das suas equipas e estamos realmente envolvidos nos seus projetos de transformação mais estratégicos. No final, acreditamos reuniras vantagens de uma empresa jovem em crescimento com a estabilidade de pertencer a um grande grupo internacional.
Referem que o multiculturalismo é valorizado pela KLx. No hub de Lisboa quantas nacionalidades têm e como é que essa diversidade da equipa impacta no ambiente de trabalho e contribui para a inovação e criatividade nos projetos da empresa?
No nosso campus, onde valorizamos a diversidade de perfis, origens e culturas, temos colaboradores de mais de 15 nacionalidades.
Acreditamos que o multiculturalismo numa empresa traz uma enorme variedade de perspetivas culturais, experiências e conhecimentos, o que se traduz num ambiente de trabalho mais dinâmico e estimulante, onde ideias diferentes são partilhadas e debatidas. A diversidade cultural ajuda a quebrar barreiras e promover a criatividade, resultando, muitas vezes, em soluções inovadoras para os desafios enfrentados pela empresa.
Além disso, uma equipa multicultural traz consigo habilidades, talentos e competências que podem complementar-se mutuamente.
Na KLx, esta diversidade promove um ambiente de trabalho onde se valoriza a troca de ideias, a abertura ao diálogo e as contribuições de todos os membros da equipa.
Quais são os principais desenvolvimentos tecnológicos em que a KLx está atualmente a trabalhar?
O nosso modelo é, de facto, adaptarmo-nos às necessidades dos nossos clientes em termos de tecnologias. No entanto, há projetos transversais em que estamos a trabalhar internamente.
Uma preocupação crescente para a KLx é a sustentabilidade das TI. O impacto do digital na emissão de CO2 é significativo e, de forma a procurar alternativas, já organizámos um hackathon verde este ano com um dos nossos parceiros. O objetivo passou por utilizar os princípios do eco-design e do eco-coding e desenvolver uma solução em 48 horas para responder a um problema do parceiro. A nossa ambição para o próximo ano é ampliar e investir na sensibilização e formação dos nossos colaboradores para este tema fundamental.
Estamos também envolvidos em todas as formações Agile/devops dos nossos parceiros.
Quais são as áreas que estão no vosso foco em termos de pesquisa e desenvolvimento futuro?
É uma das vantagens de pertencer a um grupo tão sólido como o Crédit Agricole. A inovação está de facto no ADN do grupo. Acabo de regressar do Innovation Show by CA, um evento de três dias aberto aos nossos colaboradores, parceiros tecnológicos, startups e universidades, organizado com o objetivo de promover a cultura de inovação do grupo. Tivemos nomeadamente uma intervenção do CEO mundial da IBM sobre as tecnologias futuras com impacto nos serviços financeiros.
Mais concretamente, foram investidos mais de 500 milhões em startups e empresas inovadoras. O grupo dispõe ainda de estruturas como o Data Lab, que trabalha em soluções inovadoras que integram a inteligência artificial nos serviços das empresas.
Como é que Portugal se encaixa no contexto global da KLx? Qual é a importância do país em relação às operações e estratégias da empresa?
Com o objetivo de nos instalarmos a longo prazo em Portugal, estamos a fazer investimentos significativos e a construir parcerias estratégicas com o ecossistema local. Temos, inclusivamente, como ambição tornarmo-nos num dos melhores locais para trabalhar em Portugal.
Além disso, Portugal está geograficamente bem posicionado, servindo como ponte entre vários pontos do globo, e tem-se destacado como um país com um crescente ecossistema tecnológico e uma cultura empreendedora.
“Portugal tem-se destacado como um país com um crescente ecossistema tecnológico e uma cultura empreendedora”
Além do campus de Lisboa, a KLx tem planos de realizar outros investimentos futuros em Portugal? Em caso afirmativo, quais são as áreas de interesse para esses investimentos?
A KLx investiu no campus de Lisboa 3,6 milhões de euros. Este investimento foi feito com o claro objetivo de apostar significativamente no espaço, porque acreditamos que isso contribui para o trabalho em equipa, o bem-estar e a atratividade da nossa empresa.
Um dos nossos principais objetivos, desde o início, era atrair talentos de TI altamente qualificados e os nossos resultados estão alinhados com os objetivos a que nos propusemos.
Vamos continuar a investir no nosso maior ativo: os nossos colaboradores. Desde o ano passado, duplicámos o nosso investimento em formação. Para além de oferecermos cursos de línguas a mais de metade dos colaboradores, lançámos recentemente dois percursos de formação. O percurso de entrega, para melhorar a excelência da nossa entrega aos nossos clientes, e o percurso de gestão, para dar todas as ferramentas aos nossos gestores para se tornarem melhores líderes. Também desenvolvemos comunidades de PME para partilhar conhecimentos técnicos entre as equipas.
A KLx vai estabelecer alguma parceria com instituições de ensino ou programas de formação profissional em Portugal?
Sim, concebemos o nosso percurso de gestão com o ISEG, uma das melhores escolas de gestão de Portugal. Os professores do ISEG são responsáveis pela maior parte das ações de formação no seu campus e nas nossas instalações.
Como parte do compromisso social do Crédit Agricole, também planeamos construir relações com universidades no futuro para contribuir para o desenvolvimento de competências em Portugal e atrair mais talentos para a KLx.
Quais são os principais desafios que a KLx enfrenta atualmente no mercado português e como é que pensam superá-los?
Os desafios passam, sobretudo, por combinar as novas tecnologias com os ativos existentes e desenvolver as nossas equipas com as competências adequadas.
Tal como outros, o setor financeiro/bancário continuará a transformar-se para acompanhar o aparecimento de novas tecnologias e, nos últimos dois anos, temos vindo a aceitar a mudança e a inovação, mantendo sempre os pés assentes no chão.
Pretendemos, acima de tudo, continuar a manter-nos adaptáveis e ágeis para enfrentar qualquer nova transformação que surja.