Não nasceu em berço de ouro, mas sempre foi rico em sonhos. Rodrigo Costa, 50 anos, casado e com duas filhas, nasceu no Brasil, no seio de uma família humilde, e sempre foi visto pelos seus 10 irmãos como um sonhador. Apesar de ter experimentado o sucesso no seu país de origem, antes de embarcar rumo aos Estados Unidos – já era empresário antes disso –, foi em Terras do Tio Sam que veio a crescer para o mundo. Empresário premiado, é hoje CEO e um dos sócios da AG Immigration, um dos 10 maiores escritórios de advogados dedicados à imigração, nos Estados Unidos, e da Viva América, empresa que se ocupa em fornecer serviços de apoio, que não o jurídico, a inúmeros imigrantes. Foi a sua experiência como imigrante, e a necessidade de a colocar em proveito do próximo, que motivou a abertura dos dois negócios. Rodrigo Costa foi premiado recentemente com o galardão Immigration Law TrailBlazer 2023, atribuído pela revista jurídica The National Law Journal, sendo até hoje o único CEO estrangeiro a ser distinguido desde que este prémio foi criado.
Conheça a seguir a história do homem que transformou a adversidade em negócio de sucesso e que, do pesadelo, fez nascer o sonho americano.
As origens humildes de Rodrigo Costa
“Venho de uma família com muitos irmãos. O meu pai teve 11 filhos”, revela Rodrigo Costa que graceja com o facto de serem tantos como uma equipa de futebol. Viviam em Belo Horizonte, no Estado de Minas Gerais. O pai, camionista, ficava muitos dias fora de casa, a mãe tomava conta das crianças, e Rodrigo, como filho do meio, sempre sentiu muita responsabilidade em ajudar no que podia. Chegou até a ser um dos responsáveis por sustentar a casa. Como não tinha condições para viajar, a não ser quando saía com o pai no camião, viajava muito em sonhos. “Sempre pensei em dar um passo à frente e conquistar algo. É a bênção da inocência: se olhasse muito para a minha origem tinha-me limitado, mas nunca olhei para isso e sempre procurei desenvolver meu trabalho”, explica.
Tinha apenas 13 anos quando, com um irmão mais velho, que na altura era militar, comprou o seu primeiro computador. Era um artigo muito caro naquela época e recorda que foi financiado em muitas prestações. Foi aí o seu primeiro contacto com a tecnologia. Primeiro começou a descobrir sozinho, a desenvolver sistemas simples de programação. No final dos anos 80 foi para uma escola de informática e passou alguns anos a trabalhar com tecnologia. “Tive uma escola de tecnologia, depois fui trabalhar para diversas empresas nessa área. Trabalhei em grandes empresas no Brasil como a Logic Way, distribuidora de uma companhia americana, a Computer Associates”, revela. Através desta empresa entrou no segmento de business consulting, o que acabou por lhe abrir outras portas. Começou a desenvolver trabalho como consultor e trabalhou em companhias como a Bradesco, a Mercedes Benz, a Fiat, a Eletropaulo, a SulAmérica, a Honda e a Brasil Prev.
Rodrigo Costa comprou o primeiro computador com 13 anos, com a ajuda de um irmão mais velho, pago em muitas prestações. Começou aqui o fascínio pela tecnologia.
Trabalhava então na área de gestão e aperfeiçoamento de processos organizacionais, utilizando ferramentas e metodologias baseadas em Lean, Six Sigma e Teoria das Restrições. Uma das empresas de consultoria onde trabalhou tinha como cliente o grupo hoteleiro Accor. Quando essa empresa encerrou a sua atividade, Rodrigo Costa recebeu um convite da Accor para continuar a trabalhar com este grupo. “Foi aqui que estruturámos uma microempresa, chamada Templo Consultoria, para continuar a trabalhar nesta área, tendo o grupo Accor como grande cliente”, recorda. Tinha então cerca de 30 anos.
