Nasceu no Brasil há 45 anos, mas tem raízes europeias. Dona de uma beleza natural, é de origem lituana – mas teve também avós polacos e russos -, pelo que tem dupla nacionalidade. Tatiana Vieira é hoje dona do projeto A Florista, no Parque das Nações, em Lisboa, uma boutique floral de bouquets de luxo, taylor made, personalizados e únicos, que utiliza as flores mais exclusivas do planeta. A empreendedora refere que deve ser a única em Portugal a fazer arranjos com as famosas rosas David Austin, também conhecidas como english roses, as mais cheirosas e caras do mundo, um projeto onde foram investidos cerca de 200 milhões de libras (cerca de 234 milhões de euros), e assinadas pelo seu autor. Eram estas as rosas favoritas da falecida Rainha Isabel II, e são também as escolhidas por muitas outras celebridades.
Aberta em 2021, A Florista já conquistou o mercado nacional na arte floral. Os bouquets de Tatiana Vieira começam nos 45 euros, mas podem ir parar facilmente aos 500, 750 e até mil euros, no caso dos ramos feitos apenas com as rosas David Austin, como o bouquet composto apenas por cem destas exclusivas flores. Além disso, usa inúmeras plantas tropicais, que importa sobretudo da América do Sul, do México e de outros pontos do mundo. Na Europa, os seus fornecedores são portugueses, do Montijo, mas também de Inglaterra, dos Países Baixos, da Dinamarca e da Itália. Os clientes, entre particulares e empresariais, são sobretudo estrangeiros: ingleses, americanos, escoceses, russos, ucranianos, mas também portugueses, que, são muito leais à marca. Para já, e para manter a qualidade premium do seu produto, apenas faz entregas na área da Grande Lisboa, em carrinha própria, com hora marcada. Fornece, além de clientes particulares – que até levam as suas jarras de cristal murano ou Vista Alegre -, clientes empresariais, como hotéis, para os quais fazem arranjos semanalmente, ou empresas e eventos corporativos. Casamentos não fazem. “Já ensinamos, na nossa escola, muitos formandos a fazer arranjos para casamento, e, portanto, não nos dedicamos a esta área”, revela Tatiana Vieira.
Conta, com simplicidade, que, em dias especiais, chegam a esgotar todas as flores que compraram para ocasião. “No Dia da Mãe, em maio, compramos mais de 4 mil flores e, no sábado, as flores acabaram eram 3 horas da tarde. Não chegaram sequer ao domingo”, graceja. As flores são vendidas, muitas delas em sacos de cartão personalizados, com laço de cetim, e revela que, no último ano e meio, já vendeu mais de seis mil destes sacos.
Com o sucesso que a boutique de flores alcançou, e como havia inúmeros pedidos de formação, a empresária acabou por lançar um novo negócio, o seu mais recente bebé: uma escola de artes florais, que inaugurou em outubro do ano passado, e pela qual já passaram mais de 300 alunos. São sobretudo pessoas que querem abrir o seu próprio espaço de arte floral e que procuram formação nesta área, muitas são até mulheres que planeiam uma mudança de vida para depois dos 40 ou 50 anos, como, aliás, aconteceu à própria Tatiana, que já foi executiva em vários projetos, nomeadamente CEO da empresa que fundou no Brasil há quase 26 anos. Mas essa parte, contaremos mais em baixo.
A história de uma vida muito preenchida
Extrovertida, dinâmica, empenhada, motivada e muito, mas muito, trabalhadora, Tatiana Vieira veio abrir o seu projeto de sonho em Portugal depois de ter sido uma reconhecida e premiada executiva no seu país de nascimento. “Tive uma infância difícil, solitária – sou filha única e a família estava dispersa -, comecei a trabalhar muito cedo, aos 14 anos, mas foi isso que me deu bons hábitos. A minha vida é trabalho e estudo”, assume. O seu currículo é tão vasto que vamos passar por cima de algumas das suas formações: é licenciada em Gestão de Empresas, curso que conciliou com o trabalho e já com a criação da sua empresa especializada em soluções de seguros de saúde empresariais, que fundou em 1998, a Vichiwork – Benefícios e Treinamentos. Foi ainda presidente da ONG com o seu nome, dedicada a capacitar jovens das favelas de ferramentas para o empreendedorismo, e que foi premiada pela Secretaria da Educação, ao lado de empresas como a Microsoft – organização que, infelizmente, decidiu fechar quando veio para Portugal, porque não conseguia estar envolvida diretamente. Diz até que foi o que mais lhe custou em deixar para trás no Brasil.
