A judoca portuguesa Telma Monteiro deixou na Women’s Summit, na passada segunda-feira, uma mensagem muito clara: “Quando temos um sonho, e não tem de ser um sonho entendido por toda a gente, com trabalho e dedicação nós conseguimos sempre. Eu demorei 12 anos a alcançar o meu sonho, mas uma coisa que eu posso garantir é que é o melhor sentimento de todos. Nós temos de ser os primeiros a acreditar nos nossos sonhos e os últimos a ficar de pé a lutar por eles”.
Mas não se limitou a passar a mensagem. Ao longo do seu pitch, a atleta olímpica deixou o seu próprio exemplo como prova da sua mensagem.
Começou a sua carreira um pouco mais tarde do que é comum na modalidade, aos 14 anos. Já praticava futebol e atletismo, mas com as viagens e o tempo com a irmã e as amigas como motivação, acabou por dar os primeiros passos no judo. Inicialmente, apenas como opção de parceira de treino para a irmã. Até que começou a entender que tinha alguma facilidade em aprender a modalidade, ao mesmo tempo que a sua forma de pensar começou a mudar.
“Lembro-me de ser sinto amarelo, que é basicamente quem só aprendeu a cair, e um dia ir à praia com os meus pais e pensar: um dia eu quero ser a melhor do mundo. Agora, não achem que eu sabia o que era ser a melhor do mundo, mas eu tinha esse objetivo”, lembrou. “O tempo foi passando, chego ao meu primeiro campeonato nacional sénior, eu era júnior, e ganhei. Eu tinha percebido que ganhar o campeonato nacional sénior me permitia ir a algumas competições internacionais do circuito mundial, em que decorria o apuramento olímpico. Entretanto, fizeram-me uma entrevista e perguntaram qual era o meu objetivo e eu respondi: o meu objetivo é qualificar-me para os Jogos Olímpicos de Atenas”.
Várias vozes de juntaram para lhe dizer que isso nunca iria acontecer. “Curiosamente de treinadores homens”, lembrou. Só que aí despertaram um outro lado da atleta: “Eu acho que não acreditava a 100% que ia a esses Jogos Olímpicos em específico, mas a partir do momento que me disseram que eu não ia, isso foi automaticamente uma motivação extra”.
Telma Monteiro marcou presença nos Jogos Olímpicos de Atenas, com apenas 18 anos. Ficou em 9.º lugar e ficou extremamente triste, mas ganhou um sonho pela qual nunca deixou de lutar. Seguram-se as edições dos Jogos em Pequim e Londres e a judoca voltou a não conseguir chegar ao pódio, mesmo chegando lá com o favoritismo do seu lado.
“Ganhei várias medalhas em campeonatos do mundo e da Europa, mas sempre que chegava aos Jogos Olímpicos não conseguia ganhar a medalha olímpica. Eu tinha um sonho, mas não conseguia alcançar esse sonho”, contou.
A decisão que tomou foi iniciar o trabalho com uma psicóloga, apesar de achar que provavelmente não precisaria tanto desse passo quanto e mais treino físico, e foi aí que as coisas começaram a mudar. “Numa das sessões com a minha psicóloga, ela pergunta-me: Se tiveres que imaginar quem vai estar no pódio olímpico, quem são essas pessoas? Eu não pensei em mim, comecei a pôr outras pessoas no pódio olímpico. Foi aí que pensei: isto não faz sentido porque eu consigo vencer estas pessoas que eu estou a pôr no pódio, eu tenho que me meter a mim primeiro naquele lugar, eu vou estar no pódio olímpico. Isso foi um ponto de viragem, porque passou de um sonho para ser algo que eu via”, disse.
Não chegou lá sem uma dose extra de obstáculos. A seis meses dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, lesionou-se e teve de passar por uma cirurgia. Sabia que, se tudo acontecesse como planeado, só teria um mês antes da competição para treinar. E assim foi.
A grande diferença no Rio de Janeiro foi mesmo a mentalidade da atleta. Telma lembra-se de fazer o caminho entre a residência e o local da competição em outros anos e nunca estar confiante de que iria ganhar, mas naquele ano sabia que iria conseguir. “Felizmente esse dia chegou. Aquele era o meu sonho. Eu queria sentir o que uma pessoa que ganhava uma medalha olímpica sentia, então quando eu ganhei e me colocaram a medalha no pódio eu pensei: agora eu sei, é algo que é indescritível”, afirmou.