Em Setembro de 2017, milhares de fãs encheram o TD Garden, em Boston, para assistir a um campeonato de videojogos. No centro da arena estava montado um palco elevado com dez computadores, onde se disputava a League of Legends, e, por cima, quatro ecrãs gigantes transmitiam toda a acção. Quando os confettis explodiram sobre a multidão, os tricampeões desataram aos saltos por entre os efeitos de fumo e começou a ouvir-se uma espécie de cântico: “T-S-M! T-S-M! T-S-M!”
A TSM, como é conhecida a Team SoloMid, é uma das marcas mais badaladas dos eSports e a vitória obtida em Boston veio reforçar ainda mais a sua reputação: é a equipa norte-americana que mais vitórias soma na League of Legends.
Mas o seu dono e líder, Andy Dinh, que subiu ao palco para abraçar os atletas que chegaram à final de seis campeonatos, já só pensava numa coisa: o que se segue? “Quero que a TSM seja uma marca global, quero que seja conhecida em todo o mundo”, diz este jovem enérgico.
A indústria dos videojogos de competição, os chamados eSports, rivaliza cada vez mais com a indústria do desporto real e marcas como a TSM e as suas equipas são a prova de que é tão divertido assistir aos jogos como jogá-los – seja ao vivo num estádio ou online, através de um serviço de gamestreaming como o Amazon Twitch.
Na League of Legends há duas equipas compostas por cinco elementos que tentam aniquilar-se: ou seja, durante 30 a 40 minutos, os jogadores não só matam monstros como adversários (claro), para arrecadar ouro e “experiência” para comprarem novas actualizações e ficarem mais fortes.
Há vários anos que a ESPN transmite os campeonatos de eSports sendo que, no ano passado, a final mundial da League of Legends registou quase 100 milhões de espectadores online – cerca de metade do número de espectadores que assistiu à final da Liga dos Campeões do ano passado na televisão.
As principais marcas também não olham a meios (leia-se dinheiro) para ganhar a preferência deste público jovem e esmagadoramente masculino. E, ao que parece, não está longe o dia em que os videojogos vão ganhar estatuto de desporto olímpico. A League of Legends já deu um primeiro passo nesse sentido, ao participar nos Jogos Asiáticos de 2018 como desporto de demonstração.
Indústria de muitos milhões
O conceito de partilha de receita entre as equipas dos eSports, nomeadamente dos direitos de transmissão – habitual em ligas desportivas tradicionais –, só agora começa a dar os primeiros passos, por isso é natural que os patrocinadores ainda dominem o terreno.
A empresa de pesquisa de mercado Newzoo, sediada em Amesterdão, estima que, em 2018, 40% das receitas tenha sido garantido por patrocínios. Algumas marcas associam-se à liga e aos organizadores do campeonato, enquanto outros preferem investir na equipa.
No caso da TSM, as camisolas são patrocinadas pela Geico e Gillette, os anúncios publicitários são feitos em parceria com a Dr. Pepper [“Team Soda Mid”] e os teclados e ratos de computador usados nas competições são da Logitech.
A TSM e os seus jogadores têm 60 milhões de seguidores nas diversas redes sociais. E a Forbes estima que a TSM obteve receitas na ordem dos 18 milhões de euros em 2017, ou seja, um dos melhores resultados de sempre de uma empresa de eSports. Apesar do grande sucesso, Dinh reconhece que a TSM ainda pode aproveitar novas oportunidades neste mercado de rápido crescimento.
A próxima grande oportunidade pode muito bem ser um videojogo criado em 2017, chamado “Fortnite”: um êxito de milhares de milhões de euros que já conta com 125 milhões de jogadores em todo o mundo, incluindo celebridades como Drake e o rapper Chance, além de jogadores profissionais de eSports que transmitem os seus jogos online para dezenas de milhar de espectadores… diariamente.
O “Fortnite” é uma espécie de síntese de “The Hunger Games”, “Minecraft” e “Lord of the Flies”: largam-se cem jogadores numa ilha e estes têm de combater até só restar um sobrevivente. Um dos atletas-vedeta, o jovem Ali “Myth” Kabbani, de 19 anos, assinou no início do ano passado pela TSM como pivô da equipa “Fortnite”. Pouco depois, a TSM investia mais de 1 milhão de euros num espaço de treino com 400 metros quadrados.
O investimento já está a dar frutos: Kabbani tornou-se na segunda maior estrela no Twitch, com 4,1 milhões de seguidores, e todos os dias conquista novos fãs para a marca TSM. Mas não só, o facto de as audiências crescerem também atrai novos patrocinadores, como é o caso da Chipotle, que vê na TSM uma maneira de relacionar-se com a cultura pop.
Ninguém tem dúvidas de que o “Fortnite” é um blockbuster, mas persistem algumas dúvidas sobre o seu potencial enquanto eSport. É verdade que a empresa que criou o jogo, a Epic Games, oferece quase 100 milhões de euros em prize pools durante um ano de torneios, mas também é verdade que não se sabe ainda como é que essas competições vão ser estruturadas ou sequer transmitidas. Na TSM, porém, o que não falta é confiança no futuro.
Alargar horizontes
Dinh nasceu em Campbell, na Califórnia, nos EUA, e tem nove irmãos. Nunca foi um aluno brilhante no liceu, mas descobriu o seu talento aos 16 anos, quando jogou a sua primeira “League of Legends”, em 2008. Inscreveu-se com o nickname Reginald e tornou-se, muito rapidamente, no melhor jogador do mundo. Em 2009 criou a sua própria equipa e, paralelamente, decidiu fundar, com o irmão Dan, uma comunidade de sites e guias do jogador.
Muito antes da ESPN e da Amazon pensarem em transmitir a League of Legends, já Dinh organizava e fazia streaming de todos os campeonatos. Pouco depois, Dinh abandonou o liceu e pediu 4 mil euros emprestados à mãe para investir na sua visão: um site/comunidade da “League of Legends”, solomid.net, que atraiu milhões de visitantes e lhe rendeu cerca de 52 mil euros por mês. Em 2013, aos 21 anos, reformou-se da vida de atleta para dedicar-se de corpo e alma ao seu negócio.
Cinco anos depois continua imparável e a apostar em novas abordagens no seio da indústria que ajudou a criar. Em Julho reuniu 32 milhões de euros numa ronda de investimento de Série A junto de investidores de topo, como a empresa de venture capital Bessemer Ventures Partners, o quarterback Steve Young da Hall of Fame da NFL e o tricampeão da NBA Stephen Curry. “Participaram os melhores entre os melhores. Só podia ser assim”, realça Curry, que tenciona usar o seu dinheiro para ajudar a TSM a ampliar o seu público jovem.
Com este dinheiro, Dinh tenciona duplicar o staff para 100 colaboradores e investir até 13 milhões de euros na construção da sede operacional em Los Angeles, já este ano.
O espaço terá mais de 2300 metros quadrados e um carácter multifuncional: além de ser o espaço onde os jogadores podem treinar e onde os influenciadores irão criar conteúdos para a TSM se tornar numa marca de referência para uma nova geração, vai também servir para gerar receitas, seja através de patrocínios, seja recebendo eventos para fãs.