O programa “Aceler@tech”, cuja segunda edição está neste momento a decorrer resulta de uma parceria entre a Associação Acredita Portugal e o Turismo de Portugal, tendo como objetivo apoiar o desenvolvimento de projetos de inovação, na área do turismo, que contribuam para a sustentabilidade económica, social e ambiental, agregando tecnologias e métodos disruptivos que ajudem as empresas do setor a passar dos modelos operacionais tradicionais, para tecnologias avançadas e processos mais eficientes.
Das 154 ideias inovadoras que se candidataram na 2ª edição, são 20 as startups que vão avançar nesta competição, uma das quais portuguesa a Handyhostel.
Os três projetos vencedores serão conhecidos dia 22 de junho, em Gaia, e à Forbes, José Miguel Queimado, fundador da Associação Acredita Portugal fala do potencial que o programa Aceler@tech está já a trazer na inovação do turismo em Portugal.
Esta foi a segunda edição do programa “Aceler@tech”. O que é feito dos projetos vencedores da 1ª edição?
José Miguel Queimado (JMQ): Acreditamos que a primeira edição do Aceler@tech foi um sucesso, tanto pelos números que alcançámos como pela qualidade das startups que participaram no programa. Foram 320 as candidaturas que recebemos de todo o mundo – duas das quais transferiram posteriormente as suas operações para Portugal e outras duas foram destacadas no top 25 de melhores startups mundiais pela Travel Massive, algo que superou em larga medida as nossas expectativas. Relativamente aos projetos vencedores da primeira edição, todos eles evoluíram consideravelmente. A Valpas, uma startup que desenvolveu um padrão de segurança que ajuda os hotéis a manterem os percevejos longe das suas unidades, foi destacada com o primeiro lugar. Em Portugal, começou a trabalhar com o grupo Pestana, Palácio do Freixo e Esqina Cosmopolitan e Urban Lodges. Pouco depois do programa, levantou 1,6 milhões de euros. A Insurion, que ficou em segundo lugar, criou uma plataforma para proteger os utilizadores de atrasos e cancelamentos de voos. Após terminar o programa conseguiu levantar 400 mil euros. Já o terceiro classificado, a Look@, criou um guia turístico inovador que ajuda as cidades a mostrar todo o seu potencial, tendo já recebido, no espaço de um ano, várias premiações. Depois do programa, levantou uma ronda seed, teve um forte crescimento no Dubai e tem hoje em curso várias negociações em Portugal.
Dos projetos que receberam nesta 2ª edição, quais é que se destacaram?
JMQ: O principal propósito do programa Aceler@tech é de encontrar soluções e tecnologias que ajudem empresas portuguesas do setor turístico a acelerar o seu roadmap de inovação.
E, neste sentido, temos já projetos muito robustos, dos quais podemos destacar, por exemplo, uma startup que pretende eliminar a necessidade de filas para receber o IVA em viagens internacionais, ou uma startup tecnológica que quer simplificar as viagens de transportes públicos, através de uma aplicação que usa a geolocalização para garantir bilhetes mais práticos e económicos, sem que seja necessário comprá-los nos diferentes transportes utilizados. Neste sentido, cada empresa terá objetivos e pain points distintos, pelo que o nosso potencial de atuação é bastante abrangente.
“O principal propósito do programa Aceler@tech é de encontrar soluções e tecnologias que ajudem empresas portuguesas do setor turístico a acelerar o seu roadmap de inovação”.
Um dos objetivos que nos foi colocado foi o de encontrar startups que tivessem qualidade e maturidade suficientes para testar, de imediato, as suas soluções com as empresas e, neste sentido, o apoio do Turismo de Portugal foi importante para fazer um primeiro mapeamento das necessidades mais recorrentes das empresas portuguesas e apoiar na seleção das 20 startups. Além disso, podemos avançar que a maturidade e o calibre das startups desta edição são muito promissores. A média de financiamento dos projetos selecionados subiu de 300 mil euros para 4,1 milhões de euros e temos startups que passaram por programas como o “Y Combinator”, “Techstars”, “500 Startups” e “Google Accelerator”. Acreditamos que cada ideia inovadora, independentemente da área de atuação, pode vir a contribuir para o setor do turismo nacional.
“A maturidade e o calibre das startups desta edição são muito promissores. A média de financiamento dos projetos selecionados subiu de 300 mil euros para 4,1 milhões de euros”
As 20 startups selecionadas apresentam que tipo de projetos? Pode especificar um pouco o tipo de intervenção a que se propõem?
JMQ: O que todas as startups têm em comum, e que serviu de critério de seleção, é o potencial de ajudar as empresas do setor turístico a serem mais competitivas. Ainda assim, o perfil mais comum são empresas B2B, que ajudam a digitalizar, automatizar e otimizar os processos, sendo que, este ano, os segmentos mais beneficiados pelo nosso programa de inovação são hotéis, companhias aéreas, aeroportos, transportes públicos e operadores turísticos.
