Queda do acordo entre Europa e Mercosul? “Será trágico e catastrófico para a UE”, alerta eurodeputado Hélder Sousa Silva

O acordo entre os países da Mercosul e a União Europeia com o objetivo de criar uma das maiores zonas de livre comércio do mundo continua num impasse. Quase um ano depois ter sido assinado e após mais de 25 anos de negociações ainda não há luz verde da União Europeia, e os especialistas presentes…
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Hélder Sousa Silva acredita que o acordo pode ser concluído até ao final do ano, mas receia que não exista maioria absoluta para o fazer passar no parlamento europeu. “Existem 80 deputados indecisos que são a chave deste problema”, refere, dando o exemplo dos membros polacos, que estão “praticamente todos contra o acordo”.
Economia

O acordo entre os países da Mercosul e a União Europeia com o objetivo de criar uma das maiores zonas de livre comércio do mundo continua num impasse. Quase um ano depois ter sido assinado e após mais de 25 anos de negociações ainda não há luz verde da União Europeia, e os especialistas presentes na segunda edição do EuroAmericas Fórum, dividem-se entre o otimismo e o receio de que possa vir a cair.

“Neste momento existem 80 deputados indecisos e que são a chave deste problema. A minha preocupação é se conseguimos ter maioria para passar no parlamento europeu. Será trágico e catastrófico para a UE se perdermos este acordo”, referiu Hélder Sousa Silva, membro do parlamento europeu e presidente da delegação para as relações com a República Federativa do Brasil, no painel ‘Mercosul–Europa – Um Pacto de Longo Prazo para o Crescimento’, no evento promovido pelo Conselho da Diáspora Portuguesa e que decorre na Nova SBE, em Carcavelos esta segunda-feira.

O deputado deu o exemplo dos membros polacos que “estão praticamente todos contra o acordo”, e que a Irlanda também não está convencida. “Não nos podemos esquecer que existem governos em funções, que foram eleitos com programas que se colocavam contra os agricultores no lado da Mercosul”, salientou.

Ainda assim, Hélder Sousa Silva acredita que o processo fica terminado até ao final deste ano. “Queremos aproveitar a oportunidade de ser o presidente Lula da Silva a finalizar este acordo. Ou fechamos este acordo ou passamos para outro”, realçou.

Por sua vez, Gabriel Petrus, antigo chefe de parcerias estratégicas na câmara internacional de comércio do Brasil, assume que é preciso garantir que os países do G-20 estão com a Europa. “É fundamental, numa altura em que as fronteiras estão ameaçadas. A Europa tem de sair da encruzilhada com os Estados Unidos e a China”, afirmou.

Para Gabriel Petrus, o principal equivoco deste acordo no debate europeu é a desinformação. “Este acordo não retira a liberdade do consumidor, ele aumenta. É importante que se crie uma dinâmica económica entre os dois continentes”, sublinhou.

Já Paolo Garzotti, chefe da unidade da América Latina e direção-geral para o comércio e segurança económica na Bélgica alertou que este acordo tem o conjunto de compromissos sustentáveis mais negociado de sempre.

“Se algum dos países do Acordo de Paris sair, este acordo cai automaticamente. Temos um sistema de medidas legais que nos permite desafiar os países da Mercosul, caso esses compromissos não sejam cumpridos”, salientou.

Na vertente logística, Nuno Rangel, CEO da Rangel Logistics Solutions assumiu que todo o setor está com elevadas expetativas. “Na nossa área haverá muitas oportunidades. Há quem fale num aumento de 30% nas exportações do Mercosul para a Europa, e de 25% da Europa para a Mercosul, mas podemos duplicar aquilo que foram os últimos 10 anos”, referiu.

O responsável olha para o Brasil como o maior porto natural de entrada e considera que vai haver uma oportunidade para Portugal se tornar um porto logístico no Atlântico, através de Sines.

“No transporte aéreo Portugal já é uma referência para o Brasil, ao nível da carga aérea. Hoje já se traz carga da Ásia para Portugal e depois ser transportado para o Brasil”, disse.

Por seu turno, Paulo Matheus, coordenador do escritório da ApexBrasil para Portugal e CPLP salientou que o principal desafio deste acordo passa por alinhar as exigências europeias e atender as demandas de sustentabilidade. “Este acordo coloca desafios importantes, mas que podem aumentar o nível competitivo do Brasil”, afirmou.

Em relação às oportunidades de exportação, o responsável realçou que a tecnologia é um dos setores onde o Brasil já é um parceiro essencial na segurança alimentar europeia e que possui uma matriz de energia limpa e hidrogénio verde. “Estamos bem posicionados nesses requisitos”, referiu.

No lado da banca, Pedro Monteiro Coelho, diretor executivo de marketing corporativo do BPI sublinhou que este acordo tem um grande potencial para dinamizar oportunidades de negócio. “Pode catapultar não só as exportações de Portugal para a Mercosul, mas também de outros países”, disse.

Como tal, assume que os bancos estão preparados para apoiar as empresas que queiram exportar mais e também para investir, porque este acordo facilita o investimento nos países da Mercosul. “Estamos a falar de instrumentos de trade finance com crédito associado”, afirmou.

Rui Faria da Cunha, solicitador, fundador e sócio, EU-Legal na Bélgica recordou que a relação entre a União Europeia e a Mercosul já é muito significativa e representa 390 mil milhões de euros, com o comercio de bens a ter um peso de 110 mil milhões de euros por ano.

“Juntos representam 20% do PIB mundial. Este acordo representa uma oportunidade estratégica para reforçar as cadeias de valor e garantir maior previsibilidade no contexto global marcada pela incerteza”, referiu.

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