Ao longo de 75 anos, Donald Trump acumulou uma “montanha” de ativos – arranha-céus, hotéis e campos de golfe, entre muitos outros investimentos – avaliados em 2,5 biliões de dólares (2,2 mil milhões de euros), isto após subtrair dívidas.
Desta feita, o império Trump volta a crescer, fruto do seu novo negócio, o Trump Media and Technology Group. Em rigor, esta nova empresa do ex-Presidente dos EUA ainda não fez muito, todavia nos seus planos está o lançamento de uma empresa de redes sociais (chamada Truth Social) que concorra com as sociais existentes. À conta destas intenções, os investidores já estão a sugerir que a nova empresa de Trump vale cerca de 10 biliões de dólares, cerca de 8,8 mil milhões de euros.
As pessoas que se encontram a valorizar esta nova empresa de Trump são prospetores de mercado. Não obstante as ações do Trump Media and Technology Group ainda não possam ser adquiridas, esses interessados estão a apostar em ações na Digital World Acquisition que mais não é do que uma empresa SPAC (Special Purpose Acquisiton Company, em inglês, algo como “Empresa de Aquisição de Fins Especiais”).
O objetivo de uma SPAC
Uma SPAC é uma empresa, normalmente uma holding, constituída com o propósito de levantar financiamento com vista à aquisição futura de uma outra empresa, ainda não revelada ou ainda por constituir. O objetivo de uma SPAC é levantar capital, através da entrada em bolsa (numa Oferta Pública Inicial; Initial Public Offer – IPO), tendo por detrás um grupo de pessoas que dão a cara para que essa obtenção de recursos financeiros permita adquirir outra firma.
O que está a acontecer é que se ficou a saber que a SPAC que estava a arrecadar financiamento para a empresa de Trump planeia fundir-se com os negócios de Trump.
A notícia da fusão fez com que as ações da SPAC disparassem, passando de cerca de 10 dólares cada (8,80 euros) para 60 dólares (53 euros) nas últimas quatro semanas.
Se as ações permanecerem nos 60 dólares (53 euros), os acionistas da SPAC ficarão com uma participação estimada de 2,2 biliões de dólares (1,9 mil milhões de euros) na empresa combinada após a fusão.
Os atuais proprietários da empresa de Trump – ainda não está claro qual é o interesse pessoal do ex-presidente no negócio – receberão cerca de 86 milhões de ações como parte do negócio, no valor de 5,1 biliões de dólares (4,5 mil milhões de euros).
E, assumindo que as ações permaneçam consistentemente acima de 30 dólares (26,50 euros) ao longo de cerca de um mês e meio após a fusão, os proprietários do grupo de Trump receberão 40 milhões de ações adicionais, no valor de 2,4 biliões de dólares (2,1 mil milhões de euros) aos preços de hoje. No total, isso perfaz 10 biliões de dólares (8,8 mil milhões de euros).
É muito dinheiro a circular num negócio que ainda mal surgiu, podendo prefigurar uma “bolha”.
Em geral, os investidores tendem a supervalorizar os SPAC. Num artigo de abril último, investigadores de Stanford e da Universidade de Nova Iorque analisaram 16 SPAC que se fundiram em 2019 e 2020 e que foram negociados durante, pelo menos, doze meses após as suas fusões.
A conclusão foi de que, em média, estes negócios perderam 35% do seu valor durante esse tempo, mesmo com o crescimento do mercado geral. “Este é apenas um SPAC com esteróides”, diz Michael Klausner, co-autor do estudo que trabalha como professor de direito e negócios em Stanford. “Quando se combina exagero com exagero, aumenta-se o exagero ao quadrado”.
A razão pela qual este SPAC tem tanto de hiperbólico é porque está vinculado a um dos maiores profissionais de marketing da história dos negócios americanos, Donald Trump.
Presidentes anteriores lucraram com a sua fama, fazendo discursos (caso de Bill e Hillary Clinton) e escrevendo livros (caso de Barack Obama). O facto é que, um discurso ou livro não consegue prender a atenção de muitas pessoas durante muito tempo. Vai daí, Trump pretende criar um produto que atrairá os seus seguidores nos próximos anos – uma empreitada que é mais ambiciosa e, potencialmente, mais lucrativa do que escrever um best-seller ou entrar no circuito de palestras.
Os investidores parecem estar a apostar nos enormes seguidores de Trump para dar expressão (e sucesso) ao projeto do milionário. E os números parecem apontar para isso, dado que antes de ser expulso do Facebook, Instagram e Twitter na esteira da insurreição anti-democrática de 6 de janeiro de 2021 (após o Congresso dos EUA ter sido invadido por militantes de Trump que queriam impedir a ratificação da vitória de Joe Biden nas eleições), Trump acumulou cerca de 150 milhões de seguidores nas plataformas, como o grupo de investidores da sua nova empresa orgulhosamente gosta de apontar.
Os investidores parecem estar a apostar nos enormes seguidores de Trump para dar expressão (e sucesso) ao projeto do milionário.
Por estranho que possa parecer, considerando a figura bizarra que o ex-presidente americano é, o que defende e o que faz, o facto é que há milhões de norte-americanos que continuam a idolatrar Trump. Numa pesquisa realizada no mês passado, para o “Politico and Morning Consult”, 37% dos eleitores dos EUA disseram que se envolveriam “um pouco” ou mesmo “muito” com uma plataforma apoiada por Trump.
Se, na política, Trump mostrou habilidade para agitar as massas, nos negócios Donald Trump parece saber fazer o mesmo. De facto, para uma empresa sem um efetivo produto funcional e sem um histórico financeiro real, estes números dos seus seguidores (alguns fanáticos) contam para alguma coisa e para empolar números.
O Twitter, que afirma poder exibir anúncios para cerca de 211 milhões de utilizadores por dia, atualmente tem um valor empresarial de 40 biliões de dólares (35 mil milhões de euros). Por outras palavras, os investidores avaliam este gigante das redes sociais em cerca de 189 dólares (167 euros) por cada pessoa – um argumento de marketing robusto para vender anúncios.
A nova empresa Trump Media and Technology Group ainda não fez quase nada. Mas já conseguiu levar os analistas a considerarem que é capaz de valer cerca de quatro vezes mais do que tudo o que Donald Trump possui!
Se um terço dos 89 milhões de seguidores de Trump no Twitter se tornassem utilizadores diários da sua nova plataforma – e os investidores valorizassem a sua empresa como a do Twitter – então o Trump Media and Technology Group teoricamente valeria qualquer coisa como 5,6 biliões de dólares (4,9 mil milhões de euros).
Se Trump atrair uma percentagem maior dos seus seguidores anteriores, os números, é claro, aumentariam. E se 50% desses seguidores de Trump se transformarem em utilizadores diários, o negócio de Trump poderia defender uma avaliação astronómica de 8,4 biliões de dólares (7,4 mil milhões de euros).
Mark Zgutowicz, um analista de ações que acompanha o Twitter e a Fox Corporation para a Rosenblatt Securities, não se admira que esta valorização poderia rondar os 9 a 10 biliões de dólares, algo como 7,9 e 8,8 mil milhões de euros.
É claro que o Trump Media and Technology Group precisa, entretanto, de construir um produto funcional, o que ainda não sucede.
A empresa revelou planos para uma pretenda imitação do Twitter, batizada de Truth Social, no mês passado. Mas, quase imediatamente, houve quem tenha conseguido infiltrar-se no que parecia ser uma versão inicial desse site. Uma pessoa carregou um vídeo de um porco defecando com o nome de “donaldjtrump”. Pouco tempo depois, o site foi colocado off-line.