O Instituto Superior Técnico e empresas de mármore no Alentejo estão a desenvolver um digitalizador que, através da inteligência artificial (IA), permitirá ‘ver’ o interior dos blocos e prever as cores e desenhos das chapas a serrar.
A tecnologia destinada ao setor nacional da pedra natural está a ser desenvolvida pelo Departamento de Engenharia de Recursos Minerais e Energéticos (DER) do IST e consiste num “digitalizador de blocos de mármore até 25 toneladas”.
Este, “através de IA, vai permitir prever a textura interior” desse mesmo mármore, “antecipando as cores e os desenhos dos veios que as placas poderão apresentar depois de cortadas”, explicou hoje o IST, em comunicado.
“Esta funcionalidade irá revolucionar o mercado global do mármore, colocando na vanguarda mundial os grupos empresariais portugueses que nele competem”, afiançou.
O trabalho, por enquanto, decorre “à escala laboratorial” na fábrica do Grupo Galrão, em Pero Pinheiro, no concelho de Sintra (Lisboa), mas com duas pedreiras de mármore no Alentejo, uma no concelho de Estremoz e a outra em Pardais, no vizinho concelho de Vila Viçosa, no distrito de Évora.
O projeto, financiado por fundos comunitários, nomeadamente do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), envolve ainda os grupos A. Bento Vermelho e Marmocazi, que têm “grandes pedreiras” nessa zona alentejana, e duas tecnológicas especializadas em pedra natural.
Em declarações à agência Lusa, Paulo Diniz, administrador do Grupo Galrão, explicou que a fase de testes laboratoriais em curso na fábrica da empresa deverá terminar “em 2025”, sendo depois o digitalizador de blocos montado nas suas pedreiras.
“Na fábrica, estão a ser feitas fotos de miniblocos e, depois, esses são serrados em minichapas”, as quais “são fotografadas para forçar o algoritmo a melhorar-se a si próprio, pela experiência”, ajudando-o “a ficar mais inteligente”, indicou.
Ou seja, “o que está a ser desenvolvido é um sistema que vai prever o que está dentro de cada bloco” de pedra de mármore, antes de ser necessário serrá-lo em chapas.
Paulo Dinis realçou que “a finalidade” passa por aplicar isto à escala industrial, isto é, fazer fotografias das faces dos blocos de mármore nas pedreiras e, “utilizando um algoritmo de inteligência artificial, tentar prever como é que as chapas vão sair”.
“Portanto, é saltar aqui um passo, porque, hoje em dia, nós só temos a certeza disso depois de serrar o bloco”, comparou.
O administrador do Grupo Galrão, que revelou que a ideia é, “a partir de 2026, ter esta tecnologia a funcionar para o mercado”, defendeu que a ferramenta vai permitir “poupar matéria-prima e ter menos desperdícios” nas pedreiras.
“O mármore português tem uma variação muito grande e há sempre surpresas. Hoje, fazemos este trabalho pela experiência e corremos um risco, mas, se tivermos uma ferramenta que nos ajude a ter um grau de certeza maior, vai permitir-nos serrar com a certeza de que [a pedra] serve para aquele trabalho”, frisou.
E, além disso, o digitalizador, que “para as pessoas comuns pode ser descrito como um ‘raio-X’ a cores das pedras”, também permitirá “pegar no ‘stock’ imenso” de pedra que as empresas têm e “transformá-lo num ‘stock’ virtual de chapa, sem necessidade de serrar os blocos”.
“Podemos prever o que vai sair desses blocos e criar um catálogo virtual que, através da Internet, será fácil de disponibilizar ao mercado mundial”, sublinhou.
“Como o padrão visual das placas depende do lado pelo qual se começa a cortar a pedra” esta simulação digital que está a ser desenvolvida “irá permitir visualizar, com precisão, toda a variedade de padrões diferentes que pode ser obtida a partir de um só bloco”, afirmou Gustavo Paneiro, investigador e docente do DER do IST.
Desta forma, os clientes das empresas portuguesas de pedra natural, “sejam eles arquitetos, decoradores ou consumidores finais”, vão poder ter “à sua disposição milhares e milhares de padrões num catálogo virtual” e “será a sua escolha que irá determinar exatamente a forma como cada bloco será cortado”, disse.
Uma funcionalidade que “tornará as empresas parceiras do Instituto Superior Técnico muito mais eficientes e, por isso, competitivas no mercado mundial da pedra natural”, argumentou o investigador, citado no comunicado do IST.
Lusa