Opinião

Resiliência empresarial não é nova moda, é a premissa estratégica

Nathalie Ballan

O que é afinal a resiliência? Devemos preparar o mundo para um evento que ocorre apenas uma vez a cada 100 anos? E estamos dispostos a pagar por isso? A questão é central: a máxima resiliência é impossível de alcançar — seja por limites técnicos, seja por racionalidade económica. O verdadeiro desafio para as empresas está em encontrar o equilíbrio certo entre custos e benefícios, assegurando continuidade sem comprometer a competitividade.

Se já foi considerada periférica, nos dias de hoje, em que a mudança é cada vez mais acelerada e os riscos mais diversificados, a resiliência é um eixo estratégico de competitividade. As empresas enfrentam uma sucessão de choques que testam os seus limites. Os riscos físicos das alterações climáticas podem traduzir-se em perdas anuais de enorme escala. Um estudo publicado na revista Nature, conduzido pelo Potsdam Institute, projeta que a economia mundial já está comprometida com uma redução média de 19% no rendimento até 2050, em comparação com um cenário sem alterações climáticas.

Mas não falamos apenas de projeções científicas. Os exemplos estão à vista: o apagão energético , as cheias em Cabo Verde ou os incêndios florestais que todos os verões colocam vidas, património e negócios em risco. Estes fenómenos lembram-nos que os riscos são reais, multivariáveis e interdependentes.

Apesar desta evidência, a maioria das empresas ainda não integra, por exemplo, a adaptação climática nas suas estratégias de negócio. O WBCSD alerta que muitas organizações permanecem excessivamente centradas em mitigação, negligenciando a adaptação: ficam mais expostas a choques e perdem oportunidades de gerar valor a longo prazo.

O Shift Project (França) reforça que grande parte da vulnerabilidade empresarial decorre de fatores externos — infraestruturas, energia, ecossistemas e comunidades locais —, o que significa que resiliência não se constrói isoladamente, mas em conjunto com os territórios.

Investir na resiliência compensa! O Banco Mundial demonstrou que cada dólar aplicado em infraestruturas resilientes gera, em média, quatro dólares em benefícios económicos, ao evitar perdas futuras.

O caminho para empresas resilientes:

 – Integrar na visão e na governação. Não basta planos de contingência: a resiliência deve estar no centro da estratégia. O WBCSD sugere ferramentas como o Three Horizons Framework, que ajudam a conciliar desafios imediatos com oportunidades futuras.

– Pensar de forma sistémica. Nenhuma empresa é resiliente sozinha Abordagens territoriais e diagnósticos alinham empresas, autoridades e comunidades na construção de ecossistemas resilientes.

– Equilibrar mitigação e adaptação. A maioria dos planos climáticos empresariais focam-se apenas na mitigação. É urgente incorporar também medidas de adaptação, independentes dos riscos, que enfoquem a manutenção das funções vitais da organização, assegurando continuidade face a impactos inevitáveis e diversos.

A isto soma-se a necessidade de medir, aprender e ajustar continuamente.

Num mundo interdependente, vulnerável e cada vez mais regulado, pensar a resiliência em todas as suas dimensões deve ser o novo ponto de partida da estratégia empresarial e da inovação.

Nathalie Ballan,
Administradora da S317 e Diretora da Divisão de business development

Membro do CSO Circle by BCSD Portugal

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