A StoresAce é uma empresa portuguesa, sediada na Maia, responsável pelo desenvolvimento de uma plataforma de gestão multi-loja, que está a conquistar e a alavancar grandes retalhistas, como o Grupo Jerónimo Martins, a Hussel e a Burger King Iberia.
Assente na cloud, a solução da StoresAce permite uma visão flexível, e em tempo real, do que se passa nas redes de lojas. A tecnologia responde, assim, a alguns dos principais desafios do setor, particularmente às marcas com centenas ou mesmo milhares de lojas próprias e franchisadas, com negócios diferentes, mas a requererem uma gestão global, unificada.
Este posicionamento está a permitir um crescimento orgânico da StoresAce que, este ano, vai consolidar-se com a internacionalização e a ampliação da equipa.
Em termos de números, a StoresAce tem atualmente 400 clientes, com mais de duas mil lojas (distribuídas por Portugal, Espanha e Angola e Cabo Verde.
De acordo com a empresa, no total de 2021, os clientes da plataforma registaram 1,5 mil milhões de euros em vendas.
Sérgio Rodrigues, CEO da empresa, explica que, em faturação, o objetivo é, até dezembro, duplicar os resultados de 2021, alcançando os 600 mil euros, e atingir os 1,5 milhões de euros em 2023.
O responsável da empresa anuncia ainda à FORBES que a StoresAce irá preparar uma ida ao mercado para reforçar o seu crescimento.
Em que consiste a solução da StoresAce?
Sérgio Rodrigues (SR): A StoresAce é uma solução de gestão multi-loja, que permite trabalhar desde a base da operação até aos gestores de topo, passando por todos os níveis intermédios. Alojada na cloud, funciona online e permite um controlo total de uma rede de lojas em tempo real, em qualquer lugar e em qualquer momento, o que confere grande flexibilidade e fiabilidade aos utilizadores. Até ao surgimento da StoresAce, as empresas estavam a utilizar várias ferramentas e necessitavam de muitos recursos para produzir dados, sendo que depois sentiam dificuldade em geri-los de forma a que isso os ajudasse a tomar melhores decisões de negócio. Nós identificámos esta lacuna no mercado e criámos uma resposta especializada de forma a que estes possam funcionar até de forma preditiva.
Quais os aspetos, em concreto, que podem ser geridos através da vossa plataforma?
SR: Somos uma plataforma multi-loja, uma vez que, no retalho tradicional, uma empresa com diversas lojas poderá ter problemas de escala que não existem quando possuem apenas algumas unidades ou, quando o seu modelo de negócio passa pelo comércio eletrónico. Desafios tais como manter uma tabela de preços constante em situações variadas – lojas no litoral e no interior do país, em diferentes regiões fiscais ou em línguas diferentes -, tornam-se de gestão simples quando se recorre a uma plataforma como a StoresAce. Conseguimos, igualmente, garantir o acompanhamento dos stocks online de centenas de lojas, para podermos aceitar encomendas Pick Up in Store, o que só é possível com sistemas que tenham nascido de base para resolver questões desse tipo, tanto em termos de arquitetura como em termos de desenvolvimento. A StoresAce é uma plataforma de gestão omnicanal, na qual se podem gerir canais físicos e digitais no mesmo sítio e da mesma forma, mas que, além disso, resolve os problemas da escala, recorrente em muitas lojas físicas. Por outro lado, sendo uma plataforma de nova geração, é muito data-driven, ou seja, foca-se bastante na gestão dos dados, sendo que estes existem em abundância, principalmente se os clientes tiverem muitas vendas – contrariamente a soluções que existem no mercado que preferem transferir os seus dados para sistemas externos, por falta de capacidade para os gerir. Nós mantemos esses dados para, no futuro, termos a capacidade de ajudar os clientes multi-loja, uma vez que são os que geram mais dados, com mecanismos de machine learning, em tarefas como a otimização das compras e stocks, a previsão de vendas e as necessidades de equipa.
“Conseguimos, igualmente, garantir o acompanhamento dos stocks online de centenas de lojas, para podermos aceitar encomendas Pick Up in Store”
Trata-se de uma tecnologia desenvolvida exclusivamente em Portugal? Quantos elementos tem a equipa?
SR: A equipa responsável pela criação da solução é 100% portuguesa. Estamos, desde o início, sediados na Maia e temos, atualmente, uma equipa de 15 pessoas, sendo que contamos com uma pessoa também em Madrid e outra em Antuérpia.
