A fintech ryd nasceu na Alemanha para atuar na área de pagamentos digitais no setor de mobilidade de veículos, mas tem vindo a apostar na expansão na Europa. Portugal e Espanha são dois dos mercados onde a fintech decidiu investir com o propósito de facilitar a vida aos consumidores para que paguem combustível, lavagens e outros serviços diretamente a partir dos seus carros. A recente parceria com a Repsol é uma das estratégias para cumprir este propósito. Verónica Pestana é a gestora à frente dos mercados português e espanhol que conta com uma longa carreira em multinacionais do mercado corporate das TELCO. Hoje fez a transição para o mercado fintech e assume que o que pode ser no início um choque cultural também pode acabar por ser estimulante e enriquecedor.
Como está estruturado o negócio da ryd?
A ryd é uma plataforma digital de pagamentos de combustível com headquarter em Munique com footprint europeu, apostamos maioritariamente nos mercados B2B e no B2B2C. É nosso objetivo atingir uma cobertura geográfica de 100% com parceiros e clientes satisfeitos. Estamos seguros em entregar uma experiência excecional aos nossos parceiros e clientes, eles são os nossos melhores embaixadores que contribuem para o crescimento orgânico da plataforma.
De que forma o vosso serviço tem facilitado a vida dos utilizadores?
Somos a solução conveniente para os consumidores que desejam simplificar o processo de pagamento de combustível de forma rápida e segura. Com a capacidade de pagar digitalmente, os utilizadores podem economizar tempo e esforço, permitindo-lhes focar no que é mais importante para eles. A ryd demonstra como a tecnologia pode ser utilizada para tornar tarefas quotidianas mais confortáveis, eficientes e de uma forma simplificada.
Mas face à oferta no mercado como a plataforma se diferencia?
A ryd é muito mais do que uma app, é um ecossistema de pagamentos. Somos a única plataforma na Europa que oferece aos clientes o in car payment, uma forma inovadora e conveniente que os clientes paguem combustível, lavagens e outros serviços diretamente desde o conforto dos seus automóveis, de forma simples, mais conveniente e agradável.
Quais as estratégias e parcerias no terreno que têm contribuído para o crescimento da empresa em Portugal?
A ryd conta com o apoio de investidores respeitáveis como a Mercedes, Mastercard e BP, marcas reconhecidas que certamente adiciona credibilidade e confiança à nossa plataforma. Estamos convictos que o mercado ibérico é um early adopter das novas tecnologias, por isso atrai clientes e parceiros no mercado ibérico como a Repsol, Avia, Q8, empresas de mobilidade, seguradoras, etc. A nossa estratégia assenta numa parceria “win -win”, como forma sustentável de crescimento. Todos temos de beneficiar das parcerias, para que as relações empresariais sejam fortes e duradouras, resultando no crescimento mútuo. Este é um lema que creio ser fundamental para o sucesso de longo prazo da ryd e para o desenvolvimento de um ecossistema de negócios próspero em torno da plataforma.
Com quantos colaboradores contam em Portugal?
Atualmente contamos com mais de 150 colaboradores na Europa e em Portugal contamos atualmente com 14, com perspetivas de crescimento acompanhando a expansão do negócio.
Enquanto gestora já esteve ligada a outros setores de atividade. Como foi a transição para uma área ligada às fintech?
Grande parte da minha carreira foi efetuada em multinacionais, tenho mais de 16 anos no mercado corporate das Telco com grande ligação a uma cultura escandinava, que certamente me preparou para a diversidade, respeito, e gosto por novos desafios, por isso a transição para a ryd foi entusiasmante. Trabalhar em um ambiente Agile, delineados por sprints, orquestrados por scrum masters, dependente de QA, backend, frontend etc., etc. quase me parecia um idioma novo, vou confessar. Mas na verdade o que pode ser no início um choque cultural quando comparado com estruturas corporate, também pode acabar por ser extremamente estimulante e enriquecedor. Adicionalmente, a colaboração com uma equipa jovem e com boa energia resultou nesta experiência inspiradora com perspetivas de crescimento pessoal e profissional.
Quais os desafios que enfrenta ao liderar dois mercados tão díspares não só em termos de dimensão, mas também de características de consumo?
