Opinião

Saúde Mental no C-Level: o tabu que custa caro às empresas

Ricardo Costa

Durante décadas, falar de saúde mental era visto como sinal de fraqueza, especialmente nos lugares de topo das organizações. A ideia de que os gestores de nível C (CEO, CFO, COO, CHRO, entre outros) precisavam de se mostrar invulneráveis e sempre resilientes criou uma cultura perigosa: a de líderes que se escondem atrás de máscaras de sucesso enquanto enfrentam sozinhos pressões que muito poucos imaginam.

O problema é que essa máscara tem um preço que se paga caro. Tudo começa com a perda de foco, segue-se a tomada de decisões erradas e o aumento de conflitos, que acabam por se traduzir em equipas desgastadas e, inevitavelmente, em quebras de produtividade e competitividade. É, por isso, essencial compreender que a saúde mental não é apenas um tema “humano”, é um tema estratégico.

Quem ocupa lugares de topo sabe que, muitas vezes, é um espaço solitário. A pressão dos resultados trimestrais, a necessidade de dar respostas rápidas num mercado cada vez mais imprevisível, a responsabilidade por milhares de empregos, o escrutínio público e mediático – tudo isto recai sobre os ombros de quem lidera. Não é incomum que um CEO acorde de madrugada a pensar num processo de reestruturação, que um CFO carregue a ansiedade de uma decisão financeira de milhões, ou que um CHRO sinta a solidão de equilibrar a gestão de pessoas com a pressão por resultados. O stress, quando não acompanhado, transforma-se em desgaste crónico. O desgaste, em exaustão. E a exaustão, em doenças reais, que fragilizam o líder e a própria organização.

A saúde mental dos líderes não pode continuar a ser tratada como um “extra simpático” de responsabilidade social. Tem de ser reconhecida como pilar central de governação corporativa. Assim como falamos de auditoria financeira, compliance ou sustentabilidade ambiental, precisamos de falar de equilíbrio mental no topo.

A saúde mental deveria estar sempre na agenda do board por várias razões. Em primeiro lugar, a mudança cultural começa no topo: se os líderes reconhecem e comunicam a importância da saúde mental, dificilmente os colaboradores se sentirão inseguros para falar sobre o tema. A produtividade também depende disso. Líderes cansado e sobrecarregados tomam decisões menos acertadas e a clareza mental é um ativo estratégico. Por fim, a reputação está cada vez mais ligada à forma como a empresa cuida das pessoas. Investidores, clientes e talentos avaliam a cultura interna como um indicador de credibilidade e sustentabilidade.

O futuro das empresas passa por líderes humanos, transparentes e equilibrados. Persistimos num mito corporativo que acredita que esses líderes são inquebráveis. Existem, sim, líderes que escolhem reconhecer a sua humanidade e que, por isso, lideram melhor. O mito do executivo incansável, que sacrifica tudo em nome do sucesso, está ultrapassado. As novas gerações não seguem esse modelo. Querem líderes que inspirem pela verdade, não pela imagem.

 

Ricardo Costa,
Chairman do KuantoKusta

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