É já amanhã, dia 14, que acontece, na Alfândega do Porto, o Happiness Camp, a maior conferência dedicada à felicidade corporativa na Europa, evento promovido pela Lionesa Business Hub. Esta conferência surge como um movimento contra o quadro preocupante de depressão e burnout a nível global, onde Portugal foi identificado como o país europeu com maior risco de burnout relacionado com a atividade profissional.
De acordo com um estudo divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão e o burnout serão a segunda causa principal de incapacidade em todo o mundo até 2030, sendo apenas superados pelas doenças cardiovasculares. Adicionalmente, um relatório da Harvard Business Review revelou que uma epidemia de burnout custa à economia mundial cerca de 286 mil milhões de euros por ano em perda de produtividade.
A revista Forbes aproveitou este evento para falar com António Pedro Pinto, cofundador e CEO do Hapiness Camp sobre esta segunda edição.
Sendo esta a segunda edição do Happiness Camp, qual é o balanço que fazem da primeira edição?
A primeira edição do evento foi inesquecível, para nós que o organizámos, como para cada um dos que nele participaram. Contámos com 2 mil pessoas que tiveram a oportunidade de interagir e usufruir do conhecimento e experiência de 15 oradores de referência neste domínio e que, ao longo do dia do evento, abordaram o conceito de felicidade no trabalho nas suas mais diversas vertentes.
A discussão navegou por vários temas complementares entre si, desde a felicidade nas empresas como um investimento favorável à promoção da inclusão e da realização pessoal e profissional, sendo que o feedback que colhemos do público foi, de facto, bastante positivo.
“Este ano, regressámos com a ambição multiplicada por três, esperando receber 6 mil pessoas para as quais preparámos um programa realmente imperdível”, diz António Pedro Pinto.
Foi evidente que o Happiness Camp impactou, e muito positivamente, os participantes daquela edição. E foi exatamente por isso que decidimos continuar a aposta trabalhando para realizar uma segunda edição. Este ano, regressámos com a ambição multiplicada por três, esperando receber 6 mil pessoas para as quais preparámos um programa realmente imperdível.
Como surgiu a iniciativa e quais eram os objetivos iniciais da conferência?
A saúde mental no mundo não está bem, e Portugal não está melhor, pelo contrário. Os indicadores revelam que Portugal regista um risco elevado de burnout e depressão. Não podíamos ficar indiferentes a isto quando as pessoas são o nosso capital e o talento é a nossa moeda. Importava-nos fazer a diferença e ajudar as pessoas a encontrarem a felicidade nas diferentes formas, desde logo, no e pelo trabalho.
O objetivo sempre nos foi claro. Queríamos dotar os participantes do Happiness Camp de competências e técnicas que fossem ao encontro da sustentabilidade humana, incentivassem a felicidade corporativa e garantissem que as empresas e pessoas conheciam as melhores práticas para criarem e trabalharem em empresas felizes.
Não obstante, não ficamos por aqui. Vamos além dos líderes da indústria e ajudamos a promover a felicidade na vida de todos. Queremos que cada participante do Happiness Camp seja capaz de encontrar e desenvolver a sua felicidade pessoal de forma mais consequente e consciente. É por isso que preparámos um conjunto de masterclasses dedicadas à saúde mental, que irão dotar os participantes de ensinamentos permitindo-lhes trabalhar a sua saúde mental e lidar melhor com temas como o stress ou a ansiedade.
O que esperam da iniciativa deste ano?
Este ano investimos num maior número de oradores e trabalhámos para tornar o Happiness Camp 2023 o Festival da Felicidade, com iniciativas lúdicas e momentos de lazer, como a criação de zonas dedicadas à arte e cultura, bem como de diversão, como será o caso da estreia da Dopamine Hub, um conceito inédito em Portugal, que visa estimular a produção de dopamina nos participantes. Vamos todos ficar viciados, acreditem.
Contamos também com um painel atrativo, constituído por vários oradores nacionais e internacionais, de entre os quais se destaca Jessica White, Head of Social Impact, EMEA & LatAm, no LinkedIn, Danny Robinson, Chief Creative Director na The Martin Agency, Neil Morrison, Chief People Officer na Staffbase, Walter Susini, Senior Vice President Marketing Europe na The Coca-Cola Company, Sunaina Kohli, Global Diversity, Equity & Inclusion Leader na Asos, entre outros.
“Este ano investimos num maior número de oradores e trabalhámos para tornar o Happiness Camp 2023 o Festival da Felicidade, com iniciativas lúdicas e momentos de lazer, como a criação de zonas dedicadas à arte e cultura, bem como de diversão, como será o caso da estreia da Dopamine Hub, um conceito inédito em Portugal”.
Por fim, na cronologia do evento, tivemos em conta a versatilidade de público do Happiness Camp, propondo a todos os participantes a partilha coletiva do encerramento do evento no Cais da Alfândega, a partir das 19h, com a magnífica vista sobre o Douro, onde teremos alguns momentos musicais e de descontração de verdadeira felicidade coletiva.
Posto isto, tendo em conta tudo aquilo que preparámos e o facto do Happiness Camp ser um evento gratuito, que apenas carece de inscrição no nosso site oficial, a nossa expectativa é receber 6 mil participantes que poderão usufruir, em plenitude, da discussão sobre o bem mais precioso da Humanidade, a nossa felicidade, e adquirir ferramentas para a expandir e consolidar.
Qual o impacto que vai ter na economia local?
Naturalmente, todos participantes terão gastos com alimentação, dormida e transportes, o que irá traduzir-se em receitas para a cidade do Porto. Mas vemos o Happiness Camp não só através da componente monetizada, mas também como uma forma de distinguir o destino Porto e a cidade em si como a capital da felicidade e da captação de talento.
