A Weezie é uma startup de software do Porto que está a revolucionar o setor das telecomunicações em todo o mundo ao permitir automatizar e digitalizar – desde o planeamento ao controlo – todo o processo associado ao desenvolvimentos de uma rede de telecomunicações.
A empresa duplicou a sua faturação em 2022, tendo entrado em três novos países e conseguido contratos para os próximos três anos num valor acima dos 5M€, explica.
Conversa com João Sousa Guedes, CEO da Weezie:
Quando e como nasceu a Weezie?
João Sousa Guedes: Tudo começou com uma empresa de engenharia portuguesa, a Aixtel Engineering, que trabalhava objetos de fibra ótica em Portugal, França, Moçambique e ainda no Brasil.
Para uso interno, a empresa desenvolveu um software de otimização de equipas e do seu trabalho e um cliente, ao ver a apresentação de um projeto, reparou no software que estava a ser utilizado e teve interesse em adquiri-lo, mesmo antes de estar sequer no mercado para venda. E foi desta forma que em 2016 surgiu a Weezie, uma empresa de software com sede no Porto que oferece soluções de gestão de redes de fibra ótica.
Quem são os seus acionistas atualmente?
Atualmente os acionistas são os fundadores juntamente com duas VC nacionais, a Novabase Capital e a Bynd.
Consegue explicar-nos, de forma simples, qual é a proposta de valor que a Weezie faz às empresas de telecomunicações que elas não tenham?
Aquilo que a Weezie oferece é um software com funcionalidades complementares que permitem criar um ecossistema digital de gestão de rede numa solução one fits all: a Weezie Tasks, a Weezie Field e a Weezie Fiber.
Através da Weezie Tasks, é possível fazer um planeamento, controlo e implementação de todos as atividades em tempo real. A Weezie Field, permite à empresa de telecomunicações recolher e transmitir informações do terreno, em tempo real e, deste modo, manter os registos do sistema exatos ao mesmo tempo que reduz o tempo para aprovação do cliente. Por último, a Weezie Fiber, uma plataforma colaborativa e de inventário, permite automatizar, acelerar, e ter controlo da implantação e gestão da rede.

Que ganhos conseguem oferecer às empresas de telecomunicações? Conseguem quantificar para percebermos?
A Weezie oferece uma solução de rede de fibra ótica que integra num só ecossistema digital a equipa de planeamento, execução, controlo e gestão, a fim de oferecer a melhor experiência ao cliente final. Isto permite não só a redução de 60% do tempo de trabalho quando comparado com o formato tradicional, como também a redução de 90% das não conformidades entre o projeto e aquilo que é implementado.
A gestão da rede de fibra ótica que fazem tem como objetivo, em concreto, detetar anomalias nos cabos? Ou há outros objetivos? Quais?
A solução da Weezie permite não só controlar todo o processo que envolva o planeamento, implementação, controlo e avaliação de uma rede de fibra ótica, como também agilizar todas as etapas deste processo.
Nas telecomunicações, é necessário ter um inventário de toda a rede que passa pelas nossas casas. Toda esta gestão, desde a cadastragem do equipamento, o plano dos cabos, a sua planta, a identificação de que casas estão ligadas, entre outros passos que o processo exige, é feito de forma manual.
O processo, na forma tradicional, consiste em enviar um técnico ao terreno para fazer o planeamento manual. Posteriormente, já no escritório, este utiliza um software genérico para fazer o desenho de rede e passa a informação recolhida em terreno para analisar em Excel, informação essa posteriormente partilhada por e-mail, drives ou Dropbox. No final, na maioria das vezes, o inventário não é feito de forma correta ou, com o passar do tempo as informações, são perdidas.
Para solucionar o problema, a Weezie criou um ecossistema digital e automatizado, onde todos os intervenientes no processo de implementação e gestão de uma rede de fibra ótica podem trabalhar numa única plataforma, segundo as mesmas bases, com regras pré-definidas e em tempo real, onde quer que estejam. Esta solução permite o controlo absoluto de toda a operação.

Quais são os vossos principais clientes em Portugal?
Embora a Weezie seja uma empresa portuguesa com sede no Porto, não tem clientes em Portugal uma vez que o nosso foco desde o seu início foi totalmente o mercado internacional.
Estando presentes no estrangeiro, em que mercados e com que clientes?
A Weezie está presente em 5 países. Estabelecemos-mos através dos nossos primeiros clientes em França e, posteriormente, tivemos contacto com outros clientes internacionais no Reino Unido, Alemanha, Áustria e Angola e ainda potenciais parceiros internacionais.
O mercado onde temos uma maior presença é o francês onde contamos com clientes como a TDF – Teledifusion de France, e a Ert – Altice Tecnhical Service. Também o Reino Unido é um mercado com grande relevância para a Weezie, onde contamos com clientes como a Airband e a Gigaloch. Para breve esperamos anunciar o primeiro cliente nos Estados Unidos.
A gestão da rede de fibra ótica dessas empresas que são vossas clientes é integralmente garantida por vocês?
Sim, nós fazemos o ciclo completo da rede de fibra ótica através das nossas aplicações complementares que criam este ecossistema com uma solução one fits all. Nenhuma empresa tem a oferta que a Weezie tem: uma ferramenta completa de gestão.
Como tem evoluído a vossa faturação anual?
Em 2022 o valor das nossas vendas duplicou face ao ano anterior. Com a entrada em 3 novos países e contratos para os próximos três anos num valor acima dos 5M€, a expectativa é de que em 2023 o valor das vendas volte, pelo menos, a duplicar.
Quais são as previsões de evolução da empresa para este ano e próximos?
Atualmente, a Weezie tem cerca de 20 funcionários e encontra-se a contratar. Nesse sentido, a estratégia passa por “duplicar” a equipa durante este ano e recrutar talentos tecnológicos que possam ajudar a crescer a nossa solução em novos mercados.
Ambicionamos ser líderes no mercado mundial, por isso estamos concentrados na expansão do nosso software a nível mundial. Inglaterra é neste momento o principal mercado a explorar, mas o foco está também em iniciar operações nos EUA no primeiro semestre deste ano.

O 5G que perspetivas de crescimento dá à vossa empresa?
Embora anteriormente as redes fixas e redes móveis tenham sido implementadas separadamente, o 5G e a fibra ótica funcionam como dois lados da mesma moeda.
Parte integrante do sucesso do 5G é uma extensa rede de fibra ótica, na qual todas as metas de desempenho projetadas para os próximos anos dependerão, em última análise, da força da conectividade desta fibra.
Desta forma, a crescente vontade de difusão e implementação do 5G, predominantemente em áreas rurais, dá à fibra fortes perspetivas de crescimento.
Apesar de grande parte do território nacional já ter cobertura de fibra óptica, ainda existe um grande trabalho a ser desenvolvido pela Weezie nos seus países de atuação.
Quais são as principais dificuldades para a fluidez da implementação do 5G em Portugal?
Os principais desafios da fluidez da implementação do 5G estão relacionados com o mmWave (ondas milimétricas) 5G, que é muito rápido, mas cujo sinal percorre apenas uma curta distância e é bloqueado facilmente.
Outro desafio é a disponibilização assimétrica, com um primeiro foco nos principais centros urbanos e com as zonas suburbanas e rurais sem cobertura, devido ao custo de implementação elevado e menor retorno.