A Rússia e vários países ocidentais trocaram 26 prisioneiros, numa operação coordenada pela Turquia.
Segundo as autoridades turcas, 10 prisioneiros, incluindo dois menores, foram transferidos para a Rússia, 13 para a Alemanha e três para os Estados Unidos.
Entre eles contam-se jornalistas, ativistas políticos veteranos e simples opositores à guerra na Ucrânia. O mais novo tem 19 anos e o mais velho 71.
Entre os russos detidos no Ocidente encontram-se alegados agentes ‘adormecidos’ que tinham uma vida dupla. Outros foram condenados por pirataria informática. Um foi preso pelo assassínio, a tiro, de um homem durante o dia num parque de Berlim.
Saíram em liberdade, na maior troca de prisioneiros civis Leste-Oeste desde a Guerra Fria.
Libertados pela Rússia e pela Bielorrússia
– EVAN GERSHKOVICH, repórter do Wall Street Journal, foi detido na cidade russa de Ecaterimburgo em março de 2023. Sem apresentar provas, as autoridades acusaram-no de “recolher informações secretas” a mando da CIA sobre uma fábrica de equipamento militar – uma alegação que Gershkovich, o seu empregador e o governo dos EUA negaram veementemente. Preso desde então, um tribunal condenou Gershkovich, 32 anos, por espionagem em julho, após um julgamento à porta fechada, e sentenciou-o a 16 anos de prisão.
– PAUL WHELAN, um executivo de segurança empresarial do Michigan, foi detido em 2018 em Moscovo, onde assistia ao casamento de um amigo. Foi acusado de espionagem, condenado em 2020 e sentenciado a 16 anos de prisão. Whelan, de 54 anos, rejeitou as acusações como sendo fabricadas.
– ALSU KURMASHEVA, com dupla nacionalidade, norte-americana e russa, foi detida em 2023 na sua cidade natal, Kazan, onde estava a visitar a mãe doente. A editora, baseada em Praga, do serviço Tatar-Bashkir da Radio Free Europe/Radio Liberty, financiado pelo Governo dos EUA, foi acusada de não se apresentar como “agente estrangeira” e foi condenada em julho por divulgar informações falsas sobre os militares russos – acusações rejeitadas pela sua família e pelo seu empregador. Kurmasheva, de 47 anos, foi condenada a 6 anos e meio de prisão.
– VLADIMIR KARA-MURZA, cidadão russo com dupla nacionalidade e proeminente político da oposição, foi detido em 2022, depois de ter criticado a guerra na Ucrânia que tinha começado semanas antes. Foi condenado em 2023 por traição e outras acusações e sentenciado a 25 anos de prisão num processo que apelida de politicamente motivado. Colunista do The Washington Post, Kara-Murza, 42 anos, foi galardoado com o Prémio Pulitzer este ano. Adoeceu em 2015 e 2017 devido a dois envenenamentos quase fatais que atribui ao Kremlin. A sua mulher e os seus advogados afirmam que a sua saúde se está a deteriorar na prisão em resultado dos envenenamentos.
– ILYA YASHIN é um proeminente crítico do Kremlin que estava a cumprir uma pena de oito anos e meio por ter criticado a guerra da Rússia na Ucrânia. Yashin, antigo membro de um conselho municipal de Moscovo, foi um dos poucos conhecidos ativistas da oposição a permanecer na Rússia desde a guerra.
– ANDREI PIVOVAROV, 42 anos, dirigia o grupo de oposição Open Russia, que as autoridades proibiram em 2021. Foi retirado de um voo e detido nesse mesmo ano. Em 2022, foi condenado por realizar atividades de uma organização “indesejável” e sentenciado a quatro anos de prisão.
– OLEG ORLOV, um veterano defensor dos direitos humanos, foi condenado por desacreditar os militares russos e sentenciado a dois anos e meio de prisão em fevereiro pelos seus protestos contra a guerra na Ucrânia. Orlov, 71 anos, é copresidente do grupo de direitos humanos Memorial, galardoado com o Prémio Nobel da Paz.
– SASHA SKOCHILENKO, 33 anos, foi condenada a sete anos de prisão em novembro de 2023 por ter substituído várias etiquetas de preço num supermercado por slogans contra a guerra.
– KSENIA FADEYEVA, LILIA CHANYSHEVA e VADIM OSTANIN são antigos coordenadores dos gabinetes regionais da falecida figura da oposição Alexei Navalny. Foram detidos depois de a rede política de Navalny ter sido ilegalizada em 2021 e posteriormente condenados por extremismo. Fadeyeva, 32, e Ostanin, 47, foram condenados a nove anos de prisão cada, e Chanysheva, 42, recebeu uma pena de nove anos e meio.
