Nasceu no Fundão e quer revolucionar a indústria da construção civil. A Camada é uma startup fundada por dois engenheiros informáticos, Pedro Silva e Bruno Gomes, ambos a terminar o mestrado na Universidade da Beira Interior, e oferece um sistema de sistema print on demand de impressão 3D em betão. “Ficámos muito interessados no tema da impressão 3D de betão pela sua automatização e por aquilo que já é possível fazer com o segundo material mais consumido do mundo”, explica à FORBES Pedro Silva, CEO. O mesmo responsável adianta que hoje já é possível imprimir não só pequenos elementos decorativos como mobília urbana e também edifícios inteiros, mas que perceberam que ainda não havia um único sítio onde as pessoas pudessem consultar projetos de impressão em 3D em betão. Ou seja, a dupla queria muito entrar nesta indústria, mas sem capacidade financeira para comprar a impressora, equipamento bastante dispendioso, decidiu atuar onde tinha mais competências, ou seja, no desenvolvimento da tecnologia web. “Decididos criar um marketplace de print on demand, que basicamente é uma espécie de Amazon para a área dos elementos impressos em betão, em 3D”, explica.
“Queremos ser uma empresa que contribui para a mudança entre a utilização do betão, que é algo poluente, para materiais mais amigos do ambiente”
Pedro Silva, CEO
A plataforma foi lançada no início do mês de março e apenas está disponível por convite, mas já tem cerca de 40 utilizadores, cada um deles com direito a três convite para oferecer. “Não imprimimos, mas ligamos vários parceiros por todo o mundo, que fazem a impressão, aos seus clientes, sobretudo arquitetos e designers. No entanto, já estamos a falar com algumas empresas para que o produto disponibilizado no marketplace não sejam apenas pequenos elementos decorativos, mas que possamos vir a ter também casas, edifícios ou elementos estruturais”, revela Pedro Silva. A Camada está focada em ligar arquitetos e designers de interiores a este tipo de tecnologias através da plataforma e procura mais interessados em fazer parte desta comunidade. Mantém parcerias com empresas de impressão 3D em betão na Holanda, na Áustria, no Japão e está em conversações com empresas nos Estados Unidos.
Um Marketplace de criatividade
“A impressão 3D dá-nos uma liberdade de design que não é possível com os métodos tradicionais e, por isso, vemo-nos como muito como um marketplace de criatividade. O que pretendemos é ter pessoas criativas a desenharem elementos decorativos, mobília e também edifícios que possam ser impressos e vendidos através da nossa plataforma”, revela Pedro Silva. Este responsável explica ainda que a grande vantagem para as empresas parceiras é que podem focar-se na qualidade da impressão enquanto a Camada trata de toda a automatização de venda, do marketing, e dos conceitos que estão a vender. A cargo da Camada ficam também as questões da logística, através de parceiros de shipping, automaticamente ligados à plataforma. “São peças pesadas, que vêm em paletes, e é preciso ter condições extra de entrega”, explica Pedro Silva.
Já estamos em conversações com várias empresas de impressão 3D nos Estados Unidos para automatizar o processo de planeamento e construção”
Pedro Silva, CEO
“Estamos muito focados nesta indústria, que automatiza bastante a construção, e já estamos em conversações com várias empresas de impressão 3D nos Estados Unidos para automatizar o processo de planeamento e construção, pelo menos da estrutura vertical dos edifícios. Ou seja, estamos a trabalhar para que, de futuro, os nossos utilizadores consigam escolher o local onde querem imprimir a sua casa, planear a sua casa, que é depois aprovada pelos parceiros e impressa on demand”, diz Pedro Silva. Este responsável afirma ainda que a ambição da empresa é criar um sistema just in time da construção. “Grande parte das empresas de construção têm um sistema just in case, ou seja, produzem e depois procuram comprador, produzem para stock. Nós acreditamos que podemos reduzir imenso as ineficiências do mercado da construção ao ter um sistema just in time, em que as casas são produzidas consoante a procura”, diz. E, como imprimir uma casa tem ainda custos elevados, a solução é criar um sistema que angarie clientes suficientes que justifique os custos de operação e de impressão, e para isso procuraram parceiros que pretendam criar comunidades para a impressão de casas 3D.
“Queremos automatizar a indústria da construção civil, de forma a ser uma indústria com muito menos desperdício, mas também queremos ser uma empresa que contribua para a mudança entre a utilização do betão, que é algo poluente, para materiais mais amigos do ambiente. Ambicionamos fazer parte deste mercado, contribuir para esta mudança, queremos ter os nossos próprios projetos e uma plataforma que vá melhorando ao longo do tempo, de forma a respirar eficiência”, diz Pedro Silva. Para já, todo o projeto tem sido autofinanciado, mas a procura de investidores para o seu crescimento futuro não está fora dos planos, sendo que para isso é necessário a melhoria contínua da plataforma.
A Camada venceu, no ano passado, o bootcamp do projecto YEB – Young Entrepreuneurs Boosting, da Associação Empresarial da Beira Baixa, que tem como objetivo capacitar empreendedores de regiões e territórios de baixa densidade, e foi criada com o apoio deste projeto, que pretende assim impulsionar o empreendedorismo na região.