Foram quatro os CEO que estiveram na liderança executiva da companhia aérea portuguesa desde o ano 2000, data em que, já com graves problemas financeiros, a TAP foi entregue a uma equipa de brasileiros que iriam pôr em marcha um plano de privatização. Muita tinta tem corrido desde então, e duas décadas depois os problemas são os mesmos. Conheça quem mandou na TAP nos últimos 23 anos.
Fernando Pinto – 2000 a 2018
Fernando Pinto foi o gestor que mais anos esteve à frente da companhia área nacional. Entrou no ano 2000 com a missão de reestruturar a empresa para a sua privatização. Anteriormente, nos anos 90, o Estado fizera um acordo para vender até 49% da operadora à Swissair, que, por falência desta última, não se concretizou, deixando-a numa situação financeira muito complicada. O Estado não poderia entrar com mais dinheiro e a solução seria privatizar. Fernando Pinto foi o executivo escolhido por Jorge Coelho, então ministro do Equipamento Social de António Guterres, para avançar com o plano. Foi uma decisão política que deixou marcas, por ser a primeira vez que uma equipa de estrangeiros vinha tomar as rédeas da companhia e pelos elevados salários que vinha auferir. Fernando Pinto fora gestor da brasileira Varig e tinha provas dadas neste setor. A primeira reivindicação que fez foi que o Governo não interferisse na gestão da empresa, e como profissional conceituado, todos lhe reconheceram as competências necessárias. Quatro anos depois esteve prestes a sair, em guerra com Cardoso e Cunha, presidente do conselho de administração da Holding TAP, mas acabou por se manter, ficando mais alguns anos. Foi António Mexia, então ministro das Obras Públicas, que segurou Fernando Pinto na gestão, negociando uma descida de salário, uma remuneração anual que ascendia na época a 420 mil euros, tornando-o o gestor mais bem pago do Estado. Sob o seu comando, a companhia mudou a sua gestão e a sua cultura empresarial, e foi preparando o terreno para a privatização, que só viria a acontecer anos mais tarde. Pelo meio, ainda fez compras, com a aquisição da VEM – Varig Engenharia e Manutenção, negócio muito contestado, da Portugália e da empresa de handling Grounforce. Nesta fase de preparação de uma privatização demorada, a empresa registou lucros alguns anos e prejuízos outros tantos. Em 2015 chegou o acordo de privatização com o Consórcio Gateway, composto pelo empresário americano David Neeleman, da companhia área Azul, e o português Humberto Pedrosa, para venda de 61% da companhia.
Antonoaldo Neves – 2018 a 2020
Com a privatização em curso começou a manifestar-se a necessidade de ter uma nova equipa executiva, escolhida pela Parpública, empresa pública que detinha a parcela do Estado, e pelos novos acionistas da Atlantic Gateway. A escolha para CEO recaiu sobre Antonoaldo Neves, brasileiro, e também com nacionalidade portuguesa, que já estava ligado à empresa como Chief Commercial Officer (CCO) e participou ativamente na privatização da mesma. Com apenas 42 anos, tinha já vasta experiência na área da aviação, tendo passado pela presidência da Azul, Linhas Aéreas, a companhia de David Neeleman, empresa que ajudou a internacionalizar. Licenciado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de S. Paulo, foi ainda partner da McKinsey e membro do conselho de administração da Infraero, empresa brasileira de aeroportos.
Com a decisão do Governo voltar a nacionalizar a TAP, recomprando parte das ações da David Neeleman e ao tomar controlo acionista da companhia, com 72% das ações, Antonoaldo é convidado a deixar a presidência. Depois de algumas semanas de negociações, o executivo saiu sem indeminização, mas recebeu os salários devidos até ao fim do contrato, ou seja, dezembro de 2020.
Ramiro Sequeira – 2020 a 2021
Ficando a TAP sem CEO foi encontrada uma solução interna até à eleição de um novo presidente executivo. Ramiro Sequeira, Chief Operating Officer (COO), na operadora desde 2018, assumiu o lugar. Ficou como interino, pois o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, comprometeu-se a contratar uma empresa de gestão de Recursos Humanos para encontrar um gestor internacional. Ainda assim participou ativamente no plano de reestruturação da empresa. O gestor estava há dois anos na companhia e não tinha ainda feito sequer os 40 anos quando assumiu o cargo. Antes passara cerca de 13 anos em Madrid e Barcelona, onde desempenhara funções operacionais na IAG (Ibéria e British). Aquando da sua nomeação traçou como plano estratégico o controlo de custos e a produtividade e propunha-se estar atento às questões da pontualidade, melhorando os índices da operadora. Foi crítico em relação às recentes obras no aeroporto de Lisboa, nomeadamente as obras de criação de saídas rápidas de pista, que obrigavam o encerramento do aeroporto durante a noite. Defendia que a implementação rigorosa do plano de reestruturação era uma questão de sobrevivência para a TAP. Saiu em junho de 2021, após o Governo ter escolhido a sua sucessora e seria a primeira mulher que mandou na TAP em 23 anos.
Christine Ourmières-Widener – 2021 a 2023
A escolha de Pedro Nunos Santos para a nova CEO da TAP, em 2021, recaiu sobre Christine Ourmières-Widener, agora demitida. Engenheira aeronáutica de formação, tinha larga experiência no setor dos transportes e infraestruturas, nomeadamente na aviação, e era CEO da Flybe Group, uma importante companhia regional na Europa, com operação no Reino Unido. Antes disso, fora presidente executiva de uma sociedade de leasing no setor da aviação, tendo também passado pela Air France/KLM. Especialista em fases de reestruturação, tem mais de 30 anos de percurso profissional, e foi agora afastada, assim como Manuel Beja, chairman, pelo mediático caso da indeminização de 500 mil euros a Alexandra Reis. Fernando Medina explicou que a demissão será por justa causa para evitar o pagamento de indeminizações, mas os visados já se manifestaram contra.
Christine Ourmiéres-Widener será substituída por Luís Rodrigues, que sai da presidência da SATA, a companhia aérea açoriana, cargo que ocupou durante três anos.
Quem mandou na TAP nos últimos 23 anos fazem parte de uma história que parece não ter fim á vista.