A NTT Data em Portugal lançou a primeira edição do programa Pulsar, uma iniciativa em colaboração com a Fundação NTT Data, que pretende reduzir as desigualdades de género no mercado de trabalho, em particular nas áreas STEM. Diana Carvalho, Head of Industry da NTT Data Portugal e uma das mentoras deste programa, explica o funcionamento do projeto e como é possível contrariar os preconceitos que colocam habitualmente as raparigas fora da rota das Tecnologias de Informação (TIC).
De que forma pensam dar um contributo para o objetivo de reduzir as desigualdades de género no mercado de trabalho, em particular nas áreas STEM?
O Pulsar é uma iniciativa da Fundação NTT Data, orientada para adolescentes do sexo feminino, de elevado potencial, que já existe em Espanha, Brasil, Chile, Colômbia e México e que consiste em aproximar mulheres de referência, em diferentes setores na área de tecnologia, de jovens adolescentes, para que possam ajudar as mesmas a descobrirem e potenciarem os seus talentos. Acreditamos que, desta forma, poderemos contribuir para que estas jovens adolescentes ganhem a confiança necessária para escolherem e construírem o seu futuro, de mãos dadas com a tecnologia – se tiverem esse interesse -, partilhando informação sobre cursos, profissões e carreiras.
No fundo, é uma iniciativa que pretende quebrar estereótipos que, muitas vezes, são criados em relação ao papel de homens e mulheres. Este processo de empoderamento e de promoção da autoconfiança é muito importante, porque, na verdade, esta é uma lacuna muito atual, especialmente, na adolescência.
A metodologia deste projeto consiste em incentivar a curiosidade, a exploração, a descoberta, a interação, bem como a reflexão e ligação de aprendizagens com a vida quotidiana. A nossa base foca-se numa abordagem de aprender fazendo (learning by doing), que permite às raparigas trabalhar por si, serem donas do seu próprio destino e aprenderem enquanto o fazem.
“A iniciativa pretende quebrar estereótipos que, muitas vezes, são criados em relação ao papel de homens e mulheres”
Quantas jovens e de que idades irão integrar este programa?
Neste momento, o programa está a trabalhar com nove jovens, que frequentam o ensino secundário, e que têm entre os 15 e os 18 anos.
O programa pretende dar uma oportunidade a raparigas adolescentes com alto potencial que, por diferentes razões, têm dificuldades em atingir os seus objetivos. O que entendem por “alto potencial” e com base em que critérios definem uma adolescente com alto potencial?
A participação no programa é considerada adequada para meninas que cumprem seis de 14 indicadores analisados, dos quais destaco:
Nível de aprendizagem: Avaliamos a capacidade de aprender rápido e de estarem conscientes das situações e do seu contexto.
Esforço: Analisamos se são jovens que se entusiasmam com os desafios e trabalham para os superar. Se são perseverantes, se se responsabilizam pelos temas e se se comprometem em aprofundar os conhecimentos.
Criatividade: Olhamos paraa sua capacidade de resolver problemas de forma inovadora ou não-convencional, recorrendo ao pensamento lateral para resolver problemas. É também relevante avaliar se são capazes de tolerar a ambiguidade e a mudança.
Pensamento crítico: Analisamos se pensam de forma analítica e se têm a capacidade de autocrítica, bem como se se têm grande sensibilidade em relação ao mundo que as rodeia e interesse em questões morais, assim como em questões relacionadas com a justiça.
Senso comum: Se são adolescentes, que sabem aplicar os conhecimentos adquiridos, com base no raciocínio e na avaliação das consequências.
Sensibilidade artística: Se são jovens que apreciam a arte em qualquer uma das suas expressões, utilizando-a até para expressar os seus sentimentos e experiências (escrita, teatro, música, pintura, cinema, etc.).
Trabalho de equipa: Se demonstram um interesse genuíno em colaborar com outras pessoas, com uma mentalidade win-win. E que possam exercer uma liderança positiva no seu ambiente e gostam de fazer sobressair o que há de melhor nos outros e em si próprias quando trabalham em grupo.
Empatia: Se são raparigas capazes de se pôr no lugar de outra pessoa, captando as suas emoções e dando azo a que se expressem com liberdade e confiança.
No fundo, este framework permite-nos identificar raparigas com alto potencial para seguir uma carreira na área das tecnologias de informação (que poderia ser igualmente aplicável a rapazes), mas que, por alguma razão, ainda não estão conscientes desse facto.
Que razões podemos encontrar como criando dificuldades para essas jovens atingirem os seus objetivos?
Os desafios podem ser de várias ordens, mas os que mais se evidenciam são os preconceitos associados às carreiras profissionais, na medida em que a educação tradicional tem tendência para segmentar o que são carreiras típicas de homens e de mulheres, e que importa desmitificar; o outro tem a ver com a falta de conhecimento / visibilidade sobre o que é a realidade das áreas STEM, das oportunidades de carreira que oferecem e de qual o percurso para irem ao encontro dessas oportunidades. O programa Pulsar endereça precisamente esses desafios, pois procura demonstrar que as mulheres têm lugar nas áreas STEM e que esse é um espaço onde podem evoluir e alcançar carreiras bem-sucedidas, à semelhança das mentoras e madrinhas do projeto.
“A educação tradicional tem tendência para segmentar o que são carreiras típicas de homens e de mulheres, e que importa desmitificar”
De que forma foram selecionadas essas jovens? Como é que as encontraram e selecionaram?
