“Queremos contribuir para colocar a Caparica no mapa juntamente com os destinos de praia mais emblemáticos da Europa”

Constituído em 2016, em Essaouira, Marrocos, o MOGA é um festival boutique dedicado à música eletrónica e inspirado pela cultura boémia, que combina diferentes tipos de atividades (como música, surf, yoga, talks, gastronomia e exposições artísticas) com as características culturais de cada destino onde se realiza. Este evento artístico-cultural tem expandido a sua atuação a diversas geografias.…
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Um grupo de franceses instalou-se na Costa da Caparica para criar um festival de música eletrónica que mistura surf, yoga, talks, gastronomia e arte. Pelo meio, está a investir noutros negócios. A propósito do MOGA, que acontece de 28 de maio a 1 de junho, Matthieu Corosine, co-fundador do festival, fala do evento e de como vai provocar um impacto de 13M€ na economia local.
Forbes Life

Constituído em 2016, em Essaouira, Marrocos, o MOGA é um festival boutique dedicado à música eletrónica e inspirado pela cultura boémia, que combina diferentes tipos de atividades (como música, surf, yoga, talks, gastronomia e exposições artísticas) com as características culturais de cada destino onde se realiza.

Matthieu Corosine

Este evento artístico-cultural tem expandido a sua atuação a diversas geografias. Após três edições em Essaouira, em 2021, deu-se a primeira edição em Portugal, na Costa da Caparica (MOGA Caparica).

O grupo de produtores do evento, os franceses da Rhytmic Dragon, que organizam o Festival MOGA, acreditaram nas potencialidades do país e, além do festival que organizam, começaram a investir também em negócios ligados à restauração, ajudando a transformar a Costa da Caparica.

O co-fundador do festival, Matthieu Corosine fala à Forbes do impacto deste festival na Costa da Caparica e aborda ainda os planos futuros.

O que quer dizer MOGA? Como descreve o conceito por trás do MOGA a alguém que nunca ouviu falar do festival e o que o diferencia de outros festivais de música eletrónica na Europa e no mundo?
Inicialmente, o nome MOGA vem de Mogador (dado pelos portugueses), o antigo nome de Essaouira, em Marrocos – uma cidade cheia de património cultural e um cenário único ao longo da costa atlântica. Foi aí que tudo começou, e o espírito de Essaouira ainda está presente em tudo o que fazemos: abertura, autenticidade, criatividade e uma forte ligação aos locais que visitamos. Mas com o tempo, o MOGA tornou-se algo mais do que um local – tornou-se uma mentalidade e uma tribo. O conceito é construído em torno de três pilares: comunidade, experiência e destino. Não produzimos apenas um festival de música; criamos viagens com curadoria em lugares mágicos que misturam música eletrónica com cultura local, bem-estar e conexão. O que nos distingue é a intimidade e a alma – não se trata de massificação, mas de momentos significativos partilhados entre pessoas de todo o mundo.

“Não produzimos apenas um festival de música; criamos viagens com curadoria em lugares mágicos que misturam música eletrónica com cultura local, bem-estar e conexão”

O MOGA vai muito além da música. Como pensaram esta combinação de música, surf, yoga, gastronomia e talks?
Foi muito orgânico. Queríamos construir algo que refletisse o nosso próprio estilo de vida e interesses – e o da nossa comunidade. A nossa tribo é composta por pessoas criativas, curiosas e abertas que não viajam apenas para festas. Elas viajam em busca de significado, inspiração e conexão. Por isso, decidimos misturar bem-estar, cultura de surf, gastronomia local e slow travel com música eletrónica – e a resposta tem sido incrível. As pessoas vêm pela música, mas ficam pela vibração.

“As pessoas vêm pela música, mas ficam pela vibração”

No fundo não queríamos criar apenas mais um festival de fim de semana em que as pessoas vêm, festejam e vão embora. Desde o início, a nossa intenção era fazer da cidade anfitriã a verdadeira cabeça de cartaz da experiência. Ao ativar todos estes elementos – surf, ioga, gastronomia, palestras – conseguimos envolver atores locais e convidar o nosso público a descobrir verdadeiramente o que a cidade tem para oferecer. Isto cria uma experiência mais profunda e envolvente para todos os envolvidos.

Em 2025, o MOGA vai realizar-se também em Cádis e possivelmente no Senegal. Que critérios seguem na escolha dos destinos?
Procuramos destinos com alma – lugares que ainda estão um pouco fora dos circuitos habituais, que têm uma forte identidade local e que se alinham com os nossos valores de comunidade e sustentabilidade. Também queremos contribuir para locais que estejam a desenvolver a sua oferta cultural ou turística. O nosso objetivo não é apenas dar uma festa, mas sim fazer parte do ecossistema local e deixar uma pegada positiva.

