Quem chegar a Caldas da Rainha de comboio, tal como fazia sempre Raphael Bordallo Pinheiro quando ali ia de visita à fábrica, vai deparar-se com uma rã de 1,4 metros a dar-lhe as boas-vindas. Na verdade são três rãs, mas apenas uma é gigante.
Da autoria do artista lisboeta, esta rã ganhou uma dimensão colossal quando a Câmara Municipal da cidade decidiu prestar-lhe homenagem pelo trabalho desenvolvido na fábrica que ainda hoje produz peças da criadas por Bordallo Pinheiro. Esta peça marca, aliás, o início da Rota Bordalliana, uma sugestão de passeio cultural dedicada a este artista.
O autor do famoso “Zé Povinho” ficaria certamente surpreendido se hoje fizesse o caminho entre a Estação de Caminho de Ferro e a fábrica Bordallo Pinheiro: é que poderia encontrar 15 peças suas, à escala humana, em vários pontos da cidade.
A proposta da autarquia prevê duas rotas pedestres distintas: uma mais curta, com cerca de uma hora, que o leva apenas às peças produzidas à escala humana e termina na fábrica de faianças, e uma outra, que se faz em cerca de duas horas, que inclui conhecer também painéis e fachadas de azulejo da autoria de Bordallo Pinheiro, peças toponímicas, espaços com informações sobre a vida do artista e uma visita à casa-museu Rafael Bordalo Pinheiro.
Mas voltemos à rã, bem no centro da rotunda da Avenida 1.º de Maio: de costas para a estação de comboios, suba a avenida até chegar ao largo do Tribunal. Aí, do outro lado da praça, vai conseguir vislumbrar a figura do Zé Povinho que espera por si em tamanho real.
Depois, contorne a igreja que está à sua direita e no largo Dr. Miguel Bombarda encontrará a conhecida figura do Padre Cura. Estas duas peças estão protegidas por uma estrutura de vidro para impedir estragos maiores.
Quando acabar de admirar o Padre, procure a rua Heróis da Grande Guerra, vire à esquerda, depois à direita e depois novamente à esquerda para se surpreender com as Andorinhas que vão estar a esvoaçar por cima da sua cabeça, num dos edifícios da rua do Dr. Leão Azedo.
Nesta altura, é possível que já se tenha rido com o Gato Assanhado que o saudou assim que passou pela estação rodoviária. Se continuar a subir na direcção do Centro Cultural das Caldas, vai encontrar à sua espera a Ama das Caldas – siga para a direita e no final da rua, em frente à fonte, volte novamente à direita.
Aí pode apreciar a Praça das Caldas, um dos mais antigos mercados de frescos do país, onde os produtores da região vendem os seus produtos todos os dias da semana. Enquanto mordisca uma pêra rocha do Oeste ou uma maçã de Alcobaça, desça no sentido da rotunda da Rainha [D. Leonor] e entre no Parque D. Carlos I.
Aí, os Macacos à escala humana estão pendurados nas árvores – mas prometemos que não caem! Este bonito jardim, anexo ao Hospital Termal, mantém o charme do século XVIII, mas foi bastante aumentado durante o século XIX, até ao tamanho que tem hoje: inclui um lago artificial onde é possível fazer passeios de barco, uma estufa com flores próprias, um coreto e um restaurante-bar com uma esplanada muito apreciada durante a Primavera e o Verão.
Conta ainda com campo de ténis e parque de merendas, para além de ser um verdadeiro museu ao ar livre, com várias esculturas espalhadas ao longo dos caminhos.
É também casa do Museu de José Malhoa, o primeiro edifício de Portugal a ser construído apenas para fins museológicos e que só por isso vale a visita. Mas não deixe de apreciar as obras de um dos maiores pintores nacionais, antes de seguir viagem para o fim da sua rota: a caminhada é de cinco minutos entre o Museu e a Fábrica Bordallo Pinheiro.
Claro que durante o passeio ainda vai encontrar a Saloia que, de cesta no braço, parece descer a rua como se também fosse a caminho da fábrica.
Mais de um século depois de ter sido criada, e tendo passado por falências, vários proprietários e muitas fases, aqui continuam a recriar-se as peças de Bordallo mas também há artistas que vêem os seus desenhos tomar forma com a arte da faiança de Raphael.
E apesar de não ser possível visitar a fábrica durante o fim-de-semana, a loja está sempre aberta para quem quiser levar para casa – em tamanho ‘normal’ – um pouco da história deste artista.