Que ganhos proporciona a vossa solução às empresas?
SR: A StoresAce proporciona a resolução do desafio da gestão simultânea de lojas múltiplas, aplicando para isso uma gestão unificada, a partir de uma plataforma que congrega toda a informação necessária para a tomada de decisão informada sobre um negócio que acontece em localizações diferentes e com diversos canais de vendas. Por exemplo, uma empresa que tenha duas áreas de negócio distintas, que necessitem de pontos de venda diferentes, irá ter dois sistemas de gestão, sendo que apenas os valores financeiros serão consolidados. O que nós oferecemos é uma plataforma que tem a capacidade de se ligar a qualquer ponto de venda, independentemente da sua localização, quer seja porque o cliente tem áreas de negócio diferentes, porque necessita de cumprir regras fiscais distintas, de acordo com o país em que opera, ou porque está a migrar de um sistema para outro.
“Uma empresa que tenha duas áreas de negócio distintas, que necessitem de pontos de venda diferentes, irá ter dois sistemas de gestão, sendo que apenas os valores financeiros serão consolidados”.
Que empresas têm já implementado este sistema?
SR: Em Portugal, temos como principais clientes diversas marcas do Grupo Jerónimo Martins, a Flying Tiger e a Lusiaves. A nível ibérico, trabalhamos com o Grupo Restaurant Brands Iberia (RBI), detentor de mais de mil lojas de três marcas – Burger King, Popeyes e Tim Hortons. A StoresAce tem capital português.
Quais são os seus acionistas?
SR: A StoresAce tem apenas capital português. Além dos fundadores, tem ainda dois outros acionistas – a Priceless S.A., uma empresa de IT para retalho que percebeu que a StoresAce seria um caminho através do qual se poderia manter relevante no mercado, e a Frenetik Priority, um fundo de investimento que entrou em 2018 com uma posição de 15% e que foi fundamental para chegarmos onde estamos hoje.
Qual tem sido a evolução da empresa até ao momento?
SR: No último ano, tivemos 1,5 mil milhões de euros em vendas geridas pela plataforma, o que representou cerca de 80 milhões de detalhes de vendas por mês. Contudo, até ao final do ano, esperamos duplicar este número. Em termos de faturação, o nosso objetivo é, até dezembro, duplicar os resultados do ano anterior, alcançando os 600 mil euros, e atingir os 1,5 milhões de euros em 2023. Até ao momento fazemos um balanço extremamente positivo, o que nos faz acreditar na concretização destas metas.
Portugal é onde estão a maioria dos vossos clientes? Que tipo de empresas estão a optar pelos vossos serviços?
SR: Em termos de faturação, o mercado português está bastante equilibrado em relação ao mercado espanhol. Contudo, com a abertura do escritório na Bélgica, estimamos que o mercado nacional, no próximo ano, se aproxime dos 30%. Apesar de estarmos presentes em quase todo o tipo de retalho, são as empresas de grande dimensão na área da Restauração que mais optam pelos nossos serviços. Já as empresas que têm um menor número de lojas, principalmente as mais jovens, que nascem já com a premissa de que o comércio eletrónico é fulcral, notamos um maior interesse no retalho especializado, em roupa e joalharia.
“Apesar de estarmos presentes em quase todo o tipo de retalho, são as empresas de grande dimensão na área da Restauração que mais optam pelos nossos serviços”
Em Portugal, qual é o vosso cliente mais importante?
SR: As marcas da Jerónimo Martins têm para nós uma grande relevância. Por um lado, foram um dos nossos primeiros clientes de grande dimensão e ajudaram-nos a otimizar a solução. Por outro lado, é uma empresa dinâmica em termos de modelo de negócio, o que nos impulsiona a sermos cada vez mais ágeis para acompanhar as suas necessidades. Além disso, a Jerónimo Martins é um cliente que nos vê como um parceiro, e não como um prestador de serviços. Neste sentido, conta que lhe entreguemos não só o que é esperado, mas que acrescentemos valor e que o ajudemos a melhorar a sua performance continuamente.
Em Portugal, querem crescer em que setores de atividade?
SR: O nosso objetivo em Portugal é crescer, principalmente, no retalho alimentar, um setor em que existe grande concentração de lojas, mas ainda com sistemas de IT de gerações antigas.
A StoresAce está presente também em Espanha, Angola e Cabo Verde. Nestes países, quais os vossos principais clientes?