A participação no programa Pulsar é voluntária e é feita por candidatura, a que se segue uma fase de seleção. Nesta primeira edição, todas as mentoradas fazem parte da Escola Padre António Vieira, que foi a escola identificada para o arranque do Pulsar em Portugal.
O programa inclui que fases e em qual nos encontramos agora?
O programa é constituído por cinco fases: (1) Seleção dos protagonistas – mentoras, madrinhas, escolas e mentoradas; (2) Matching, com base nos interesses das mentoradas e perfil profissional das mentoras; (3) Mentoring, sessões presenciais e individuais, suportadas com recursos, tanto para as mentoras, como mentoradas (histórias inspiradoras, exercícios práticos, etc.); (4) Sessões de Grupo, que consistem em reuniões presenciais com todos os intervenientes, com dinâmicas de grupo e nas quais é observada a mudança; (5) Avaliação, de curto, médio e longo prazo.
Atualmente, o programa encontra-se na fase do Mentoring, que decorre ao longo de seis sessões. As sessões são suportadas por uma metodologia comprovada e por recursos para as mentoras e mentoradas, a quem são atribuídos seis desafios, com o objetivo das raparigas aumentarem o seu autoconhecimento e terem mais confiança nas decisões sobre o seu futuro. A componente metodológica e pedagógica é assegurada pela Academia TEN, um projeto educativo de referência, complementar à escola que, através do método TEN, promove o sucesso escolar, o desenvolvimento e integração social de alunos de diferentes contextos socioeconómicos.
É um programa de mentoria individual. Quais serão as mentoras que irão acompanhar as jovens?
As mentoras são mulheres destacadas na área da tecnologia, com responsabilidade na gestão de pessoas e equipas e com uma carreira sólida, tanto na NTT Data como fora dela, tanto a nível empresarial como académico.
“As mentoras são mulheres destacadas na área da tecnologia, com responsabilidade na gestão de pessoas e equipas”
No final deste programa Pulsar, qual é o objetivo?
O que se pretende é que as jovens participantes aumentem o seu autoconhecimento e que elas tenham confiança em si e nas suas capacidades, sendo capazes de estabelecer objetivos e traçar com mais certezas o seu futuro, de forma a que o mesmo tenha mais sucesso e traga mais felicidade a estas jovens raparigas.
Que tipo de avaliação terão as alunas?
As mentoradas não são avaliadas. O objetivo de cada sessão de mentoria é criar momentos de autodescoberta e evolução individual, com o objetivo de que, no final das 6 sessões de mentoria, cada jovem sinta uma transformação em si e na sua vida, independentemente dos objetivos que tenha.
A participação neste projeto o que é que permitirá às suas participantes?
Reforçando o já foi referido anteriormente, o que se deseja é que as participantes aumentem o seu autoconhecimento e que elas tenham confiança em si e nas suas capacidades, sendo capazes de estabelecer objetivos e identificar o caminho que querem percorrer com maior facilidade e maior probabilidade de sucesso. Queremos dar a estas jovens as ferramentas necessárias para que tomem decisões mais conscientes e confiantes, e que assim consigam ter um futuro em linha com as suas expectativas.
Esta é uma primeira edição. Ela surge como um “piloto” ainda? Significa que pode não ter continuidade?
Sim, esta é a primeira vez que desenvolvemos o programa em Portugal, pelo que, em julho, quando terminar esta primeira edição, vamos avaliar qual o futuro do programa e como será a próxima edição.
É quase certo que será estendida a mais escolas e regiões?
Ainda é prematuro antecipar o futuro do programa, pois estamos a meio da primeira edição. Oportunamente, faremos uma avaliação e tomaremos uma decisão sobre o desenvolvimento do programa.
Que outras medidas entende que deveriam ser implementadas para diminuir as diferenças de oportunidade em carreiras STEM que existem entre homens e mulheres?
Podemos pensar em várias medidas que irão com certeza ajudar a diminuir este gap. O programa Pulsar é apenas um primeiro passo. Um ponto relevante é pensarmos, por exemplo, como podemos transformar o programa educacional, para estimular capacidades e características mais relevantes para o mundo STEM. Existem já algumas iniciativas internacionais que estão a utilizar, por exemplo, versões educativas de videojogos, como parte do curriculum, para estimular de forma diferente e mais inovadora a aprendizagem, mas há ainda muito espaço para inovarmos aqui e não falo apenas em termos da redução das desigualdades, pois podem trazer benefícios a todos e aumentar as oportunidades para carreiras STEM globalmente.
Outra medida que considero importante é darmos a conhecer, desde muito cedo, o impacto da tecnologia no mundo, desmistificar a complexidade da mesma e demonstrar o quão enigmático e inovador pode ser trabalhar na área. Basta lembrarmo-nos de que as últimas inovações no mundo estão associadas à tecnologia e que se verificam impactos muito relevantes da tecnologia na área da saúde, nas nossas cidades, no nosso dia-a-dia, etc. É importante que essa informação chegue aos nossos jovens (meninas e também meninos) para que, quando chegar a hora de tomarem decisões sobre as suas carreiras, possam ter esta clareza do que estão a escolher.
Finalmente, é essencial acabar com os preconceitos e barreiras no acesso às áreas STEM, integrando cada vez mais estas áreas no programa educacional e criando iniciativas relacionadas, de forma a consciencializar as raparigas para a área, para que, na hora de tomarem decisões, não se sintam inibidas por falta de confiança ou autoconhecimento relativamente às suas valências e/ou interesses.