Um projeto-piloto de produção de macroalgas está a ser desenvolvido no Porto de Sines. Na fase de testes, que terá a duração de um ano, o projeto prevê a instalação de estruturas em seis locais diferentes da área portuária onde serão realizadas experiências para a prova de conceito.
Cada boia tem um cabo de 50 metros preso a uma âncora, onde se enrolam as sementes das algas que, com o passar do tempo hão-de crescer.
Num esclarecimento à FORBES, a APS refere que a produção deste ano, enquanto testes, será meramente simbólica, de cerca de 2-3 kg/m que resultará em aproximadamente 300 kg.
Com utilizações diversas, as macroalgas são usadas para consumo humano, para produção de rações e alimentação animal ou até para produção de bioplásticos, cosméticos e farmacêuticos.
Este é um negócio que teve a sua génese na Ásia e atualmente está em crescimento em todo o mundo, tendo Sines sido escolhido fruto das características físicas e geográficas desta infraestrutura portuária, de mar exposto, com proteção de ondas e com águas com qualidades que permitem o crescimento das algas.
“Conhecendo-se a relevância atual dada às plantas marinhas pela sua eficiência no sequestro de carbono da atmosfera, a Administração dos Portos de Sines e do Algarve (APS) apoia projetos de investigação e desenvolvimento que contribuam para o surgimento de soluções inovadoras e ambientalmente sustentáveis, sem colocar em causa a operacionalidade do porto”, enquadra a APS.
O projeto dá pelo nome de “Solkelp” e à FORBES, a APS declara ter atribuido a licença à empresa Arm Of The Ocean, que tem como parceiros nacionais a Ciimar e a in2sea – Inovação no Mar; internacionalmente a Arm of The Ocean tem parceria com a empresa SES (Sea Weed Solution).
O projeto tem um financiamento total de 495 mil euros, 85% dos quais obtidos via MFEE (Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu 2014-2021) e os restantes 15% são garantidos pelo Estado português, através do Programa Crescimento Azul.
Projeto da Universidade de Coimbra no setor das macroalgas
O Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Universidade de Coimbra (UC) tem, de resto, em curso um projeto designado MENU que consiste no desenvolvimento de refeições pré-cozinhadas alternativas, tanto pratos doces como salgados, feitos à base de macroalgas marinhas da costa portuguesa.
Os primeiros produtos de um projeto, que está a ser coordenado pela investigadora Ana Marta Gonçalves, poderão estar no mercado no final deste ano.
A grande inovação do “MENU: Marine Macroalgae: alternative recipes for a daily nutritional diet” está na utilização completa das macroalgas marinhas e não apenas extratos ou compostos, como acontece em várias indústrias. O objetivo é aproveitar todas as propriedades destas verduras do mar, conhecidas, por exemplo, pelas suas propriedades antivirais, antibacterianas, antidiabéticas, antioxidantes e anticancerígenas, entre outras.
“Conhecendo o elevado valor nutricional e as bioatividades das macroalgas, que apresentam muitos benefícios para a saúde humana, a nossa aposta é utilizar a alga como um todo de modo a que os nossos produtos tenham todas as biopropriedades, garantindo assim os efeitos benéficos para o consumidor”, refere Ana Marta Gonçalves, coordenadora do projeto.
São parceiros do MENU, iniciado em 2019, a Universidade de Aveiro (UA), a Startup Lusalgae, especializada em biotecnologia marinha, e a Ernesto Morgado, S.A., indústria de arroz em Portugal.
Segundo os investigadores, já foram desenvolvidas várias receitas, tais como arroz com algas, frango com algas, sopas e molhos adicionais; e, nos doces, gelatinas de framboesa e morango, pudins de vários sabores, nomeadamente amêndoa, baunilha, chocolate e coco, compotas e arroz doce. Outros produtos estão em fase de desenvolvimento, como, por exemplo, mousses.
Aveiro também trabalha nesta área
Na Ria de Aveiro, há também uma empresa portuguesa com atividade nesta área, a ALGAplus que se dedica, desde 2012, ao cultivo controlado e sustentável de macroalgas marinhas autóctones da costa do Atlântico.
A sua gama de produtos tem como destinatários a indústria transformadora (cosmética e alimentar) e o consumidor final, consistindo em algas para o mercado a granel e para o mercado de retalho (marca Tok de Mar), em produtos de bem-estar à base de algas (marca Sea Originals) e produtos para o mercado nutricional que combinmam macroalgas e microalgas produzidas em Portugal com certificação biológica (marca Algaessence, desenvolvida em co-branding).