Podia ter sido apenas um projeto escolar, mas a equipa que mais tarde fundou a Radinn tinha outros planos. Em 2013, um grupo de alunos formulou a ideia com o simples objetivo de ter uma boa nota a nível académico, mas o que criaram acabou por se tornar o negócio da qual Mathias Bergman é o diretor executivo, Calle Hakansson é o vice-presidente e Martin Malmqvist é diretor de produto (CPO).
“Antes de nós, sei que tentaram saltar de uma cascata e, claro, fizeram um filme sobre o assunto que se tornou viral”, recorda Mathias. Mas se foi assim que este produto se tornou famoso, não foi assim que se tornou no objeto indispensável para umas férias perto da água. “Entrámos em 2018 e 2019 foi a altura em que tudo começou a acontecer. Fomos mencionados numa revista de tecnologia da Suécia como uma empresa interessante a seguir. Tínhamos a ideia de que toda a gente devia ser capaz de fazer isto”, continua.
“Isto” é uma prancha elétrica e uma atividade que os responsáveis da Radinn estão confortáveis em descrever como um desporto e como um hobby. O objetivo do negócio é simples: “Tornar o surf fácil e acessível para todos”, diz Martin. O caminho para lá chegar é um pouco mais complicado, até porque “dá muito trabalho criar uma experiência fácil”, defende.
Além da criação da própria prancha e todos os seus componentes, o primeiro passo foi garantir a qualidade do produto. “Temos trabalhado arduamente na qualidade do produto, desde a qualidade das pranchas, a sua capacidade de resistir ao impacto, a qualidade de todos os componentes eletrónicos para reduzir as falhas e torná-los seguros. É nisso que temos estado a trabalhar nos últimos quatro anos”, diz o diretor de produto. A qualidade foi de tal forma trabalhada que a equipa decidiu fazer-lhe o maior dos testes: colocar as pranchas para aluguer em vários resorts do mundo e deixar que as pranchas sejam extremamente usadas.
“Desde 2018 quisemos estar presentes em resorts e centros de aluguer, por isso estamos a construir uma grande rede. Estamos a ser contactados por alguns resorts fantásticos de cinco estrelas, mas também por centros de aluguer locais onde se pode alugar pranchas de paddle e coisas do género. Estamos a construir uma rede onde se pode experimentar antes de comprar. Basta ir a um centro de aluguer, reservar o produto e sair a surfar. Nesse sentido, já estamos a disponibilizar o produto a pessoas que talvez não possam comprar um brinquedo por 12 mil de euros. Isso faz realmente parte da nossa estratégia de enviar a mensagem e criar consciência do nosso nome, mas também do desporto, da atividade”, diz Calle.
O preço é a segunda fase do processo, esta ainda em execução neste momento. O valor destas pranchas chega muito perto dos 12 mil euros, o que acaba por interferir no objetivo de tornar a experiência acessível a todos. Mas baixar o valor também não tem sido tarefa fácil.
“Eu diria que o desafio principal para baixar o preço é o facto de o produto ser, de facto, uma tecnologia extremamente avançada. Contém muitos componentes diferentes que são muito caros e difíceis de obter e que exigem muito trabalho para funcionar. Tantas peças diferentes de tecnologia e técnicas de fabrico que se juntam e que, naturalmente, custam muito dinheiro”, diz Martin e Calle acrescenta: “Estamos também dependentes dos preços do mercado mundial. Os preços subiram, o que significa que os nossos custos subiram”.
E quando o fator preço estiver ao nível que a equipa quer? A partir daí, o céu é o limite.
“Acreditamos que quando chegarmos a um ponto de preço de 8 ou 9 mil euros teremos um mercado significativamente maior. Mas há tantas possibilidades técnicas e de fabrico com este produto. Até agora, temos estado numa jornada pela qualidade. A qualidade está assegurada, a seguir vem a jornada dos preços, a redução dos custos. Quando tivermos um controlo sobre isso, saberemos qual o caminho a seguir e em que produtos nos devemos concentrar no futuro”, acrescentam pensando nas várias possibilidades de produtos que podem vir a criar uma vez que já têm a tecnologia em mãos. Uma pista: “Construímos uma plataforma que funciona em várias áreas de aplicação. Esta é a primeira, mas podemos utilizar para muitas outras finalidades. Tanto na água como em terra”.
Ao estilo de cada um
Se o objetivo é que seja acessível, consequentemente não se trata de uma atividade que poucos consigam fazer. Não é preciso qualquer experiência no surf e a maioria das pessoas consegue manter-se de pé logo na primeira experiência em cima de uma destas pranchas. Ainda assim, tem as suas dificuldades: “É mesmo uma sessão de treino”, garante Mathias.
