Para a Supergoop, o momento da verdade chegou em 2010, quando Holly Thaggard celebrava o Dia de Acção de Graças com a família. Quatro anos antes, ela fundara um negócio de protectores solares que tinha como público-alvo as escolas do seu país, mas a empresa estava num impasse.
Desesperada, Thaggard concluiu que precisava de cerca de 20 mil euros para fazer o pitch do seu produto numa feira da especialidade em Nova Iorque – um investimento elevado para uma empresa cujas vendas anuais não ultrapassavam os 40 mil euros. “O meu pai acabou por passar um cheque e disse-me: ‘Não desistas e vai atrás do teu sonho”, recorda Thaggard.
Foi precisamente o que ela fez, num misto de sorte e coragem. Apesar de a feira não ter dado o empurrão que Thaggard queria, a ajuda da família fez a diferença. Actualmente, a Supergoop é distribuída pela Sephora, Bluemercury, Birchbox e Nordstrom, e as vendas poderão ultrapassar este ano 17 milhões de euros. Mas os desafios são mais do que muitos.
Os grandes players da indústria de beleza têm vindo a engolir as start-ups inovadoras, uma tendência que pode jogar a favor da Supergoop. Mas convém não esquecer que a beleza é um mercado volúvel e que a luta pelo “espaço na prateleira” é constante.
A pequena empresa – emprega cerca de 40 pessoas no Texas e em Nova Iorque – tem crescido rapidamente e investido forte em marketing, mas ainda não é rentável. A sua fundadora mostra-se convicta de que a rentabilidade vai estar na agenda já na próxima reunião da administração.
Fazer como ninguém
Nos EUA, o segmento dos protectores solares tem sido dominado por players de peso como a Coppertone, Banana Boat e Neutrogena, focados essencialmente nas férias estivais.
Mas como o interesse dos consumidores por ingredientes naturais e marcas jovens tem vindo a crescer em todos os segmentos, é natural que start-ups como a Supergoop conquistem mais quota de mercado.
A empresa de Thaggard nasceu com um objectivo: criar produtos inovadores de uso diário e que não fossem demasiado gordurosos, aromáticos ou espessos, como outros protectores solares.
A ideia era ter um protector que se conseguisse impor naturalmente na rotina, como o perfume, a maquilhagem ou o after-shave, sem incomodar o utilizador. “Ser um ritual, não uma tarefa”, como afirma a empresária à FORBES.
No ano passado lançou a sua linha de protectores solares nas lojas Sephora a Oriente, em Singapura, Malásia e Tailândia. Entre muitos outros países, também em Portugal é possível aceder aos produtos da Supergoop nesta rede de lojas.
O sucesso das vendas tem também sido acompanhado pelos investidores que, já este ano, acorreram à última ronda de financiamento da empresa, desembolsando mais de 7,4 milhões de euros.
Na empresa de Thaggard, o primeiro produto desenvolvido, um protector de factor 50 chamado Everyday Sunscreen, continua a ser um sucesso.
A norma é comum aos restantes produtos: fazer protectores como nunca ninguém os fez. São várias as referências de produtos, designadamente uma gama de cremes e géis que não deixam rastos brancos nas peles claras ou, nas mais escuras, manchas em tons de cinza.
Na diversidade de produtos há, por exemplo, o Glow Stick, um prático roll-on que se passa na pele num esfregar de olhos, e o spray refrescante para o rosto. As clientes têm produtos distintos caso queiram usar o “escudo” solar antes ou depois de aplicarem a maquilhagem.
A empresa de research Euromonitor International prevê que, este ano, as vendas no segmento dos protectores solares no mercado norte-americano possam atingir cerca de 1,8 mil milhões de euros, um valor acima dos 1,3 mil milhões de euros registados há dez anos.
No entanto, esta previsão não contempla o potencial global da protecção solar, componente que hoje integra um número cada vez maior de produtos e que faz com que a linha que separa os produtos que protegem do sol e daqueles que cuidam da pele seja cada vez mais esbatida.
Estamos a falar de um mercado global avaliado em mais de 100 mil milhões de euros e, se tivermos presente que os casos de cancro da pele têm vindo a aumentar – apesar de ser aquele em que o ser humano tem melhores armas de prevenção –, então a ambição de Thaggard de vender protectores solares o ano inteiro parece ter pernas para andar. “Parece-nos plausível que a empresa chegue à fasquia dos 100 milhões de dólares [cerca de 86 milhões de euros]”, diz John Kenney, co-fundador do JMK Consumer Growth Partners, um dos investidores da Supergoop.
Em breve, a administração da empresa terá de decidir qual o caminho que quer seguir: crescer através da rede retalhista existente ou enveredar pela massificação.
“São raras as marcas de produtos para a pele que conseguem vingar quando passam a fasquia dos 50 milhões de dólares” (cerca de 43 milhões de euros), alerta a co-fundadora da Bluemercury, Marla Beck.