A Sound Particles é uma startup nacional que nasceu em Leiria, em 2016, pela mão de Nuno Fonseca, engenheiro eletrotécnico, e rapidamente se tornou um caso de sucesso internacional. O empreendedor era então professor no Politécnico de Leiria e na Escola Superior de Música de Lisboa e como apreciador de cinema e música, apercebeu-se de que os efeitos especiais mais interessantes do cinema eram desenvolvidos com uma técnica de sistemas de partículas, uma computação gráfica em que se geram milhares de pontos que criam a ilusão de fogo, de tempestades de areia, etc. Como ainda ninguém no mundo estava a aplicar este sistema de partículas ao som, decidiu começar a desenvolver um software que utiliza na criação de sons as mesmas técnicas de computação gráfica que são utilizadas para as imagens, trazendo uma importante mais-valia às grandes produções cinematográficas. “Sabia que este software iria interessar a estúdios de Hollywood, mas qual seria a probabilidade de alguém fazer, a partir de Portugal, software para os grandes estúdios e grandes produções?”, questionou-se. Como não existia à época – nem existe ainda hoje – um produto semelhante, ainda antes de criar a empresa, contatou diversos estúdios em Hollywood para marcar reuniões e a Skywalker Sound, empresa do grupo de George Lucas, criada para a Guerra da Estrelas, foi a primeira a convidá-lo a fazer uma apresentação para a sua equipa. Este cartão de visita bastou para chegar a outros estúdios, tendo, em apenas seis meses, entrado na Warner Bros, na Universal, na Paramount, na Fox, na Sony, na Disney e na Pixar. Tem o seu software ligado a produções como a Guerra dos Tronos, Star Wars, House of Dragon, Dune, I Wanna Dance with Someboy, Frozen, O Gato das Botas, Stranger Things, The Rings of Power, entre muitas outras. A startup, instalada na incubadora D. Dinis, em Leiria, iniciou a sua atividade com apenas dois colaboradores e hoje já tem uma equipa de 30 pessoas a tempo inteiro, sendo que uma está em Los Angeles e outra em Londres.
Crescer sempre a dois dígitos
Apesar de a pandemia ter afetado todo o negócio do entretenimento e muitas produções ficaram paradas, a empresa conseguiu passar relativamente bem por esta fase, mantendo o seu crescimento anual. Escusando-se a referir qual o volume de negócios atual, Nuno Fonseca revela, no entanto que houve anos em que duplicaram as faturação e que, em média, a empresa cresce a um ritmo de 70% ao ano. Este incremento é fruto de uma estratégia destinada a alargar o leque de produtos ao mercado de massas, deixando de ter apenas um produto muito específico, como é o software Sound Particles. “Como o nosso produto inicial era muito de nicho, o que começámos a fazer, em 2021, foi lançar plug ins, programas acessórios que se utilizam no software principal. Lançámos vários na música para alargar e massificar essa área”, explica o fundador. Atualmente, revela, mais de metade da faturação já vem do mercado de massas. É também para esse mercado que vai lançar, já no próximo mês, na maior feira da indústria do som, a NAMM, que acontece em Los Angeles, o primeiro sintetizador 3D do mercado, destinado a músicos que queiram criar conteúdos já em formato espacial (com efeito de som em ambiente total, em que o som se ouve de todas as direções). Toda a indústria do entretenimento, seja do streaming seja dos videojogos estão a passar para este formato, sendo que este é o caminho do futuro.
“Estamos a criar a nossa própria tecnologia de som 3D para headphones”
Nuno Fonseca, CEO
O mercado desta startup é mundial, sendo que o português apenas corresponde a 1% das vendas. Os Estados Unidos – sobretudo a Califórnia – é onde realiza as maiores receitas, com uma fatia de 40%, seguindo-se o Reino Unido, com 15%, a França e a Alemanha, com um peso de 5% cada. O mercado asiático é uma aposta recente, mas também já está a dar frutos, com uma parcela de 5% do Japão e o mesmo por parte da China. O restante está distribuído um pouco por todo o mundo. “No mercado asiático a nossa maior barreira é a da língua. Enquanto na Europa temos os conteúdos em inglês, e isso é mais do que suficiente, na Ásia estamos a trabalhar essencialmente com parceiros locais, que nos ajudam a chegar ao mercado local com a tradução de conteúdos”, explica Nuno Fonseca.
A aposta no nicho do cinema, onde ainda não existe concorrência, é para manter, e pretende lançar já em a segunda geração do Sound Particles. Além disso, está a trabalhar em produtos onde a concorrência é grande, mas que acredita que conseguirá melhorar as soluções existentes no mercado. “Nos últimos três anos temos tido um projeto de investigação interno no qual estamos a criar a nossa própria tecnologia de som 3D para headphones. Ainda não está terminada, estamos a trabalhar sobretudo na parte da escalabilidade, porque tem de ser uma tecnologia que suporte milhões de utilizadores, se quisermos licenciar a uma grande empresa de streaming ou de videojogos”, revela. Nuno Fonseca mantém ainda a maioria da empresa, mas tem crescido com o apoio de empresas de capital de risco que nela investiram, como a Indico Capital e a Iberis, das quais recebeu recentemente uma tranche de 2,5 milhões de euros. Quanto a uma possível ronda de investimento, Nuno Fonseca revela que está a adiar a próxima para que consiga concluir primeiro uma série de objetivos, como o lançamento do sintetizador 3D, a nova geração do Sound Particles e o protótipo da tecnologia 3D para headphones. Com isto concluído estará em melhor posição para que a ronda de investimento corra da melhor forma possível.