Nasceu em Oeiras em 1983 e afirma ter tido uma infância absolutamente normal. Frequentou a escola pública e alimentava o sonho, como quase todas as crianças, de ser bombeiro ou veterinário, o que não veio a acontecer. Formou-se em Economia, na Nova SBE, e dedica-se de corpo e alma a projetos sociais na área da educação. Recorda que, curiosamente, quando em adolescente fez testes psicotécnicos estes lhe indicavam que deveria ser médico porque lhe encontravam uma componente social muito forte. Não tirou medicina, mas veio a exercer essa vertente de uma outra forma.
Afonso Mendonça Reis é o fundador do projeto Mentes Empreendedoras e um dos oradores convidados do primeiro Innovators Forum, promovido pela Sonae, que decorreu no passado dia 8 de novembro em Lisboa e foi dedicado ao tema da educação. Afonso considera que discutir este assunto é fundamental e que este evento representou um importante call to action. “A Sonae quer ser irreverente com este tema, quer procurar responder aos desafios da educação do futuro, e de perceber de forma poderemos dar mais autonomia aos nossos jovens”, diz.
Em 2012, o Fórum Económico Mundial nomeou Afonso Mendonça Reis como um Global Shaper.
Especialista na educação, desenvolveu a sua atividade em diversos projetos internacionais que lhe deram uma visão mais ampla do mundo, e que o conduziram à criação do Mentes Empreendedoras em 2010. Trata-se de uma organização privada sem fins lucrativos qua atua na área da educação e do empreendedorismo social, que tem como missão criar uma geração de cidadãos proativos, resilientes e com impacto nas comunidades. Anteriormente a este projeto social, foi professor assistente da Nova SBE, onde lecionou a cadeira de Implementação de Projetos com Impacto, consultor de políticas públicas de educação e formação profissional na OCDE e na ONU, sendo depois gestor de conhecimento e inovação na SwissContact. Em 2012, o Fórum Económico Mundial nomeou-o como um Global Shaper.
Como tudo começou
Quando frequentava a licenciatura em Economia, Afonso Mendonça Reis, que tinha um grande interesse pela área internacional, frequentou um programa Erasmus, em Lausanne, na Suíça, e realizou 18 intercâmbios do programa Juventude em Ação. “Falamos de intercâmbios de 7 dias, 12 dias, 14 dias, em que uma série de organizações da juventude se sentavam a discutir um tema e também a conhecer o país que recebia o encontro. Estive, por exemplo, em Israel, no Egipto, em Malta, na Turquia, na Polónia, na Escandinávia e conheci imensas realidades”, explica. Conhecer o mundo deu-lhe uma perspetiva diferente daquilo que se vive em Portugal e veio terminar a curso com a certeza de que queria trabalhar fora.
Acabou por entrar na Fundação Aga Khan, onde teve contacto com a área de educação de infância. “Apercebi-me do impacto extraordinário que a educação de infância tem no desenvolvimento das pessoas e o impacto que o acesso à educação de infância tem nos adultos. O PRR deveria ter investido em educação na infância, pois um país como o nosso teria beneficiado imenso. Há estudos que mostram que dois ou três anos de acesso a educação de infância de qualidade faz a diferença entre uma pessoa depender de apoios do Estado ou ter casa própria”, explica.
Ter passado pela ONU enriqueceu-me bastante como pessoa, conheci muita gente diferente, muitas formas diferentes de pensar”, afirma.
No ano seguinte, em 2007, ingressa na OCDE, como consultor onde esteve ligado à área da educação. Porém, na OCDE, onde diz ter aprendido imenso, entendeu que passaria mais tempo com relatórios do que a analisar problemas reiais e a resolvê-los. E assim, desta experiência seguiu para o Internacional Labour Office (ILO), um departamento das Organização das Nações Unidas (ONU). “Ter passado pela ONU enriqueceu-me bastante como pessoa, conheci muita gente diferente, muitas formas diferentes de pensar”, afirma. Porém, acabou também por sair, indo de armas e bagagens para Zurique, onde trabalhou na área de gestão de inovação de conhecimento na Swiss Contact, uma fundação criada pelo setor privado suíço, que implementa projetos numa lógica do setor privado. “Trabalhávamos, por exemplo, com agricultores que produziam quantidades miseras, mas a lógica era por os pequenos produtores a subir na cadeia de valor para produzir cinco vezes mais e vender três vezes mais caro. Isso deu-me uma perspetiva de mundo e perceber uma coisa que respeito muito e que se chama processo”, explica.