Como toda a sua vida foi dedicada aos estudos fez ainda especializações em Women Leaders, em Standford, em Negócios Sociais e Inclusivos, na ESPM, em Especialização em Negociação, em Consultoria de Imagem, e já em Portugal na Nova SBE, em Gestão de Empresas Familiares e de Corporate Governance. Fez ainda uma formação em Coach Internacional, tendo já dado muitas horas de coach, que conciliava com a sua vida de executiva. Foi ainda diretora de Pessoas e Benefícios, na Mitsubish Motors.
Tudo começou quando, aos 19 anos, – trabalhava então, desde os 17 anos, no telemarketing das Casas André Luiz, uma entidade filantrópica que angariava dinheiro para crianças com deficiência física e mental -, nas suas férias, conviveu com a atividade seguradora, numa corretora associada à Bradesco, onde a mãe trabalhava. Apercebeu-se que havia falta de gestores para a área dos seguros de saúde dirigidos ao mercado empresarial e tomou a iniciativa de falar com a diretora desta área e de começar a aprofundar conhecimento. “Eu, sempre muito atenta e curiosa, vi ali uma oportunidade. O corporativo deveria dar mais dinheiro do que fazer seguros individuais, e comecei então a estudar esse mercado”, explica. “Devorei livros, tudo numa semana, comecei a fazer cursos na Bradesco, e disse à minha mãe que ia largar a Casas André Luiz para abrir uma empresa de consultoria em benefícios focada em atendimento premium e que iria vender seguros de saúde empresariais”, explica. Relata que, um dia estava nessa sucursal da Bradesco e surgiu a indicação de que havia uma reunião com um consultor headhunter que veio de Nova Iorque, e que queria consultoria nos seguros de saúde empresarial. Era para a AIG que iria entrar no Brasil e necessitava de seguros de saúde para todos os executivos. O Senhor Armando, como lhe chama, atualmente já com 80 anos, estendeu-lhe a mão e ela apresentou a sua proposta.
Foi assim que surgiu o seu primeiro projeto pessoal, em 1998, a Vichiwork (o nome foi este porque todos lhe chamavam Vichi, diminutivo do seu sobrenome do meio, Vissnievki). O arranque da empresa foi um sucesso e durante 10 anos dedicou-se a ela e aos estudos. Porém, esta era uma rotina cansativa. “Sempre foi uma atividade muito stressante e a minha rota de fuga foi estudar design floral, sempre adorei flores para consumo próprio. Eu viajava para estudar design floral e fui sempre aplicada, estudava a sério, comprava livros, comprava material, cursos de imersão, e estudava dias e dias, porque já tinha planos para fazer uma mudança de carreira”, revela.
Assim, em 2014, abriu uma primeira loja em Alphaville, bairro em São Paulo onde morava, que fez enorme sucesso. Contudo, e como conciliava com a empresa e, tinha decidido, entretanto, aceitar uma proposta para trabalhar para a Mitsubish Motors, acabou por ser demasiado pesado e fechou essa loja. Em 2018, Tatiana e o marido, pais de dois filhos – atualmente com 14 anos e 20 anos -, decidiram que o mais velho viria estudar para Portugal e começaram a planear a sua vinda para Europa. Decidiram instalar-se no Parque das Nações e aí abrir a sua loja, retomando o seu sonho de ser florista. O negócio em Portugal está a crescer e terá novidades já no próximo Outono. No Brasil, a empresa continua, mas Tatiana já não é CEO, mantendo-se no negócio como administradora não executiva. A liderança ficou agora repartida entre a sócia Tatiana Oliveira e o marido de Tatiana.
Adora cozinhar para toda a família e faz uma feijoada brasileira como ninguém. O seu maior sonho é ser avó, e diz que já se está a preparar para isso. Já fez muitas viagens em toda a sua vida, mas ainda não conseguiu realizar a dos seus sonhos: ir à Lituânia e à Polónia, conhecer as raízes familiares.