No passado mês de janeiro, a NASA e a SpaceX juntaram-se para enviar quatro astronautas para a nossa Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla inglesa). A missão, Missão Axiom 3, é a primeira em que todos os membros da tripulação a bordo eram europeus.
A Missão Axiom 3 é a terceira missão privada da empresa Axiom Space.
A 9 de fevereiro, os quatro astronautas regressaram à Terra depois de mais de duas semanas no espaço. Foi-nos possível assistir, em direto, à ‘aterragem’ dos tripulantes europeus no mar, ao longo da costa da Flórida, nos Estados Unidos. A cápsula em que voltaram, apelidada de Freedom, desceu de paraquedas – uma vez dentro da nossa atmosfera, a cerca de 3 mil metros do mar – e foi rapidamente identificada e recolhida por um navio norte-americano que a esperava.
A equipa foi liderada pelo astronauta espanhol e norte-americano Michael López-Alegría que havia sido astronauta da NASA e que atualmente o é na Axiom Space, uma empresa privada norte-americana sediada em Houston, no Texas. O piloto que conduziu a missão foi Walter Villadei, Coronel da Força Aérea Italiana, que em 2023 já tinha visitado a nossa órbita com a Virgin Galactic, uma empresa fundada pelo britânico Richard Branson, com o seu quartel-general na Califórnia, que opera a partir do Novo México. Alper Gezeravci, também astronauta, foi o primeiro turco a ir ao espaço. Por último, também a bordo, esteve o sueco Marcus Wandt, um astronauta da Agência Espacial Europeia.
Alper Gezeravci foi o primeiro astronauta turco a ir ao espaço.
É de notar que a Missão Axiom 3 faz parte do plano da NASA apostado em facilitar o acesso ao espaço em geral. A verdade é que os Estados envolvidos em programas espaciais estão a cada vez mais frequentemente recorrer ao privado de forma a atingirem mais rapidamente marcos importantes na História.
Fazem-no pelas ambições espaciais que têm, mas também para se manterem na ‘linha da frente’ no que toca ao sinalizar o seu papel de relevo num panorama internacional neste domínio cada vez mais importante e mais competitivo. Isto é, com a entrada da China, do Japão, da Índia, dos Emiratos Árabes Unidos e de Israel numa nova iteração da histórica ‘Corrida para o Espaço’ que foi encetada pela União Soviética, com o satélite Sputnik 1 (a 4 de outubro de 1957), seguida pelos Estados Unidos que se apressaram a lançar o seu Explorer 1 (que entrou em órbita a 31 de janeiro de 1958).
Lembre-se que a bem-conhecida primeira Space Race começara, num quadro em que apenas se viam envolvidos a União Soviética e os EUA, por regra com tripulações militares.
Por regra, a primeira Space Race só permitia a bordo tripulações militares. A Missão Axiom 3 faz parte do plano da NASA e da Space X de facilitar o acesso comercial ao espaço.
Essa Corrida inicial foi ferozmente competitiva: a 13 de setembro de 1959, a URSS lançou com sucesso o Luna 2, uma primeira nave, não-tripulada, que chegou à Lua. Face a uma série de etapas em que a União Soviética marcou pontos, os Estados Unidos não podiam ficar atrás. Sobretudo depois de o primeiro satélite tripulado ter sido, de novo, russo – Yuri Gagarin, num voo de 108 horas, completou uma volta à Terra, a 12 de abril de 1961. Não podendo, nem política nem militarmente, deixar-se ficar para trás, a NASA “acordou”. Cumprindo uma decisão do Presidente John F. Kennedy, os Estados Unidos conseguiram chegar à Lua, batendo a URSS, a 20 de julho de 1969, logrando, assim uma vitória histórica, a qual foi epicamente declarada por Neil Armstrong que, ao saltar para o solo lunar, como sendo “a small step for (a) Man, one giant leap for Mankind”.
Os Estados Unidos chegaram à Lua a 20 de Julho de 1969.
Algumas novas façanhas foram tendo lugar depois disso, mas com o tempo a Corrida inicial esbateu o seu ímpeto, embora em boa verdade nunca tivesse parado. A sucessão de Space Shuttles foi disso testemunho, designadamente para levar e trazer os astronautas e os cosmonautas que se revezavam em estadias na International Space Station (ISS, na sigla inglesa).
Os primeiros módulos da ISS foram acoplados em 1998, a que, com o tempo, se juntaram a NASA norte-americana, a ROSCOSMOS russa, a JAXA japonesa, a ESA europeia, e a CSA canadiana. O China optou por uma estação espacial menor, a Estação Espacial Tiangong, com dois módulos apelidados de Tiangong (“Palácio Espacial”) 1 e 2. O primeiro colocado em órbita a 29 de julho de 2021, e o segundo a 31 de outubro de 2022.
Com efeito, coligações formaram-se e novos saltos foram sendo dados – outras idas, ora à Lua ora ao espaço, continuaram, com novos foguetões e com alianças tecnológicas entre os EUA e o Canadá, e depois, ambos com a URSS e com a Agência Espacial Europeia.
À medida que isto ia tendo lugar, começaram a aparecer outros Estados a querer, e a subir, ao espaço; na maioria dos casos para aí colocar satélites de vários tipos, e também a enviar naves não tripuladas para outros planetas do Sistema Solar (designadamente Marte e Vénus). O primeiro dos quais a China, empenhada a não ficar para trás, à medida que se ia afirmando como uma Grande Potência.
Tal como acontecera com automóveis e aviões no início do século XX, também no que ao espaço diz respeito, tudo começou a mudar. Num novo surto de dinamismo, começaram a aparecer empresas privadas nos palcos espaciais, por norma em arranjos público-privados, dada a escala dos investimentos necessários. Uma das inovações foi a de levar ao espaço entidades privadas que pagavam para as tais visitas à nossa órbita. Os custos eram altíssimos, como seria de esperar. Uma época de “turismo espacial”, iria começar, com uma progressiva descida de preços para os viajantes e de custos para as parcerias público-privadas que foram sendo criadas. Apesar de não se saber ao certo quanto custou cada lugar a bordo do Axiom 3, a empresa norte-americana cobrava, em 2018, cerca de 55 milhões de dólares por pessoa.
Em 2018, a Axiom Space cobrava 55 milhões de dólares por lugar a bordo das suas cápsulas.
Fundada em 2016, pelo antigo Diretor da Agência Espacial Americana NASA, a Axiom Space visa revolucionar relação que temos com o espaço. Não só organizam missões privadas à nossa estação orbital (como a Missão Axiom 3, aqui referida), como vão desenvolvendo novos aparatos tecnológicos mais modernos. Por exemplo, os novos fatos espaciais que os astronautas da NASA vão usar no que será a nossa próxima ida tripulada à Lua, uma viagem prevista para tão cedo como 2025.
A nossa próxima ida tripulada à Lua está prevista para 2025.
Mais ainda, a Axiom Space está a construir um anexo comercial na “nossa” Estação Espacial, para que mais facilmente se organizem as cada vez mais famigeradas viagens turísticas espaciais que incluam um número crescente de cidadãos privados. O tal anexo (que em boa verdade é toda uma nova estrutura espacial) vai começar por estar agregado à Estação, mas será ‘desemparelhado’ desta última uma vez que possa estar, independentemente, em órbita. Caso tudo corra bem, como esperamos, tal redundará, certamente, num outro grande passo para a Humanidade.