Trabalhou como consultor de sucesso, nesta empresa que fundara, durante dez anos, melhorando os processos de muitas companhias. “Como fazíamos a coisas bem feitas, foram-se abrindo outras portas, fomos ganhando alguns prémios pelo nosso trabalho. Esta foi uma grande escola”, conta. Recorda como conseguiu, através de uma solução organizacional, reduzir os custos de papel de uma grande empresa, que gastava cerca de 2,5 milhões de dólares (cerca de 2,27 milhões de euros) em papel, passando este consumo para apenas 75 mil dólares (cerca de 68,2 mil euros).
Mas como trabalhar em consultoria se torna cansativo, Rodrigo pensou em negócios próprios onde pudesse colocar todos os ensinamentos que esta atividade lhe trouxera. Como tinha trabalhado com um grupo imobiliário, o Brasil Broker, pensou em investir nessa área, surgindo assim a primeira empresa imobiliária do empresário. “O mercado imobiliário estava em alta e queríamos sair um pouco da consultoria, que se tornara muito cansativa”. E foi esta empresa imobiliária que lhe abriu as portas para os Estados Unidos.
Chegada aos Estados Unidos de armas e bagagens
Como tinha muitos bloqueios com a língua inglesa, em 2010, surgiu-lhe a oportunidade de ir fazer um intercâmbio de inglês, no estado do Utah. Foi logo depois da bolha imobiliária e, quando de vez em quando passeava pela região, percebia que era muito segura e que havia casas lindas por valores baixos, de cerca de 90 mil dólares (cerca de 81 mil euros), e que isso representava uma oportunidade de negócio. “Pensei em comprar uma casa nos Estados Unidos, e que possivelmente outros brasileiros também teriam esse mesmo sonho. Fiz alguns contactos na Florida, um estado mais próximo do Brasil e a minha visão foi: é preciso criar uma estrutura para que consiga trazer brasileiros para comprar casa nos Estados Unidos. Se consegue vender um produto ou serviço, que vai mexer com as pessoas, com o sonho e com a necessidade, esse negócio vai ter sucesso”, diz.
E assim foi: Rodrigo Costa começou a trabalhar no mercado imobiliário e até teve sucesso ao início, mas surgiram também muito problemas e dificuldades, por falta de informação, sobretudo das questões migratórias. “Tivemos sucesso no mercado imobiliário, mas fizemos sociedades erradas, negócios mal feitos e, inicialmente, perdemos dinheiro nos Estados Unidos, por falta de informação”, relembra.
Ou seja, entre 2010 e 2014, Rodrigo e a esposa, Leda, continuaram o seu trabalho na área da consultoria, no Brasil, enquanto preparavam a sua mudança para o mercado americano, o que veio a acontecer em 2013. “Penso que atropelamos algumas etapas e não planeamos muito bem a nossa mudança, pois poderia ter ido com o visto adequado e não fui”. E foi aqui que começou a “novela brasileira”, pois chega aos Estados Unidos sem uma assessoria correta. E explica: “há três grandes pilares para o imigrante nos Estados Unidos: o pilar migratório, o pilar profissional e o pilar vida e moradia, e uns não correm bem sem resolver os outros”.
A primeira questão, a migratória, implica que se saiba corretamente que vistos deve ter: por quanto tempo vai, o que se quer fazer, etc. Foi a pensar na resolução destas questões que acabou por se unir ao advogado que tratou do seu caso, Filipe Alexandre, para criar, em 2019, o escritório de advocacia imigratória AG Immigration – aliás, são quatro sócios, Rodrigo e a esposa, Leda, Felipe Alexandre e a esposa Glenia –, especializado em green cards para os Estados Unidos e que já apoiou dezenas de empreendedores a abrirem os seus negócios neste país. Felipe Alexandre nasceu no Brasil e foi para os Estados Unidos apenas com cinco anos de idade. Hoje é considerado um dos 10 melhores advogados de imigração do estado de Nova Iorque.
