O início do século e os desafios da era digital fizeram com que muitos artistas, repetidas vezes, se manifestassem contra o baixo preço da sua música. Dados da Federação Internacional de Indústria Discográfica revelam que no ano passado os canais digitais já representaram 50% de todas as receitas geradas. As vendas de gravações em suporte físico constituem, por seu lado, apenas 14% do total das receitas da indústria musical. O que leva a um outro problema: o preço do digital é muito mais baixo, prejudicando assim a remuneração dos artistas. No entanto, e quase paradoxalmente, os concertos parecem ter ganhado novo alento nos últimos anos, com várias bandas a esgotarem consecutivamente salas de espectáculos em redor do mundo, e os preços dos bilhetes a dispararem para valores recordes.
As cinco digressões mais rentáveis do ano passado, juntas, garantiram receitas de cerca de 25 milhões de euros, com a lendária banda de hard rock liderada por Axl Rose a encabeçar a tabela, ao facturar cerca de 4,9 milhões de euros. Os dados foram recolhidos pela Pollstar, a publicação focada na indústria de concertos que recolhe os números junto das próprias bandas, artistas, produtores e agentes.
É certo que os músicos já consagrados são quem ainda alcança os melhores resultados, com o rock a dominar a tabela. Mas é um começo. E entre os que mais dinheiro conseguiram gerar em 2016, não há um nome que não tenha passado pelos palcos de Portugal nos últimos anos, integrados ou não em algumas destas tournées, o que reforça a ideia de que o país se está a tornar num importante ponto de passagem para os amantes da música. Ciente disso, aliás, o Turismo de Portugal já começou a apoiar as campanhas internacionais para divulgar os festivais de Verão, por exemplo – em 2016, pelo menos 14% dos espectadores dos festivais eram estrangeiros.
Guns N’ Roses
4,9 milhões de euros
A banda que conta já com mais de 30 anos de carreira está de volta aos palcos e continua a atrair multidões. Com Axl Rose ao comando e com vários on e offs de músicos ao longo das três décadas de história, os Guns N’ Roses são quem ainda consegue vender os bilhetes mais caros por um espectáculo ao vivo: 105 euros por bilhete, em média. Com a tournée “Not in this Lifetime” destronaram Bruce Springsteen, que liderava a tabela, atirando-o para o segundo lugar – ainda que com valores próximos dos da banda de Los Angeles.
Bruce Springsteen
4,6 milhões de euros
É um dos artistas mais acarinhados em todo o mundo e quanto mais velho fica, parece mais energia ter. Bruce Springsteen dá concertos de mais de duas horas sem perder o fôlego e é um sucesso de vendas: tem mais de 20 álbuns editados e mais de 120 milhões de discos vendidos. O cantor norte-americano passou pelo Rock in Rio Lisboa várias vezes nos últimos anos, sendo que uma delas foi precisamente em 2016, num concerto que fazia parte da digressão “The River”. Os bilhetes para os concertos foram vendidos a uma média de 100 euros.
Beyoncé
4,4 milhões de euros
Lançou-se a solo em 2003 e desde então nunca mais parou de ganhar prémios e dinheiro: no ano passado, a sua digressão “The Formation World Tour”, que apresentava o álbum Lemonade, foi um fenómeno. Em 2011 a FORBES elegeu-a como a mulher afro-americana mais poderosa dos EUA, e hoje é a cantora negra mais premiada da história da música, somando mais de 400 galardões. Para a ver ao vivo, no ano passado, os fãs pagaram em média 94 euros por bilhete. Passou em Portugal, pela última vez, em 2014 para dois concertos no Meo Arena.
Adele
3,8 milhões de euros
Aos 29 anos, Adele já arrecadou 15 Grammy Awards, um Globo de Ouro e um Óscar. Tem batido sucessivos recordes de vendas e a Time já a considerou uma das pessoas mais influentes do mundo. Em 2012 foi operada às cordas vocais devido a uma hemorragia, mas regressou aos palcos meses depois com o mesmo carisma e à procura de mais prémios. A sua digressão “Adele Live 2016” passou por Lisboa e esgotou a sala pouco tempo depois de os bilhetes terem sido postos à venda. No ano passado, o preço médio das entradas num espectáculo de Adele foi de 99 euros.
Coldplay
3,5 milhões de euros
Desta lista são a banda que há mais tempo não vem a Portugal – o último concerto foi em 2012 no Estádio do Dragão. Foram catapultados para os holofotes da fama pelo single Yellow, lançado há 17 anos, e são um sucesso de vendas mesmo quando os discos não recebem as melhores críticas. São conhecidos, também, por recusarem a associação das suas músicas a produtos e por se envolverem em causas sociais. Os espectáculos da digressão “A Head full of dreams” têm um preço médio de 96 euros. A tournée só termina em Outubro, e não tem passagem prevista por Portugal.