O projeto Mentes Empreendedoras
Foi por ter conhecido a realidade suíça, de como um país pequeno consegue ter escala, que começou a perceber que seria mais útil se regressasse a Portugal. A cooperação, a questão dos processos, como se pode fazer crescer uma estrutura sem destruir o que já existe informalmente, como é o caso da formação profissional, tudo isto o levou a conceber o projeto Mentes Empreendedoras. Durante as suas experiências internacionais foi montando o projeto informalmente até que, em 2010, quando se vivia uma conjuntura macroeconómica negativa, achou que devia regressar a Portugal. “Estávamos a viver momento muito complicado do ponto de vista democrático. Como emigrante a viver fora do país pensei: nós somos bem melhores do que isto. E aí surgiu a ideia: o que eu posso fazer para contribuir para a solução?”, questiona.
Afonso Mendonça Reis refere que se o país necessita ter uma geração de cidadãos de impacto. De impacto porque fazem a diferença, mas não tem de ser grandes feitos.
A ideia na base do projeto foi promover a autonomia e a autodeterminação dos jovens. “Os nossos jovens têm, até uma idade muito avançada, pouco espaço para exercer a sua autonomia. Isto é um bocadinho cultural, fazermos isto por amor, para os proteger, com a melhor das intenções. E por isso a ideia do Mentes Empreendedoras é proporcionar experiências de superação aos alunos do secundário, através de um processo de worshops presenciais e acompanhados à distância para que eles implementem coisas que lhe são queridas. Não têm de ser grandes, mas é importante que surjam de uma motivação intrínseca. Isso cria-lhes o bichinho de encontrar soluções para resolver problemas e tornarem-se assim protagonistas dos seus projetos de vida”, explica. Afonso Mendonça Reis refere ainda que se o país necessita ter uma geração de cidadãos de impacto – impacto porque fazem a diferença, não tem de ser grandes feitos.
O Mentes Empreendedoras desenvolve quatro programas: o Clube Mentes Empreendedoras, o Leadership Fellows, o Inspira o teu Professor e o Global Teacher Prize. O Leadership Fellows é um programa que começou com alunos do ensino superior e que se estendeu até aos jovens executivos. “Os participantes desenvolvem competências de liderança, quando replicam o nosso programa. Temos já uma experiência de alguns anos com algumas empresas e resultados promissores.”, explica Afonso.
Motivar os professores é fundamental
Em 2014 foi criado o programa Inspira o teu Professor, para corresponder à consequência dos cortes da Troika, em que a profissão de docente não foi muito acarinhada, e não houve uma preocupação em motivar esta classe profissional. “Se estamos a pedir aos jovens para encontrar soluções aqui está um problema essencial. O que podemos fazer para os professores se sintam reconhecidos? A ideia foi pôr os alunos a refletir o que para eles é importante, e a dizerem o que os marcava positivamente nos seus professores”, explica Afonso. O projeto foi tão bem recebido que o Global Teacher Prize lhes fez um convite para instituir este prémio em Portugal. “Colaboramos no júri desde o início e adaptamos o prémio à realidade portuguesa, com um foco enorme nas recomendações”, explica.
“Treze anos depois da fundação do Mentes Empreendedoras, as escolas têm muito mais projetos do que tinham”, explica o responsável.
“Sempre quisemos complementar que se faz na escola, procuramos os professores que acham que somos úteis e trabalhamos com eles. Nós desenvolvemos conteúdos e vamos às escolas, dentro das salas e dentro dos horários. No ensino profissional consegue-se uma fazer isto de uma forma mais flexível”, diz Afonso, a propósito do seu método de trabalho.
Sobre o tema do empreendedorismo na educação e aquisição e competências, o especialista revela que este cresceu muito com a crise financeira, falando-se hoje muito mais em competências. “Treze anos depois da fundação do Mentes Empreendedoras, as escolas têm muito mais projetos do que tinham. Hoje há muito mais oferta, mais iniciativas, escolas mais habituadas. Mas também notamos a necessidade de começar a incluir o tema da empatia nas nossas capacitações, já que o digital desmaterializou muito as relações.
Além disto, Afonso Mendonça Reis refere que se nota que a questão da literacia digital explodiu com a pandemia, a literacia financeira começa agora a suscitar mais interesse, e temas como as desigualdades começam também a ser mais falados.