Como tal, promovemos alguns acordos com promotores turísticos para, por exemplo, disponibilizarmos entradas gratuitas na Livraria Lello, bem como outras condições atrativas para que os participantes e oradores do Happiness Camp se sintam convidados a descobrir a cidade e a realizar-se cultural e pessoalmente no Porto.
Um exemplo desta aposta é, por exemplo, o Speaker Experience Pack, que inclui experiências exclusivas no norte de Portugal, integralmente criado por nós e que se destina aos oradores internacionais que têm comunidades de influência grandes e que podem espalhar palavra sobre o magnetismo do Porto, Douro e norte de Portugal.
Porque o tema se torna tão relevante nos dias de hoje?
A felicidade está na ordem do dia (e da noite), tendo em conta a situação atual da saúde mental no mundo. Se ouvirmos os alertas da Organização Mundial de Saúde, sabemos como a infelicidade no trabalho será a principal causa de incapacidade profissional nos próximos anos, o que demonstra o quanto a saúde mental e felicidade é essencial para o futuro da comunidade e deve ser promovida para garantir o bem-estar das pessoas e o seu desempenho nas várias esferas da sua vida.
Para que tal seja possível, é necessário tomar medidas nesse sentido. E foi, também por isso que criámos o Happiness Camp. Queremos ajudar a combater este cenário e contribuir para um mundo mais feliz. Somos um verdadeiro Hospital da Felicidade, resgatando e reinterpretando o verdadeiro significado de algo que todos (ainda) associam ao Porto: a hospitalidade.
Como se posiciona Portugal face a outras economias nesta questão da felicidade corporativa? Há dados, métricas comparativas?
Um estudo do Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho Saudáveis (LABPATS) concluiu que cerca de 80% dos trabalhadores portugueses têm, pelo menos, um sintoma de burnout e que 63% dos trabalhadores apresenta pelo menos três sintomas. Estes dados demonstram o cenário preocupante que se vive no país em relação à felicidade corporativa.
Apesar desta situação se verificar em todo o mundo e de vários países europeus terem de trabalhar este tema, a verdade é que Portugal foi identificado como o país com maior risco de burnout na União Europeia, segundo uma análise do Small Business Prices. Este último estudo, em específico, teve em consideração fatores como o índice de felicidade do país, o salário médio anual e as horas de trabalho semanais dos portugueses, o que revela um conjunto de parâmetros no qual o país tem de trabalhar como um todo para poder desenvolver a sua própria economia de forma sustentável e duradoura, uma vez que quanto mais felizes forem os colaboradores, mais ganharão as empresas e, consequentemente, a economia.
“Um estudo do Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho Saudáveis (LABPATS) concluiu que cerca de 80% dos trabalhadores portugueses têm, pelo menos, um sintoma de burnout e que 63% dos trabalhadores apresenta pelo menos três sintomas”.
Acredita que as empresas estão mais preocupadas com a felicidade dos colaboradores? Ou no fundo estão apenas preocupadas com a quebra de produtividade que o burnout acarreta e a sustentabilidade dos seus negócios?
É claro que quanto mais feliz e realizado for um colaborador, mais produtivo e vantajoso este será para a empresa e a sustentabilidade financeira do negócio. Mas, também acredito que as empresas estão realmente mais preocupadas com este tema, uma vez que a felicidade também contribui para o bom ambiente e crescimento sustentado da empresa.
A verdade, todavia, é que mesmo as empresas que até já estão mais consciencializadas para este tema e têm vindo a promover ações nesse sentido, sentem falta de algumas ferramentas e recursos para atingir a etapa seguintes, a da consequência, sendo aí que surge o Happiness Camp, ao dotar essas mesmas empresas dos recursos necessários para tornarem, de modo mais permanente os seus negócios, e local de trabalho, sítios felizes.
Qual o perfil das empresas que estão mais atentas a estas questões? Falamos de multinacionais, de pequenas empresas familiares, mais as tecnológicas porque necessitam mais de ter mecanismos de atração e retenção dos seus colaboradores?
Essa distinção entre os tamanhos de empresas não afeta a sua natureza. As empresas familiares, como se vê desde logo pelo Grupo Lionesa, podem ser extremamente competitivas e as pequenas empresas podem ser gigantes amanhã. Aqui também, o tamanho não importa. Mas importa, e muito, que, independentemente da dimensão da empresa, ter em si uma resposta para uma pergunta muitíssimo simples: como posso fazer com que os que tenho fiquem e os que não tenho venham? E a resposta tem inevitavelmente de incluir a felicidade, não pode deixar de o fazer.
O que esperar para o mercado nacional nos próximos anos? Vamos ter mais empresas felizes?
A expectativa é de que os colaboradores portugueses se sintam cada vez mais felizes a desempenhar das suas funções e que as empresas trabalhem para que tal se torne realidade.
Se tivermos colegas, chefes e colaboradores (mais felizes) seremos certamente mais felizes nós também. E depois de o sermos, não há volta atrás, nunca vamos deixar de perseguir esta nossa “Moby Dick”. Somos todos e cada um o “Capitão Ahab” da Felicidade.
Nesse sentido, deixo alguns conselhos de pequenas mudanças que as empresas podem adotar para terem colaboradores mais felizes: garantir oportunidades para o crescimento e desenvolvimento profissional dos colaboradores; incentivar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional; celebrar as conquistas dos colegas; disponibilizar acompanhamento psicológico ou programas de bem-estar; criar momentos regulares de feedback e avaliações construtivas; e apostar, também, em momentos de fortalecimento de laços entre as equipas, sendo que é dessa união que virá o espírito de equipa e integração dos colaboradores.