– KEVIN LIK, 19 anos, com dupla nacionalidade russo-alemã, foi detido no sul da Rússia em fevereiro de 2023 e acusado de tirar fotografias a uma unidade militar e de as enviar a um “representante de um Estado estrangeiro”. Os funcionários do tribunal afirmaram que ele se opunha à guerra na Ucrânia. Foi condenado por traição e sentenciado a quatro anos de prisão, tendo os defensores dos direitos humanos afirmado que Lik, que tinha 17 anos na altura da sua detenção, era a pessoa mais jovem a ser condenada por esse crime.
– RICO KRIEGER, um trabalhador médico alemão, foi condenado na Bielorrússia por acusações de terrorismo em junho e sentenciado à morte. Foi indultado na terça-feira pelo Presidente autoritário Alexander Lukashenko.
– DEMURI VORONIN, com dupla nacionalidade russo-alemã, é um analista político que dirigia uma empresa de consultoria que alegadamente colaborava com jornalistas. Foi detido em 2021, condenado por traição em 2023 e sentenciado a 13 anos e três meses de prisão. Foi implicado no processo de traição de Ivan Safronov, que alegadamente lhe transmitiu informações sobre as atividades militares russas, que Voronin terá depois dado aos serviços secretos alemães.
– PATRICK SCHOEBEL, de nacionalidade alemã, foi detido em fevereiro de 2024 no aeroporto de Pulkovo, em São Petersburgo, quando foram alegadamente encontradas na sua posse gomas que continham uma componente psicoativa da canábis. Estava detido desde então, acusado de tráfico de droga.
– GERMAN MOYZHES, de dupla nacionalidade russo-alemã, é um advogado especializado em migração que ajudou russos a candidatarem-se a autorizações de residência na União Europeia. Foi detido em maio em São Petersburgo e alegadamente acusado de traição, mas pouco mais se sabe sobre o seu caso.
Libertados pelo Ocidente
– VADIM KRASIKOV foi condenado em 2021 por ter morto a tiro Zelimkhan “Tornike” Khangoshvili, um cidadão georgiano de 40 anos, de etnia chechena, num parque de Berlim. Os juízes alemães concluíram que se tratou de um assassínio ordenado pelos serviços de segurança russos. Krasikov, de 58 anos, foi condenado a prisão perpétua. O Presidente russo, Vladimir Putin, sugeriu este ano uma possível troca por Krasikov.
– PAVEL RUBTSOV foi detido na Polónia sob a acusação de espionagem. É uma das várias pessoas detidas na Polónia sob a alegação de espionagem a favor da Rússia desde a invasão da Ucrânia.
– ROMAN SELEZNEV, filho de um legislador russo, foi condenado nos Estados Unidos em 2017 por pirataria informática em mais de 500 empresas e roubo de milhões de números de cartões de crédito, que depois vendeu em sítios Web. Seleznev, um cidadão russo, foi condenado a 27 anos de prisão e a pagar quase 170 milhões de dólares em restituição às suas vítimas.
– VLADISLAV KLYUSHIN, um rico homem de negócios com ligações ao Kremlin, foi condenado em Boston em 2023 por acusações que incluíam fraude eletrónica e fraude de valores mobiliários num esquema de quase 100 milhões de dólares que se baseava em informações secretas sobre rendimentos roubadas através da pirataria de redes informáticas dos Estados Unidos. Klyushin, 43 anos, que teria embolsado pessoalmente 33 milhões de dólares no esquema, foi condenado a nove anos de prisão. Foi detido na Suíça e extraditado para os EUA em 2021.
– VADIM KONOSHCHENOK, um suposto oficial do Serviço de Segurança Federal da Rússia, foi extraditado da Estónia para os Estados Unidos no ano passado para enfrentar acusações de contrabando de munições e tecnologia de dupla utilização para ajudar na guerra de Moscovo na Ucrânia. Os procuradores norte-americanos afirmam que foi detido em 2022 quando tentava regressar da Estónia à Rússia com cerca de três dúzias de tipos de semicondutores e componentes eletrónicos.
– ARTEM DULTSEV e ANNA DULTSEVA, um casal russo detido sob a acusação de espionagem em Liubliana, Eslovénia, em 2022. Declararam-se culpados na quarta-feira e foram condenados a 19 meses de prisão, tendo sido libertados com base no tempo de serviço. Fazendo-se passar por cidadãos argentinos, o casal terá usado a Eslovénia como base desde 2017 para viajar para países vizinhos e transmitir as ordens de Moscovo a outros agentes adormecidos russos. Têm dois filhos.
– MIKHAIL MIKUSHIN foi detido na Noruega em 2022, acusado de espionagem. A agência de segurança interna da Noruega, PST, afirmou que Mikushin entrou no país dizendo ser cidadão brasileiro. Segundo os investigadores noruegueses, Mikushin estava na Noruega sob uma identidade falsa enquanto trabalhava para um serviço de informações russo.
Lusa