O foco no fator humano assume-se, cada vez mais, como o principal elemento na criação de valor acrescentado para as empresas e muitos líderes estão a encetar esforços para transformar esta perceção em estratégias concretas que permitam alavancar o potencial humano. A conclusão é do estudo Global Human Capital Trends 2024 da Deloitte, que identifica as principais tendências a nível de capital humano e recursos humanos no contexto empresarial.
A edição deste ano destaca que as organizações devem adotar uma abordagem de “sustentabilidade humana como forma de melhorar os resultados para os trabalhadores, clientes e sociedade em geral”.
De acordo com Nuno Carvalho, partner da Deloitte, “apesar de assistirmos a uma aceleração geral da utilização da tecnologia, muito potenciada na área da inteligência artificial, deverá existir uma consciência real da importância do papel que as pessoas têm nas organizações e na sustentabilidade das empresas. Essa poderá ser a chave para o sucesso das organizações, numa altura em que as abordagens tradicionais da forma como trabalhamos caem em desuso. É cada vez mais um fator crítico de sucesso apostar na sustentabilidade humana das organizações, dos mercados e da sociedade como um todo”, acrescenta.
A Deloitte destaca a importância de se dar prioridade à “sustentabilidade humana”: a capacidade de criar valor em benefício das pessoas em vez de olhar para elas como fonte de valor.
A Deloitte refere que esta “sustentabilidade humana” é, hoje em dia, não apenas um “nice to have”, mas um “must have” para que as empresas possam obter melhores resultados financeiros e criar um impacto positivo na sociedade: “Afinal de contas, são os seres humanos, mais do que quaisquer ativos físicos, que impulsionam o desempenho e o crescimento das organizações”.
O Global Human Capital Trends 2024 da Deloitte identifica algumas tendências que mostram como uma combinação de resultados empresariais e humanos desempenha um papel importante no sucesso organizacional.
Uma delas é o valor da sustentabilidade humana exige que as organizações se concentrem menos no quanto as pessoas beneficiam as organizações, e mais no quanto a sua organização pode beneficiar as pessoas. Mais de metade das organizações (76%) reconhece a importância da sustentabilidade humana para o seu sucesso – mas apenas 46% afirmam estar a fazer algo para abordar esta questão.
O estudo conclui que apenas 10% da força de trabalho e 22% dos líderes concordam que as suas organizações estão a acrescentar valor para os colaboradores, havendo espaço para oportunidades de melhoria.
“O estudo deste ano torna claro que as organizações que conseguem colmatar essa lacuna têm quase o dobro da probabilidade de alcançar os resultados financeiros desejados e o dobro da probabilidade de alcançar resultados humanos positivos”, refere a Deloitte. No entanto, salienta a consultora, “a quantificação do progresso nesta área também pode ser difícil de medir, com apenas 19% dos líderes a afirmarem ter métricas muito fiáveis para medir a componente social do ESG e 29% a afirmarem que têm um entendimento claro de como o conseguir”.
A Deloitte afirma ainda que existe uma lacuna entre as perceções dos líderes das empresas e dos trabalhadores: “Apesar de 89% dos executivos dizerem que a sua organização está a promover a sustentabilidade humana de alguma forma, apenas 41% dos trabalhadores inquiridos dizem o mesmo, e só 43% afirmam que as empresas onde trabalham os deixaram em melhor situação do que quando começaram. Quanto aos obstáculos enfrentados pelos trabalhadores, 53% identificaram o aumento do stress no trabalho como o principal desafio, seguido da ameaça de a tecnologia absorver os empregos (28%)”.
Um olhar diferente para as métricas de produtividade
À medida que o trabalho se torna mais colaborativo e exige competências mais sofisticadas e menos quantificáveis, as métricas tradicionais de produtividade estão a perder a sua eficácia, adverte a Deloitte: 74% dos inquiridos assumem que procurar melhores formas de medir o desempenho dos trabalhadores para além da produtividade tradicional é muito ou extremamente importante, no entanto, apenas 40% afirmaram estar a fazer alguma coisa e apenas 17% consideram que a sua organização é eficaz na avaliação do valor criado por cada trabalhador para além das métricas tradicionais.
Importância das microculturas no ambiente de trabalho
A maioria das grandes organizações continua a seguir o modelo de uma cultura organizacional única, fixa e uniforme, imposta a partir da direção, na qual os trabalhadores têm de se enquadrar. Mas, de acordo com o estudo, esta abordagem tradicional da cultura corporativa de tamanho único está ultrapassada e é ineficaz para a força de trabalho atual, mais diversificada e autónoma.
A tendência inversa será no sentido de as organizações capacitarem diversas microculturas locais adaptadas às necessidades de cada equipa, mas que ainda assim se mantenham fiéis aos valores organizacionais fundamentais.
Neste sentido, as organizações que adotarem este modelo de microculturas têm 1,8 vezes mais probabilidades de alcançar resultados humanos positivos e 1,6 vezes mais probabilidades de alcançar os resultados comerciais desejados, aponta esta análise.