Queremos levar a nossa tribo – a nossa comunidade – a descobrir estes lugares. O MOGA está profundamente ligado a um estilo de vida costeiro, por isso, naturalmente, selecionamos os nossos locais com isso em mente. Mas não se trata apenas de praia – também procuramos destinos ricos em cultura e património, onde a nossa comunidade possa realmente aprender, estabelecer ligações e expandir os seus horizontes. Cada local torna-se parte da história e o nosso público cresce com cada viagem.

“O nosso objetivo não é apenas dar uma festa, mas sim fazer parte do ecossistema local e deixar uma pegada positiva”.

Neste momento, o MOGA acontece em que locais?
Atualmente, o MOGA tem lugar em dois locais-chave: Essaouira, em Marrocos, e Costa da Caparica, em Portugal. Em 2025, estamos oficialmente a expandir-nos para Espanha com o MOGA Cádiz, que terá lugar de 3 a 6 de julho na Playa El Palmar – um local costeiro bonito e descontraído que se alinha perfeitamente com os nossos valores e vibração.

Quanto a Dakar, é um projeto que nos é muito caro. Explorámo-lo profundamente e ainda estamos à espera do alinhamento certo dos planetas e das oportunidades para o tornar realidade. Ainda não está no calendário, mas está definitivamente no nosso radar.

O que vos atraiu inicialmente na Costa da Caparica ao ponto de escolherem este destino para expandir o MOGA?
Sentimos algo especial na Caparica – fica mesmo ao lado de Lisboa, mas ainda tem uma energia crua e autêntica. É um sítio em transição, com uma comunidade criativa em crescimento e uma natureza incrível. O pôr do sol, o surf, as pessoas – pareceu-nos o local perfeito para a MOGA criar raízes na Europa. Fez-nos lembrar Essaouira em muitos aspetos: uma cidade costeira com uma alma profunda.

Na verdade, é um lugar que descobrimos em 2016, quando organizámos uma versão pop-up portuguesa do nosso outro festival, Les Plages Électroniques (Cannes). Já nessa altura, ficámos impressionados com a atmosfera e o potencial. Sempre quisemos voltar, e quando o MOGA começou a crescer, sabíamos que era o encaixe perfeito. A ligação era natural e era apenas uma questão de tempo.

“O pôr do sol, o surf, as pessoas – pareceu-nos o local perfeito para a MOGA criar raízes na Europa”.

Como têm trabalhado com a comunidade local da Caparica? Que tipo de sinergias foram criadas?
Desde o início, fizemos um esforço real para nos integrarmos na cena local – trabalhando em estreita colaboração com restaurantes, artistas locais e pequenas empresas. Uma das principais formas de o fazermos é através do programa OFF, onde organizamos eventos gratuitos por toda a cidade: festas na praia, palestras, espetáculos de arte, cinema ao ar livre, etc. Isto ajuda a espalhar a energia do festival e também prolonga a experiência, para que a nossa tribo fique mais tempo e contribua mais para a economia local.

Vemos realmente o MOGA como uma plataforma para o ecossistema local. Com o programa Hotspot, por exemplo, os festivaleiros podem descobrir espaços locais e obter descontos ou ofertas gratuitas, o que impulsiona o negócio diretamente para os nossos parceiros.

E é importante para nós que o festival se mantenha acessível à comunidade local. É por isso que mantemos os eventos OFF gratuitos e oferecemos descontos especiais durante o evento principal para as pessoas da Caparica. Queremos que toda a cidade se sinta envolvida – e não excluída.

“Vemos o MOGA como uma plataforma para o ecossistema local”

Que impacto real já sentem que o MOGA teve na região em termos económicos, culturais e sociais?
Desde a sua primeira edição em Portugal que o MOGA Caparica tem vindo a crescer significativamente, com forte reconhecimento e visibilidade internacional. O evento tem vindo a captar um crescente número de turistas que se deslocam a Portugal com o objetivo específico de participar no evento. Em 2024, acolheu 59 nacionalidades distintas, o que reforça o seu caráter e reconhecimento global. Prevê-se, em 2025, um total de 25.000 visitantes nos 5 dias de evento. Prevê-se a contratação direta de 100 colaboradores, aos quais acrescem aproximadamente 200 trabalhadores de empresas fornecedoras. De notar, ainda, que o evento irá acolher cerca de 50 artistas internacionais e 50 locais/ nacionais.

Numa perspetiva conservadora, considerando 25.000 pessoas esperadas no evento, estima-se que 20.000 pessoas necessitem de acomodação/ hotel e refeições (75% de público estrangeiro e 5% proveniente de outras regiões do país). Considerando um valor médio de 70€/dia em alojamento/ acomodação e de 25€/dia em refeições, perspetiva-se um impacto direto estimado em 1.900.000 € nos cinco dias em que decorre o evento.