SR: Em Espanha, destaca-se o Grupo Restaurant Brands Iberia (RBI), detentor de mais de mil unidades das marcas Burger King, Popeyes e Tim Hortons. Nos PALOP, estamos a funcionar através de parceiros. Neste momento, temos em Cabo Verde um parceiro local que implementa StoresAce no mercado da restauração e do retalho alimentar, nomeadamente em redes de pequenos supermercados. Em Angola estamos presentes no mercado alimentar grossista, numa rede de Cash&Carry do Grupo Leonor Carrinho, através de um parceiro português que faz implementações no mercado angolano. São mercados oportunísticos e que não fazem propriamente parte da estratégia de expansão da StoresAce, por duas razões: por um lado, os mercados europeu e americano têm uma necessidade muito grande deste tipo de soluções, seja porque o número de empresas que identificámos como target é grande, seja porque o valor que estas empresas estão dispostas a investir é, também ele, superior; por outro lado, estamos mais à vontade em mercados que valorizam as funcionalidades da plataforma, assim como a inteligência que ela pode trazer ao negócio e, consequentemente, a otimização das margens da operação.
“A nossa solução é de gestão operacional, ligando-se a sistemas de ponto de venda e a sistemas de contabilidade. O facto de abstraída das questões fiscais de cada país é uma vantagem em termos de internacionalização, o que aumenta a velocidade de crescimento”
Que planos têm para reforçar a vossa internacionalização?
SR: A curto prazo, procuramos a consolidação da marca StoresAce em Espanha e na Europa Central, geografias nas quais se prevê o surgimento de dez mil lojas novas, e onde abrimos recentemente dois escritórios. Temos feito um investimento em localização e estamos prontos para entrar em mercados como os Países Baixos onde a língua, que é tipicamente uma barreira, já foi ultrapassada. A resposta dos clientes ao produto e à equipa tem sido muito positiva, o que é um bom incentivo para os planos que traçamos. A médio prazo, o nosso objetivo é endereçarmos o mercado da América do Norte, alavancado por clientes existentes, como o Grupo RBI, a reboque de marcas com implementação mundial como seja a Burger King ou a Tim Hortons. Em termos de restrições legais ao crescimento, é importante referir que a nossa solução é de gestão operacional, o que significa que, por um lado, se liga a sistemas de ponto de venda e, por outro, a sistemas de contabilidade. Ou seja, estar abstraída das questões fiscais de cada país é uma vantagem em termos de internacionalização, o que aumenta a velocidade de crescimento.
“A curto prazo, procuramos a consolidação da marca StoresAce em Espanha e na Europa Central. A médio prazo, o nosso objetivo é endereçarmos o mercado da América do Norte”
Quais são os próximos países aonde pretendem chegar? E quando é que isso está previsto?
SR: 2023 e 2024 serão anos de abertura dos mercados europeus, nomeadamente Europa Central com ênfase no Benelux, Alemanha e França, bem como na Inglaterra. Nestes dois últimos países estaremos presentes em feiras ainda este ano. Em 2025, esperamos iniciar a operação da StoresAce na América do Norte.
O vosso plano de expansão pressupõe que valores de investimento?
SR: O plano passa por investir cerca de dois milhões de euros em expansão nos próximos três anos.
Para apoiar o vosso crescimento vão recorrer a captação de capital brevemente? Quais os valores pensados?
SR: Vamos, a partir de setembro, iniciar a preparação de uma ronda de investimento, porque queremos acelerar o crescimento e pôr em prática o nosso plano de expansão. Esta ronda deverá ser de três a quatro milhões de euros e gostaríamos de contar com a entrada de VCs europeus com apetência para modelos de negócio SaaS, Business to Business. É claro para nós que o mercado do capital de risco está em retração e as valorizações a baixar. No entanto, estamos confiantes de que este projeto, o estado em que se encontra, e o desempenho da equipa, conseguirão demonstrar a capacidade de crescimento e execução que levará a uma decisão de investimento positiva – menos investimentos apenas indicam que os que se efetuam são de melhor qualidade, e é aí que achamos que estamos.
“A partir de setembro, vamos iniciar a preparação de uma ronda de investimento, porque queremos acelerar o crescimento e pôr em prática o nosso plano de expansão. Esta ronda deverá ser de três a quatro milhões de euros”
Está previsto o reforço da equipa? Em quantos elementos e para que áreas?
SR: Até ao final deste ano, contamos reforçar a equipa atual com mais cinco elementos, designadamente nas áreas de Data Science, Desenvolvimento de Software e Comercial.