O monólogo de 12 minutos que o apresentador do programa “Late Night”, Stephen Colbert, proferiu após a notícia do fim do seu programa – que acontecerá em maio de 2026 -, acumulou quase 10 milhões de visualizações no YouTube, tornando-se o vídeo mais popular do seu canal em seis anos.
O vídeo foi visto 9,93 milhões de vezes até à manhã de sexta-feira, mais do que qualquer outro no canal do YouTube do programa desde que a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, foi convidada em setembro de 2018.
Alegadamente, a falta de alcance nas redes sociais com que o programa estava, terá contribuído para o cancelamento do programa. No entanto, as pressões políticas poderão ter estado por detrás deste cancelamento, devido às posições críticas de Colbert em relação a Donald Trump. O timing é, no mínimo, estranho, pois o fim anunciado do programa ocorre depois de o comediante ter criticado a Paramount pela sua decisão de pagar 16 milhões de dólares para resolver uma ação judicial interposta por Donald Trump.
No dia 21 de julho, fazendo recurso da ironia, o apresentador abordou a notícia que indicava que o cancelamento do “Late Night” tinha sido por razões “puramente financeiras”. E, nesse seu mesmo registo, no seu monólogo de abertura do programa, Colbert “sossega” Trump, afirmando ir “tirar as luvas” nos seus comentários sobre si, para de seguida se dirigir ao Presidente dos EUA com um muito aplaudido: “Vá-se f****”.
É verdade que há anos que o programa “Late Night” tinha vindo a tornar-se menos rentável – o programa de Colbert terá alegadamente perdido 40 milhões de dólares por ano, segundo alega a CBS para defender a sua posição. Os vídeos com mais de 10 milhões de visualizações eram mais comuns no “Late Night” entre 2015 e 2018, mas a popularidade do programa no YouTube caiu desde então e de ano para ano. Até ao “clip” viral desta semana, apenas 10 vídeos de Stephen Colbert nos últimos três anos tinham conseguido ultrapassar a marca dos 4 milhões de visualizações.
No entanto, apesar deste declínio em audiências, outro facto é que “Late Night” era o programa com maior audiência no horário das 23h30 (ET). “Late Show” teve uma média de 2,4 milhões de telespectadores no primeiro semestre de 2025, segundo o USA Today, citando a Nielsen, em comparação com os 1,8 milhões de Kimmel e os 1,2 milhões de Fallon. Outro facto: estes três apresentadores de programas noturnos têm visto as suas audiências baixar todos os anos, o que significa que a perda de visualizações não é algo que seja atribuível a Colbert.
Embora a sua audiência nas redes sociais possa ficar para trás, o programa de Colbert é o programa noturno com maior audiência na televisão.
Os responsáveis da CBS não terão, igualmente, levado em conta que o programa de Colbert era o menos suscetível de compensar as perdas com vídeos virais, quando comparado com outros programas como Jimmy Fallon da NBC ou Jimmy Kimmel da ABC, que se concentram em lançar “clips” que dão direito mais facilmente a “cliques”. O “clip” mais visto no canal de Colbert, por exemplo, tem 49 milhões de visualizações, em comparação com os 507 milhões do canal de Fallon e os 80 milhões de Kimmel.
A média de visualizações dos 12.180 vídeos que o canal “Late Night” do YouTube publicou desde que foi criado em 2015, de acordo com o Social Blade, que acompanha as estatísticas diárias dos criadores, foi de 870.698. Os vídeos de Fallon no “The Tonight Show” têm uma média de 1,4 milhões de espectadores e os do “Jimmy Kimmel Live” têm uma média de 1,7 milhões.
Razão “puramente financeira” não convence
A Paramount, a empresa-mãe da CBS, insiste que a razão do cancelamento foi “puramente financeira”, mas os telespectadores, os especialistas do setor e o próprio Colbert especularam que as razões políticas poderiam estar a ser ocultadas. “Como é que pode ser uma decisão puramente financeira se ‘The Late Show’ é o número um em audiências”? perguntou Colbert na segunda-feira. O apresentador é um crítico acérrimo de Trump, que publicou na sua rede social Truth Social: “Adoro o facto de o Colbert ter sido despedido. O seu talento era ainda menor do que as suas audiências”. O anúncio do cancelamento veio pouco depois de Colbert ter chamado a atenção da CBS por oferecer “um grande suborno” a Trump, referindo-se a um pagamento de 16 milhões de dólares que a Paramount disse que iria fazer para resolver um processo judicial sobre uma entrevista do “60 Minutes” realizada com Kamala Harris durante as últimas eleições.
O acordo foi anunciado na mesma altura em que a Paramount procurava obter a aprovação da administração Trump para uma fusão de 8 mil milhões de dólares com a Skydance Media. Coincidência, a Comissão Federal de Comunicações (Federal Communications Commission – FCC) deu luz verde ao negócio na quinta-feira, uma semana depois de o programa de Colbert ter sido cancelado. Tudo isto ocorre, igualmente, depois de a Skydance ter dito que iria acabar com as considerações de diversidade, equidade e inclusão na contratação, promoções, desenvolvimento e compensação, algo que agrada a Donald Trump. E o parecer da FCC, cujo presidente Brendan Carr foi escolhido por Trump, era indispensável para a aprovação do negócio.
Haverá mais vítimas?
A ofensiva de Trump contra os media e apresentadores que não lhe são favoráveis não parece ter terminado, já que o republicano escreveu, entretanto, uma outra publicação na Truth Social, atacando outros dois apresentadores, Jimmy Kimmel (do ‘Jimmy Kimmel Live’) e Jimmy Fallon (‘The Tonight Show com Jimmy Fallon’), após críticas a Trump e menções às suas ligações ao nebuloso caso Epstein.
Trump escreveu no seu estilo habitual, colocando algumas palavras em maiúsculas: “O que dizem, e de forma séria, é que Jimmy Kimmel é o PRÓXIMO a cair e logo depois, Fallon também vai cair. Essas pessoas não têm, absolutamente, NENHUM TALENTO, e recebem milhões de dólares para, em todos os casos, destruir o que costumava ser uma ÓTIMA televisão. É ótimo vê-los a cair e eu espero que eu tenha contribuído em grande parte para isso.”
com Mary Whitfill Roeloffs/Forbes Internacional