Liderar dois mercados tão distintos quanto o mercado de telecomunicações e o mercado das fintech com uma plataforma de pagamentos digitais apresenta uma série de desafios, posso ilustrar alguns. Diferenças nos modelos de negócios: O mercado de telecomunicações e o mercado das fintech operam com modelos de negócios muito diferentes. O primeiro geralmente concentra- se em vendas de hardware e planos de serviço, o segundo envolve transações financeiras e serviços digitais e muita inovação tecnológica. Têm regulamentações distintas: O setor de telecomunicações e o setor de fintech são frequentemente regulamentados por diferentes órgãos reguladores e estão sujeitos a diferentes regras e padrões de conformidade. Os comportamentos de consumo diferentes: Os consumidores de produtos de telecomunicações têm necessidades e comportamentos de compra muito diferentes daqueles que utilizam serviços financeiros digitais. A segurança e privacidade: Os serviços financeiros digitais lidam com informações financeiras sensíveis dos usuários, enquanto os serviços de telecomunicações podem envolver mais facilmente dados pessoais dos clientes. Parcerias e integrações: O mercado TELCO é um mercado de fast consumer goods, já o mercado das fintech, por vezes, é um processo complexo que exige uma grande gestão de projetos, por vezes caracterizado por um slow business ao integrar-se aos sistemas e redes de parceiros.
No papel de gestora quais as máximas de que não abdica para liderar equipas?
Integridade e transparência: Agir com honestidade e transparência em todas as interações, mantendo os mais altos padrões éticos em todas as áreas de operação. Colaboração e empoderamento: Promover uma cultura de comunicação aberta, colaboração e empoderamento dentro da equipe, dando às pessoas a oportunidade de por vezes errar por via da autonomia para tomar decisões e buscar soluções. Criação de valor: Priorizar as necessidades e experiências dos clientes e parceiros garantindo que todas as decisões tomadas estejam alinhadas com a criação de valor. Adaptação e resiliência: Estar preparada para enfrentar desafios e mudanças no ambiente de negócios, sendo flexível e resiliente para me adaptar e prosperar em diferentes circunstâncias, sem me descaracterizar.
Ao longo da carreira sentiu que o facto de ser mulher limitou o percurso?
A minha maior limitação na carreira esteve mais relacionada com o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, pois sou mãe de dois filhos e nem sempre conciliar a vida profissional com as responsabilidades da vida pessoal é uma tarefa fácil. Contudo tive o privilégio de estar muitos anos numa empresa do norte da Europa com políticas governamentais voltadas para apoiar as mulheres no sentido de equilibrar suas carreiras com responsabilidades familiares, criando assim ambientes de trabalho mais inclusivos e equitativos.
A liderança no feminino faz realmente a diferença?
Eu acredito que a liderança no feminino pode trazer benefícios significativos para as organizações, especialmente quando combinada com princípios de meritocracia. Reconhecer e promover mulheres para cargos de liderança com base nas suas habilidades e méritos individuais não apenas fortalece a diversidade e a inclusão, mas também contribui para um ambiente de trabalho mais justo e eficaz.
Muitas vezes são as mulheres que abdicam da ascensão na carreira em prol da componente familiar. No seu caso, como lida com este facto?
Eu, também enfrentei esse desafio do equilíbrio/ pessoal/profissional, mas além de ter incluído alguns limites claros entre trabalho e vida pessoal, tive de delegar tarefas quando possível e tive de priorizar o tempo de qualidade com a família. Tive a grande a sorte de ter uma estrutura de apoio familiar fantástica (avós e marido) que me ajudaram e incentivaram a continuar apesar dos desafios com algumas tomadas de decisão desafiantes durante o percurso.
Ainda sobra tempo para hobbies?
O desporto sempre fez, faz e fará parte fundamental do meu equilíbrio, pelo que nunca o deixei para trás nem que fosse apenas um pequeno jogging de 5K ou umas braçadas numa piscina, pois os ténis e o fato de banho estão sempre disponíveis na mala de viagem.
Um livro, um filme e um lema que estão sempre presentes?
O livro: “Endurance (nova edição): A Lendária expedição de Shackle-ton à Antártida”. Um filme: “Pursuit of Happiness”. O lema: Carpe Diem.
Para quem aspira a uma carreira na gestão de organizações, qual o conselho que deixa?
Apenas uma última mensagem em particular para as mulheres. As limitações na carreira de uma mulher podem variar dependendo do contexto cultural, social, económico e organizacional. Sim, as responsabilidades familiares e as pressões sociais podem tornar difícil para as mulheres conciliarem carreiras com suas vidas pessoais. Contudo não parem de lutar pela vossa carreira se esse for o vosso sonho, porque sim é possível!