Quando nasceu o grupo Stratesys, e há quanto tempo está a operar em Portugal? Qual é o vosso principal foco no país?
A Stratesys nasceu há 26 anos, em 1997, tendo lançado em 2008 a sua operação em Portugal, sendo este o início da sua internacionalização. Hoje conta com presença na Alemanha, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Espanha, México, Países Baixos, Portugal e Reino Unido. O nosso foco em Portugal está maioritariamente centrado em soluções SAP de suporte às áreas de compras, Recursos Humanos, Finanças e Operações, além das áreas de desenvolvimento de soluções à medida em tecnologias SAP e não SAP. Temos ainda experiência em Process Minning e Hyper Automation, bem como aplicação de Inteligência Artificial a processos empresariais, e Cibersegurança.
“Em todas estas áreas trabalhamos com clientes nacionais e internacionais tanto em modelo de projeto fechado como em suporte a sistemas que já estejam em exploração”.
A vossa estratégia de crescimento passa por que ambições? Que futuro desenham para a vossa empresa no mercado nacional?
Este ano está a ser de consolidação e de crescimento nas novas áreas que tínhamos aberto em Portugal ao longo de 2022. Temos tido a oportunidade de participar em processos muito interessantes de otimização na gestão de recursos, ou de processos de compras, e em projetos de digitalização e desmaterialização de processos empresariais que tornam as organizações mais eficientes.
O nosso objetivo é que a Stratesys possa suportar em Portugal o desenvolvimento de projetos para o mercado nacional, mas também para os restantes países onde temos operação no espaço europeu. Isto é algo que já sucede hoje, mas que queremos escalar.
Têm 70 profissionais em Portugal… quantos pretendem ter num futuro próximo?
Nos últimos anos temos vindo a crescer consistentemente, em número de pessoas e em volume de negócios, e queremos manter esta tendência de crescimento nos 20% ao ano. A nossa experiência diz-nos que é preferível ter um crescimento paulatino, que permita garantir a total integração dos novos elementos na equipa e a manutenção de uma cultura aberta, inclusiva e de aposta no desenvolvimento e crescimento das nossas pessoas. Ainda assim, acreditamos que vamos ultrapassar a centena de profissionais até 2025.
Em que consiste a Stratesys Academy e como surgiu este programa?
A Stratesys Academy nasceu da vontade de a empresa ajudar na integração de recém-licenciados no mercado de trabalho, facilitando a ponte entre o mundo académico e o profissional. Esta vontade, associada a um contexto de certa escassez de talento com experiência profissional que nos permita suportar o nosso crescimento levou a que desenhássemos este programa.
“Acreditamos que vamos ultrapassar a centena de profissionais até 2025”, refere Tiago Lopes Duarte.
Pretende apostar na formação de recém-licenciados, em várias áreas, ajudando à sua expansão e consolidação de conhecimentos em áreas de particular interesse para a nossa atividade, bem como à sua integração no mercado de trabalho. As primeiras academias foram realizadas presencialmente em Madrid e em Barcelona e de cada uma das suas edições fomos aprendendo e refinando o modelo, sempre com o objetivo de acelerar o crescimento de todas as pessoas envolvidas, com o devido acompanhamento de pessoas mais seniores e experientes.
Surgiu em Portugal também ao mesmo tempo?
Em Portugal a iniciativa Stratesys Academy foi lançada pela primeira vez em setembro de 2022, apostando na área técnica de desenvolvimento e integração em tecnologia SAP. Foi uma primeira experiência de integração de um grupo de pessoas recém-licenciadas que tivemos o prazer de formar e acompanhar para acelerar o seu crescimento e produtividade. Foi com muita satisfação que vimos o sucesso da iniciativa e o crescimento deste grupo.
Esta segunda edição vai receber quantos licenciados em Portugal e como se vai processar esta formação?
A segunda edição vai ter dois grupos, desfasados no tempo, perspetivando-se o envolvimento de cerca de 15 pessoas. Iniciaremos com um grupo orientado à integração de soluções e desenvolvimento em tecnologias SAP, com o qual trabalharemos cerca de três semanas nas várias soluções existentes, com uma abordagem prática. No segundo grupo o foco estará em soluções SAP direcionadas à gestão de recursos humanos e de talento, sendo a abordagem similar. Ao longo dos meses subsequentes pretendemos ir envolvendo estes elementos em projetos e que obtenham a sua certificação como profissionais SAP nas áreas onde vão trabalhar.
Como se materializa a vossa parceria com a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia?
A parceria com a Universidade Lusófona enquadra-se no objetivo de sermos uma ponte entre o meio académico e o mundo profissional, facilitando a integração de talento no mercado. Permite a criação de espaços de colaboração nos quais pessoas da Stratesys possam continuar a desenvolver competências e a adquirir novos conhecimentos, contando para isso com a universidade, mas também dando oportunidades aos seus alunos de tecnologias para realizarem estágios, formações e projetos com a Stratesys.
“A parceria com a Universidade Lusófona enquadra-se no objetivo de sermos uma ponte entre o meio académico e o mundo profissional, facilitando a integração de talento no mercado”.
Assim, podem iniciar o seu contacto com o que podem vir a encontrar no mercado de trabalho ainda antes de terminarem o seu curso. Esta abordagem permite a estes alunos terem outra visão do mundo profissional e facilitar a sua integração. Também lhes dá espaço para integrarem os quadros da Stratesys após o término dos seus estudos.