Qual o tipo de mentoria que terão os projetos selecionados?
JMQ: O aumento da maturidade e estágio das startups, da primeira edição para a segunda, conduziu à necessidade de uma mentoria mais focada no modelo “go-to-market”. Neste sentido, realizamos um acompanhamento diferenciado para cada startup, de forma a conseguirmos disponibilizar também uma mentoria nos moldes mais tradicionais a todos os grupos que sentem essa necessidade. Para este efeito, reunimos os esforços de toda a equipa, tanto dos program managers, como da nossa rede de empreendedores, investidores e industry experts. Algo muito interessante é que, por outro lado, as startups também conseguem ser ótimas mentoras. Os programas por que passaram, ou os valores que já levantaram, permitem uma relevante partilha de conhecimento entre elas. Por exemplo, este ano, temos duas startups de São Francisco, duas de Israel e duas asiáticas, sendo que esta globalidade também é um ponto muito positivo – já começámos a observar a entreajuda entre os vários projetos que pretendem expandir-se para pontos geográficos específicos.
“As startups também conseguem ser ótimas mentoras. Os programas por que passaram, ou os valores que já levantaram, permitem uma relevante partilha de conhecimento entre elas”.
Quais os apoios monetários que contarão? Esse apoio a conceder a cada projeto varia de acordo com que pressupostos?
JMQ: Nesta edição, contrariamente ao ano anterior, não existe prémio monetário para os vencedores, porque acreditamos que o principal benefício deste programa é o contacto que proporciona com as empresas portuguesas e que impulsiona o seu crescimento – este é o aspeto que, sem dúvida, mais atrai as startups. Neste sentido, a nossa proposta de valor é a mesma para os selecionados e para as empresas – desenhamos um processo com uma boa probabilidade de gerar pilotos, apoiamos as empresas a resolver os seus pain points ou a acelerar o seu processo de inovação interna, ao mesmo tempo que as ajudamos a ganhar maturidade e escala através da criação de parcerias. Este é o principal benefício do nosso programa de aceleração.
O programa tem um alcance internacional, mas nesta 2ª edição apenas uma startup das 20 que foram consideradas vencedoras é portuguesa. Isso significa que no turismo, as startups nacionais que surgem ainda não são suficientemente diferenciadoras no panorama internacional?
JMQ: Acreditamos que, atualmente, o mercado de tecnologia é já um mercado maioritariamente global. A maioria das empresas deste setor tem facilidade em adaptar a sua solução a uma determinada geografia e isto permite que as empresas possam escolher, a nível mundial, a solução que melhor resolva um determinado problema. Em Portugal, não temos ainda um ecossistema tão maduro, tal como os Estados Unidos, por exemplo, contudo várias empresas americanas escolhem soluções com ADN português, tais como a Feedzai, Talkdesk, OutSystems ou Unbabel por consideram ser a melhor solução a nível global. Isto significa que Portugal é, sem dúvida, um país com muito talento e aptidão tecnológica. Por isso, acredito que estamos no caminho certo para contribuir, positivamente, para o desenvolvimento desta área através da criação de soluções inovadoras e com impacto positivo no mundo.
Qual a importância do Aceler@tech para o futuro do turismo em Portugal?
JMQ: O setor do turismo tem um papel central na economia portuguesa e a competitividade das empresas deve ser, por isso, uma prioridade. A Aceler@tech, tal como outros programas que consigam atrair startups distinguidas a nível internacional para o nosso país, têm uma influência muito importante no desenvolvimento deste setor. Além disso, a pandemia teve um impacto assimétrico no turismo, forçando a uma rápida redução dos custos, bem como da dimensão das equipas. Estes momentos de contração aceleram, invariavelmente, a adopção de inovações tecnológicas. As empresas sentem maior pressão para reduzir os seus custos e são, muitas vezes, forçadas a descontinuar relações duradouras com fornecedores mais tradicionais. Na nossa opinião, este é o momento certo para o Turismo de Portugal apostar na inovação e esperamos que o Aceler@tech tenha um impacto positivo neste processo de desenvolvimento durante os próximos anos.
Nestas duas primeiras edições quais os tipos de startups, de acordo com a fase em que se encontram, que mais têm apoiado: early-stage, pré-seed e seed startups?
JMQ: No ano passado já era notório um perfil internacional e, a partir daí, criámos as bases e desenvolvemos as melhores práticas para que este ano fosse possível realizar uma segunda edição em que o perfil de startups estivesse num estágio ainda mais avançado. Relativamente ao estágio das startups, 95% têm funding, com uma média de 4,1 milhões de euros e um range de 0 a 31 milhões de euros, 40% têm vendas anuais acima de 250 mil euros e 33% levantaram mais do que 3 milhões de euros.