As empresas europeias procuram na região de EMEA (que abrange a Europa, o Médio Oriente e África) uma alternativa à produção e abastecimento na Ucrânia e na Ásia, após meses de interrupção da cadeia de abastecimento, concluiu o relatório “Supply Chain Disruptions”, promovido pela JLL, empresa de serviços no setor imobiliário e gestão de investimentos.
O mesmo estudo revela que são várias as empresas que operam nos setores do retalho e manufatura que já decidiram realocar parte ou totalidade da sua produção.
O conceito de “reshoring” (também conhecido por “onshoring”) pode, assim, ganhar ímpeto, enquanto processo pelo qual as empresas trazem de volta o fabrico dos seus produtos para os países de origem da mercadoria.
Novos beneficiários europeus
Os dados internos da JLL mostram que os novos beneficiários europeus do “reshoring” são a Europa Central e a Roménia.
“Considerando as redes de transporte atuais e os gateways logísticos, pode-se dizer que as mercadorias circularão, sobretudo, ao longo de dois corredores de distribuição: a tradicional Dorsal Europeia (do centro de Inglaterra ao norte de Itália) e a emergente ‘Black Sea Banana’, que liga Budapeste ao Mar Negro”, refere a JLL.
Esta tendência surge no seguimento da pandemia, que provocou uma quebra nas redes de distribuição e um grave estrangulamento nos portos e aeroportos, pelo que as empresas começaram a optar pelo “reshoring” como tentativa de solução para fazer face às interrupções nas cadeias de abastecimento.
A JLL antecipa ainda que a escassez de terrenos e de mão-de-obra contribuirão para o aumento da procura na Europa Central, do mercado primário até ao secundário e terciário, estes estrategicamente localizados.
“Nearshoring” dá vantagem a Portugal
Além do “reshoring”, também o “nearshoring” pode vir a ser uma tendência, podendo, neste aspeto, favorever Portugal.
Marlene Tavares, Head of Retail & Logistics Investment da JLL, refere que, neste contexto internacional, “Portugal apresenta vantagens competitivas, ligadas ao seu posicionamento geográfico e demografia muito aliciantes que nos colocam numa posição de destaque na estratégia europeia de nearshoring.”
Mais concretamente, o posicionamento geográfico de Portugal, de estar entre a Europa e os Estados Unidos, pode beneficiar o mercado português.
Neste contexto internacional, “Portugal apresenta vantagens competitivas, ligadas ao seu posicionamento geográfico”, diz Marlene Tavares, da JLL.
Marlene Tavares explica: “A discussão sobre o nearshoring (quando as operações são movidas para um país próximo ao de origem, por oposição ao offshoring) não é recente. O aumento dos salários em localizações de produção de baixo custo e o crescente risco devido às alterações climáticas, greves e acidentes, como o bloqueio do Canal do Suez, alimentaram o debate sobre esta questão na última década. Contudo, uma relação custo/risco mais favorável e o facto de se terem perdido muitas infraestruturas de produção na Europa, continuaram a garantir ao continente asiático a vantagem para a localização dos grandes hubs de distribuição e produção de uma vasta gama de produtos. Este cenário está agora a mudar, devido à recente conjuntura e também pelos novos hábitos de consumo”.
Mariana Rosa, Head of Leasing Markets Advisory da JLL, acrescenta: “Dois anos de uma pandemia global, seguidos do conflito Rússia-Ucrânia, têm consequências. Com toda a interrupção de abastecimento que estas duas situações causaram, as empresas perceberam que precisam de diversificar a produção para manter bons níveis de stock nos mercados europeus. Além disso, este estudo mostra que o cenário atual continua a ser de perturbações na cadeia de abastecimento e que esta é uma tendência que se manterá”.
Empresas perceberam que precisam de diversificar a produção para manter bons níveis de stock nos mercados europeus”, salienta Mariana Rosa, da JLL.
Na perspetiva das responsáveis, respetivamente, pelas áreas de ocupação e investimento em Industrial & Logística em Portugal, as alterações nas estratégias das empresas no que respeita a relocalização dos seus hubs de produção e distribuição para mais perto do consumidor europeu, podem beneficiar o mercado português, que dispõe de um posicionamento geográfico estratégico na ligação entre o continente europeu e o continente americano. “O imobiliário deste segmento poderá ser alvo de um forte aumento de procura para ocupação e investimento”, indica a JLL.
Dados da plataforma de logísticas Flexport mostram que uma viagem média de contentores da Ásia para a Europa quase duplicou desde 2019, enquanto a investigação da Buck Consultants International (BCI) confirma o mesmo que a JLL: mais de 60% das empresas americanas e europeias estão a planear alocar parte da sua produção de volta ao seu país de origem.