A tecnologia, já imensamente presente nas nossas vidas, ganhou proporções astronómicas com a pandemia. A procura de profissionais qualificados, na área de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) cresceu significativamente. Mas os profissionais qualificados não chegam para as necessidades. A IDC (International Data Corporation) Portugal, indicou que “irão faltar mais de 1.15 milhões de profissionais na Europa Ocidental, em TIC”.
Muito trabalho (felizmente) está a ser feito, nas camadas mais jovens, para que estas mulheres possam optar por uma carreira em TIC, nas muitas diversificadas facetas. Entretanto, até que estas estejam preparadas e cheguem ao mercado de trabalho, há ainda um longo percurso a fazer. O desafio está bem identificado: existe falta de profissionais qualificados no mercado, que tenham maturidade e experiência.
Nesse contexto, a requalificação de profissionais com mais de 50 anos de idade pode ser a solução para preencher esta falta e ainda para alcançar a igualdade de género, no âmbito das TIC. Neste universo feminino, quantas mulheres ficaram com o seu sonho por concretizar, pois tiveram uma sociedade que lhes dizia “ser um trabalho para homens”? Porque não apostar na sua requalificação e ir buscar muitas destas mulheres desempregadas, que após os 50, querem continuar ativas?
A requalificação deve ser vista, segundo a minha perspetiva, como uma forma de atualizar conhecimentos e adquirir novas capacidades, garantindo que estas mulheres possam continuar no mercado de trabalho, agregando estas novas competências à vasta experiência que trazem de diversas áreas. Estas mulheres podem ser “juniores” em TIC, mas são capazes de trazer novas perspetivas e contestar o status quo, aportando mudança, inovação e progresso. Vale a pena, concordam?
É importante destacar que a idade não deve ser um obstáculo para a aprendizagem e a atualização profissional. Foi exatamente o que se passou comigo. Quando me vi desempregada, aos 45 anos, fui considerada incapaz de crescer e apreender novos conhecimentos, pelo mercado de trabalho. Aos 50 anos, surge a oportunidade. Aproveitei uma bolsa que me foi facultada pela APDC, em parceria com a Google, e iniciei a minha requalificação em tecnologia, completando a formação, com a respetiva certificação. Apostei, empenhei-me na aprendizagem, e em 6 meses obtive a certificação em 3 áreas: Gestão de Projeto, Analista de Dados e Especialista de TI.
Esta requalificação permitiu-me ganhar competências diversas, nomeadamente em programação, análise de dados e infraestrutura de TI. Com a requalificação aperfeiçoei a capacidade de gestão de projetos e resolução a de problemas mais complexos. Desenvolvi ainda mais o pensamento crítico e criativo, que me permitiu encontrar novas formas de utilizar a tecnologia para melhorar os negócios e projetos que começaram (finalmente) a surgir.
Quem faz a requalificação em tecnologia, ganha não somente conhecimento e capacitação em áreas específicas da TIC, mas também ganha em competitividade no mercado de trabalho pois estas profissionais trazem a maturidade. Além disso estão disponíveis mais rapidamente, contribuindo para diminuir o déficit existente em TIC, como já foi referido e é amplamente divulgado.
Mas quem vai absorver essas profissionais requalificadas? Sabe-se que as empresas que procuram mão de obra qualificada e que valorizam a diversidade etária, estão disponíveis a absorver estas profissionais. Estas empresas, mais vanguardistas, focadas em resultados e inclusivas, sabem que estas profissionais aliam a vasta experiência profissional com conhecimentos e competências tecnológicas, agregando muito valor para as empresas, pois elas trazem inovação e soluções para problemas complexos.
A sociedade em geral ganha também com a requalificação de profissionais após os 50 anos, em particular as que são consideradas desempregadas de longa duração. Ganha uma inclusão social mais justa e democrática, onde as oportunidades de trabalho não são exclusividade dos mais jovens. Ganha voltar a ter no ativo, profissionais com imenso ainda para contribuir e com capacidade de produzir por muitos anos. Por último, a sociedade ganha com a diversidade etária nas empresas, que tendem a ser mais criativas, inclusivas e equilibradas.
Como qualquer mudança, esta requer dedicação, investimento e compromisso da profissional que procura a atualização de conhecimentos. Acredito, na minha opinião, que estas mulheres, estarão empenhadas a esta requalificação se o universo empresarial for de facto mais inclusivo, e apostar na sua contratação.
Em resumo, a requalificação em tecnologia após os 50 anos pode ser uma solução para a falta de mão de obra qualificada no mercado de TIC, além de contribuir para alcançar a igualdade e a diversidade etária nas empresas. As profissionais requalificadas ganham em conhecimento, competitividade e inclusão social; as empresas ganham em inovação e soluções criativas, e a sociedade ganha em permitir uma inclusão mais democrática e justa.
Rute Frade
Founder da SOMA Services