As primeiras duas empresas nos Estados Unidos
“Abrimos o escritório com capitais próprios, muito poucos, e com apenas dois clientes. Eu e Filipe trabalhamos 10 meses sem salário”, recorda Rodrigo Costa, que, entretanto, fechara já todos os negócios no Brasil para se concentrar no sonho americano. Felipe Alexandre fala oito idiomas fluentemente, incluindo mandarim, pelo que muitos dos seus clientes são chineses. “Hoje atendemos imigrantes de 32 países. Acredito que fizemos uma boa estratégia de crescimento”, refere, orgulhoso. Começaram a aparecer cada vez mais na imprensa brasileira, para quem distribuíam conteúdos válidos sobre as questões migratórias. No total, o escritório já orientou mais de 64 mil famílias nos últimos três anos e meio.
Já em 2023, Rodrigo e Leda, lançara, com outros sócios, a Viva América, empresa de vistos e de assessoria para quem pretenda viajar, seja a lazer ou para estudar ou morar nos Estados Unidos. “Quando se chega aos Estados Unidos não se é ninguém. O currículo só não chega. Temos de ser bem assessorados e é isso que tentamos fazer agora a quem chega até nós”, refere.
O grupo das duas empresas tem atualmente 150 colaboradores e pretende chegar perto dos 400 em poucos meses, com o crescimento da Viva América, que deverá contratar cerca de 200.
Rodrigo explica ainda que trabalha numa comunidade de trabalhos sociais, apoiando imigrantes probono, pessoas que perdem tudo, que estão ilegais e não têm dinheiro para resolver a sua situação. “Os imigrantes são presas fáceis na mão das pessoas erradas, que se vão aproveitar deles. Temos de conseguir ajudar essas pessoas”, diz. E conta um caso humanitário que o tocou profundamente: um saxofonista ucraniano, um dos melhores do mundo, Andrey Chmut, que necessitou emigrar, com a sua família, para os Estados Unidos e a quem Rodrigo Costa estendeu a mão. O empresário é também fã de saxofone, tocando apenas como hobbie, e já seguia nas redes sociais o trabalho do artista.
Acredita que a Viva América tem potencial para crescer muito e alcançar muito sucesso, já que os Estados Unidos têm hoje um problema de mão de obra: são quase 10 milhões de vagas de trabalho e não tem pessoas para as ocupar. Enquanto a AG só cuida do pilar migratório, a Viva América cuida dos outros dois pilares: da revalidação de diplomas, da recolocação profissional, da abertura de empresas no país, e tem também uma área de imobiliário que tenta encontrar casa para os imigrantes. “Somos a maior empresa de imigração para a língua portuguesa. Cerca de 48% dos clientes são brasileiros, mas temos clientes de Angola e de outros países onde se fala o português”, explica Rodrigo. O grupo formado pelas duas empresas tem atualmente 150 colaboradores, mas vai contratar mais, até atingir os 600 nos próximos meses, dado o crescimento da Viva América.
As sete lições de vida de Rodrigo Costa
O empresário vai apoiar os dois jovens empresários que venceram o pitch dos 30 Under 30 da Forbes Portugal, Diogo Valente e Tiago Rebelo, a internacionalizar para os Estados Unidos a marca de gelados Swee. Apostado em ajudar os mais novos no caminho do empreendedorismo e do sucesso o CEO da AG Immigration deixa-lhes aqui sete conselhos:
1 – Nunca deixe de pensar no que realmente importa: no cliente
2 – Saiba que o seu produto ou serviços terá sempre um ciclo de vida
3 – Fuja da arrogância – somos eternos aprendizes
4 – Crescer só faz sentido se contribuir para um mundo melhor
5 – As escolhas das mesas onde se senta definirão o seu futuro
6 – Não há sucesso profissional que compenso o insucesso na família
7 – Escolha a pessoa certa que seja o seu companheiro ou companheira para a vida! Isso poderá ser o seu ponto de alavancagem ou uma âncora para os seus sonhos e projetos