Quantos jovens planeiam contratar para os vossos quadros?
Quando dizemos que queremos dar um espaço e ambiente seguro para estas pessoas aprenderem, trabalharem e crescerem connosco também nos referimos à relação contratual que estabelecemos com elas. Todas as pessoas que vão iniciar este caminho connosco entram com um contrato de trabalho sem termo e um plano de desenvolvimento e crescimento pré-definido. Este garante que o seu salário anual vai crescendo à medida que também eles se vão desenvolvendo e ganhando mais autonomia, experiência e conhecimento. Deste modo todos sabem com que podem contar, e que evolução salarial terão ao longo dos próximos 12 meses, enquanto consolidam os seus conhecimentos. Por isso são recompensados, eliminando a incerteza no curto prazo, e apostando na criação de emprego de qualidade num sector que começa a ter um impacto razoável e que tem vindo a ter uma dinâmica crescente de geração de valor na economia portuguesa.
“Todas as pessoas que vão iniciar este caminho connosco entram com um contrato de trabalho sem termo e um plano de desenvolvimento e crescimento pré-definido”.
Qual a qualidade que veem nos nossos Recursos Humanos nas áreas de TI? Porque têm tanta procura internacional?
Existem vários fatores que contribuem para esta procura internacional, onde a escassez de talento é também uma realidade. Um deles é a qualidade da formação académica que nos permite formar pessoas altamente capacitadas. Outra é a nossa cultura de procurar soluções para os problemas que nos são apresentados o que é uma qualidade particularmente apreciada nas áreas de TI. Adicionalmente, e enquanto país que sempre teve uma grande abertura para se relacionar com o estrangeiro, existe uma certa facilidade nos idiomas, na capacidade de adaptação e de trabalhar em ambientes multiculturais. Isto permite-nos obter bons resultados quando envolvidos em projetos complexos. Acresce a isto a nossa competitividade a nível de custos, quando comparados com a Europa central e flexibilidade ao nível da definição de novos modelos de colaboração com outras equipas, pessoas e países.
Como se diferenciam os nossos licenciados dos outros de outras origens? Acredito que, comparando com outros países europeus, a nossa formação é um pouco mais genérica e menos especializada na área de tecnologia, mas bastante eficiente. Esta abordagem dá-nos algumas vantagens, já que abre mais o espectro de opções que os recém-licenciados têm para iniciar uma carreira. Porém, dificulta um pouco o trabalho das empresas já que implica, em vários casos, um período de investimento na geração de conhecimento que estas pessoas não trazem. Noutros países, como Espanha ou Alemanha, procuram-se módulos que permitam mais especialização, existindo bastantes opções de mestrados em tecnologia SAP por exemplo, que é uma área de elevada empregabilidade. Por outro lado, temos uma vantagem competitiva relativamente a Espanha devido ao nível médio de proficiência em inglês que os nossos licenciados apresentam e que é em regra geral superior, facilitando a comunicação com o resto da Europa.
Como abordam a questão da falta de Recursos Humanos nestas áreas, em Portugal e nos outros países onde operam? Como pensa que se irá desenvolver esta questão?
A geração de conhecimento e formação é, e será sempre, um fator de preocupação para indústrias que são altamente dependentes de pessoas, como é o nosso caso. A tecnologia é um sector que tem vindo a crescer sustentadamente o que se pode justificar pela sua omnipresença nas nossas vidas. Poucas interações temos no nosso dia a dia que não sejam com algo que contém, em alguma medida, tecnologia. Até as interações pessoais são muitas vezes suportadas com recurso a tecnologia. Ora, esta omnipresença requer que existam pessoas capacitadas e disponíveis para desenvolver soluções, programas ou aplicações, e depois para as manter. Sempre que automatizamos uma tarefa e reduzimos tempos pouco produtivos de pessoas que realizavam tarefas repetitivas e de pouco valor acrescentado, geramos também uma necessidade de que alguém acompanhe e faça a manutenção dessa solução de automatização, e a sua evolução ou resolução de erros. Historicamente a solução para este problema passava por formar mais pessoas com um conjunto de competências que permitam realizar estas tarefas técnicas, gerando assim escassez de talento e conhecimento no mercado.
“A tecnologia é um sector que tem vindo a crescer sustentadamente, o que se pode justificar pela sua omnipresença nas nossas vidas”.
Acreditava-se que os perfis de desenvolvimento e programação seriam os mais necessários, o que pode vir a revelar-se pouco acertado. A introdução de inovações disruptivas como a Inteligência Artificial Generativa pode influenciar em grande escala esta balança, uma vez que veio introduzir um elemento escalável e capaz de automatizar a própria geração de código. Não creio que vá ser um substituto de pessoas, mas sim um complemento. Complemento esse capaz de equilibrar a balança, tornando o trabalho individual de cada elemento das equipas de desenvolvimento mais eficiente e de maior valor acrescentado. Assim, derivam o seu foco e tempo para a resolução de problemas complexos e de integração ou arquitetura, em vez de investirem tempo na codificação de soluções por vezes simples, ou na deteção de erros que consomem tempo e geram pouco valor. A procura por talento não deixará de existir, mas a definição de talento e as competências nas quais essa definição assenta serão uma vez mais redesenhadas pelo que a tecnologia pode acrescentar e o valor que podemos gerar, aproveitando essas capacidades.