Acrescem, ainda, os custos com transporte: considerando que 40% dos visitantes diários provenientes do estrangeiro ou de outras zonas do país recorrem a transportes públicos, tendo por base um custo diário de 5.00€, estima-se um total de 40.000 €. Por último, considerando que 10% dos turistas (nacionais e internacionais) adquirem um souvenir ou um produto local, característico da região, assumindo um preço médio de 6,50€, perspetiva-se um total de 13.000 €.

Culturalmente e socialmente, além de toda a programação que, como referi, distingue-se pelas várias áreas que abrange e tipo de atividades de conexão, deixo aqui um pequeno, mas poderoso exemplo que foi o mural de arte de rua que fizemos no ano passado com um artista marroquino (Dais) e a equipa local dos Malibu Ninjas. Transformou um muro que estava constantemente degradado, e os habitantes locais ainda nos agradecem por termos tornado aquele espaço novamente bonito. Pequenas coisas como esta mostram que estamos aqui para contribuir, não apenas para acolher um evento.

A organização perspetiva um impacto direto estimado em 13 milhões de euros nos cinco dias em que decorre o evento.

Porque decidiram incluir o nome Caparica no título do festival, mesmo sendo desaconselhados a fazê-lo no início? E, já agora, o motivo desse conselho que vos deram?
No início, aconselharam-nos a não atravessar a ponte – a Caparica tinha uma reputação. Era vista como menos segura, “demasiado popular” num sentido negativo, e não tão polida como as zonas mais nobres a norte. Mas nós sempre discordámos dessa opinião.

Para nós, a Caparica tinha todos os ingredientes certos: uma praia de 20 quilómetros de areia branca surfável, a apenas 20 minutos de Lisboa, cheia de energia, criatividade e autenticidade. Esta mistura foi exatamente o que nos fez querer vir para cá – e contribuir para colocar a Caparica no mapa juntamente com os destinos de praia mais emblemáticos da Europa.

Incluímos “Caparica” no nome porque temos orgulho no sítio onde estamos. Para nós, a Caparica é a verdadeira cabeça de cartaz do festival – e dizemos isto com sinceridade, não como um slogan. O local em si é o que inspira tudo o que construímos à sua volta.

“Queremos contribuir para colocar a Caparica no mapa juntamente com os destinos de praia mais emblemáticos da Europa”

Este projeto nasce também de uma aposta cultural e empresarial de um grupo de franceses na Costa. Que visão têm para a região nos próximos anos?
Vemos a Caparica como um local cheio de potencial – mas a chave é desenvolvê-la de uma forma inteligente e sustentável, preservando a sua autenticidade. Se for bem feito, pode tornar-se algo verdadeiramente único: uma mistura entre Ibiza e Mykonos, mas com uma configuração muito mais natural e um desenvolvimento orgânico. O município atual está a fazer um excelente trabalho na defesa dessa visão.

Já tem todos os ingredientes – uma bela linha costeira, a cultura do surf, uma comunidade criativa em crescimento e uma energia descontraída que atrai centenas de milhares de pessoas durante todo o ano. A nossa visão é que a Caparica se torne um destino de topo para o turismo sustentável, em que o crescimento não se faça à custa daquilo que a torna especial. Queremos fazer parte dessa evolução a longo prazo, ajudando a moldá-la com cuidado e criatividade.

“A nossa visão é que a Caparica se torne um destino de topo para o turismo sustentável, em que o crescimento não se faça à custa daquilo que a torna especial”.

Qual foi a lógica que vos levou a investir nesta zona em restaurantes como o Alma e o Dr. Bernard? Em que medida se relacionam com o MOGA?
O Alma e o Dr. Bernard fazem definitivamente parte desta filosofia, mas poderíamos citar muitos outros sítios também – Lorosae, Aura, Nuaa, The Wet Patch, Huracan… Todos estes sítios representam o verdadeiro estilo de vida da Caparica: descontraído, aberto, relaxado, criativo.

O co-fundador do festival MOGA, Matthieu Corosine

Para nós, são mais do que locais – são extensões do espírito MOGA. Investir tempo e energia nestes locais ajuda-nos a mantermo-nos ligados à vibração local durante todo o ano, e não apenas durante o festival. Também nos dá plataformas para acolher eventos mais pequenos, criar comunidades e apoiar um estilo de vida em que acreditamos verdadeiramente.

Há mais investimentos previstos do vosso lado para a zona da Costa da Caparica? Se sim, quais?
Sim, estamos a trabalhar em vários projetos novos – incluindo um possível conceito de hospitalidade que misturaria música, bem-estar e residência criativa. Acreditamos no crescimento lento, por isso tudo o que fazemos é intencional. A Caparica está a tornar-se uma segunda casa para nós e tencionamos fazer parte da sua história a longo prazo.

“Estamos a trabalhar em vários projetos novos – incluindo um possível conceito de hospitalidade que misturaria música, bem-estar e residência criativa”

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