Sustentabilidade ambiental nas empresas em Portugal? “A mudança tem sido lenta”

Qual é o retrato que faz do tema da sustentabilidade ambiental nas empresas em Portugal? As empresas portuguesas estão alinhadas com as metas globais de transição climática e descarbonização? Filipa Pantaleão, Secretária-geral da BCSD Portugal: O retrato a pintar é misto: reconhecemos progressos significativos (impulsionados pela legislação europeia, fundos e maior consciencialização), mas devemos ressalvar…
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Neste Dia Nacional da Sustentabilidade, que se assinala a 25 de setembro, Filipa Pantaleão, secretária-geral da BCSD Portugal, faz para a Forbes um ponto da situação de como os princípios ESG estão a ser aplicados pelas empresas nacionais e do que falta ainda fazer.
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Qual é o retrato que faz do tema da sustentabilidade ambiental nas empresas em Portugal? As empresas portuguesas estão alinhadas com as metas globais de transição climática e descarbonização?
Filipa Pantaleão, Secretária-geral da BCSD Portugal:
O retrato a pintar é misto: reconhecemos progressos significativos (impulsionados pela legislação europeia, fundos e maior consciencialização), mas devemos ressalvar que a mudança tem sido lenta, e que há desafios estruturais por resolver. As empresas são (e devem ser) o motor da transição, mas é preciso mais compromisso e aceleração para alinhar com metas climáticas.

“As empresas são (e devem ser) o motor da transição, mas é preciso mais compromisso e aceleração para alinhar com metas climáticas”.

As empresas portuguesas falam mais (de sustentabilidade) do que, efetivamente, fazem (com a tomada de medidas concretas) em prol da sustentabilidade ambiental?
Existe um crescimento do discurso (maior visibilidade do tema e áreas/funcionalidades de ESG – Environmental, Social and Governance, nas empresas), mas a sustentabilidade é um processo contínuo, que exige traduzir estratégia em ações concretas – e que, inevitavelmente, deve estar alinhada com o modelo e estratégia de negócio.

É fundamental as empresas terem estruturas dedicadas para que o discurso se transforme em planeamento e ações reais e concretas. Ou seja: há risco de “falar muito”, mas a solução passa por institucionalizar práticas e métricas.

“A sustentabilidade é um processo contínuo, que exige traduzir estratégia em ações concretas”.

As empresas já veem o investimento em ESG como uma vantagem competitiva ou ainda há muito a ideia de que é um custo que só atrapalha?
Felizmente, o ESG é cada vez mais visto como um instrumento de gestão e uma fonte de valor (não só custo). Integrar o ESG no desenho da estratégia cria resiliência e vantagens competitivas, ainda que, em alguns casos, prevaleça a visão de custo, especialmente onde faltam capacidades internas ou incentivos financeiros claros.

Em suma: há uma clara e crescente tendência para ver o ESG como vantagem – como, aliás, é a visão do BCSD Portugal –, mas ainda se verifica uma grande heterogeneidade entre empresas e setores.

Quais são os setores em Portugal que estão mais avançados nesta transição para uma menor pegada carbónica das suas atividades e quais enfrentam maiores dificuldades?
Alguns setores (ex.: energético, algumas indústrias grandes/empresas com cadeias de valor internacional) já têm trajetórias mais definidas por causa de regulação, investimentos e escala.

Por outro lado, setores com muitas PME, cadeias complexas ou forte dependência de combustíveis fósseis (algumas indústrias tradicionais, mobilidade, certos segmentos da construção), enfrentam maiores dificuldades e precisam de apoio técnico/financeiro.

As políticas e instrumentos que apoiem a transição de setores mais frágeis são fundamentais para construir este caminho. Sem esquecer o papel (e responsabilidade) que as grandes empresas têm para apoiar a transição da sua cadeia de valor.

“As políticas e instrumentos que apoiem a transição de setores mais frágeis são fundamentais para construir este caminho”.

Que mensagem deixa às empresas portuguesas para os próximos cinco anos? Onde deveríamos estar em 2030?
Acelerar – integrar ESG na gestão (e não só em comunicação), investir em transição (tecnologia, formação, inovação), medir e reportar (dados e metas concretas) e colaborar (setor público-privado, cadeias).

O que esperamos que aconteça em 2030 é que as empresas tenham metas de descarbonização alinhadas com os objetivos europeus, planos de adaptação, relatórios robustos, e que a sustentabilidade seja parte do core business, e não um extra. Para isso, é vital uma ação coletiva entre todos os stakeholders (empresas, governos, reguladores, etc.), bem como o uso de instrumentos financeiros e regulatórios para tornar a transição possível, garantindo que ninguém é deixado para trás.

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