“Temos uma grande bateria que ligamos à prancha, depois de a carregarmos na garagem ou noutro local. Na mão têm um controlo remoto com um botão e o que ele faz é regular a velocidade. Basicamente, basta subir para a prancha, carregar no botão e pronto. E depois usar o corpo para a controlar, virando para a esquerda ou para a direita, como faria em qualquer outra prancha de desportos aquáticos”, diz Martin.
A bateria tem uma duração de cerca de 45 minutos, ainda que tudo dependa da forma como decorre a sessão. Para um iniciante, por exemplo, que não usa muito a velocidade ao início, a bateria dura cerca de uma hora. Ainda que pareça pouco, o mais curioso é que quem experimenta acaba por ficar contente com a pausa para mudar ou recarregar a bateria, devido ao cansaço.
Recarregar a bateria demora duas horas, daí que a opção de ter mais do que uma seja tão atrativa. Foi a pensar nisso que a equipa optou por dividir o produto final em componentes e dar a possibilidade de o cliente os comprar também em separado. “Temos a bateria, que é um módulo, temos a prancha, que é outro módulo, e depois temos a unidade a jato, que é um terceiro módulo. Se construirmos tudo numa só unidade, se alguma coisa avariar é um pesadelo transportá-la para algum sítio para ser reparada. Dividir tudo nestas três unidades tem sido a chave do sucesso. Isso também nos dá a oportunidade de ter diferentes formas de pranchas que podem ser alternadas, mas que continuam a ter o mesmo motor a jato e a mesma bateria. Também nos dá a oportunidade de ter várias baterias”.
As opções também não se esgotam na forma como cada um escolhe usar esta prancha. Seja para tentar fazer as acrobacias mais arriscadas e sentir uma dose extra de adrenalina ou apenas para dar um passei e explorar a área envolvente. O local também depende da escolha de cada um, entre o mar, rio ou lagos, a única coisa que é essencial é a presença de água. Os consumidores da Radinn estão espalhados por 87 países, com os Estados Unidos e a Europa no topo da lista dos principais mercados.
Selo de aprovação dos atletas
“De 2018 a 2021, crescemos cerca de duas ou três vezes por ano, o que foi um número de crescimento extremo para nós. Tivemos o dobro das encomendas que podíamos atender em 2021. Tempos muito especiais, em que as pessoas não viajavam e passavam mais tempo em casa. Depois disso, os últimos dois anos foram mais ou menos planos. Não é que não haja clientes suficientes, mas sim o facto de os nossos revendedores terem as suas soluções de financiamento limitadas devido a situações mais difíceis com os bancos”, diz Calle.
Mas o diretor executivo da empresa realça que o crescimento não se vê apenas nos números de vendas, mas também na comunidade que estão a criar entre os diferentes players. “Trata-se de crescer com revendedores e distribuidores em todo o mundo. Não se trata apenas de vender coisas, mas também de ser capaz de as entregar. Portanto, a máquina que faz a máquina. É nisso que nos temos concentrado nos últimos anos. Ser capaz de industrializar os produtos, ser capaz de produzir em massa. O crescimento vai continuar, vamos definitivamente ver isso, estamos apenas no início”, diz Mathias.
Para os consumidores o conceito de comunidade também não fica perdido. Todas as pranchas estão conectadas ao lado digital, através de uma aplicação ou um smart watch. Desta forma, cada pessoa pode acompanhar o seu próprio percurso e crescimento, ao mesmo tempo que se conecta com amigos que também usam as pranchas.
E os surfistas, farão parte desta comunidade?
Estes são os que conhecem melhor a atividade, mas na sua modalidade a prancha não vem com uma bateria incluída. As mudanças nem sempre são bem recebidas, mas a equipa da Radinn garante: Os que experimentam, gostam.
“Eu diria que foi o mesmo que aconteceu quando o kitesurf chegou. No início era muito: ‘não és bem-vindo’. Talvez seja a mesma coisa aqui, mas eu diria que isto é apenas um complemento aos olhos deles. É só explorar coisas novas”, afirma Mathias.
Um bom exemplo disso mesmo é o surfista Ítalo Ferreira, o primeiro campeão olímpico da modalidade. O brasileiro foi um dos que experimentou a prancha e gostou. “Sabem porquê? Ele podia finalmente fazer atividades aquáticas com os seus amigos, para se divertirem juntos na água. Além de ele ter feito umas voltas fantásticas e de ter começado a saltar e a brincar com a prancha, foi uma coisa social para ele”, diz Martin. Subir para uma prancha ao lado de um dos melhores surfistas do mundo não deve mesmo ser tarefa fácil, mas desta forma foi possível.