A justiça norte-americana publicou uma primeira leva de documentos judiciais relacionados com o multimilionário Jeffrey Epstein (1953-2019), acusado de abuso sexual e tráfico de menores, até agora confidenciais, noticiaram vários ‘media’.
Os documentos, divulgados na quarta-feira, fazem parte de uma ação judicial por difamação, movida em 2015 por Virginia Giuffre, uma das principais denunciantes de Epstein, contra a amante e parceira de negócios de Epstein, a britânica Ghislaine Maxwell, e têm atraído a atenção mundial pelo alegado envolvimento de figuras proeminentes.
Muitos dos nomes já são conhecidos, tendo sido identificados durante o julgamento de Maxwell em 2021, condenada a 20 anos de prisão por ter ajudado Epstein a abusar sexualmente de menores, ou porque deram entrevistas ou foram objeto de denúncias.
De acordo com a cadeia televisiva norte-americana CNN, estes documentos podem tornar públicos até 200 nomes, incluindo acusadores de Epstein, entre empresários e políticos.
A menção de um nome nos documentos não implica qualquer tipo de culpa, uma vez que existem desde e-mails a declarações de vítimas e testemunhas. A identidade de menores de idade ou de quem não prestou declarações públicas vai permanecer oculta.
A primeira leva de documentos tem cerca de mil páginas no total, referiu a agência de notícias EFE.
A agência escreveu ainda que a lista final inclui o nome do príncipe André, de Inglaterra, que Giuffre processou por abuso sexual e com quem chegou a um acordo extrajudicial, e também do antigo Presidente norte-americano Bill Clinton (1993-2001), identificado pela ABC News como “John Doe 36”, que Giuffre tentou, sem sucesso, intimar a depor.
“A arguida [Maxwell] chegou mesmo a testemunhar que não se lembrava de ter a Sra. Giuffre na sua casa em Londres com o príncipe André. A arguida manteve esta história, apesar dos registos de voo que comprovam a sua viagem a Londres com a Sra. Giuffre e apesar de uma fotografia dos três – a Sra. Giuffre, o príncipe André e a arguida – todos juntos na casa da arguida.” (Anexo 6)
“Cheguei e vi a Virgínia, o Jeffrey, o príncipe André, a Ghislaine na sala. A certa altura, a Ghislaine disse-me para subir, e fomos a um armário e tirámos a marioneta, a caricatura do príncipe André, e trouxemo-la para baixo. Puseram a marioneta ao colo de Virgínia, e eu sentei-me ao colo de André, e puseram a mão da marioneta no peito de Virgínia, e André pôs a mão no meu peito, e tiraram uma fotografia”. (Anexo 12, depoimento de Sjoberg, descrevendo uma deslocação em 2001 a casa de Epstein em Nova Iorque)
Clinton, que não foi acusado, consta nas listas de passageiros dos voos de Epstein para diferentes países, mas a possível presença numa das ilhas do milionário não é clara, e foi negada pelo antigo Presidente norte-americano.
“Eu sabia que [Epstein] tinha acordos com Bill Clinton (…) Ele disse uma vez que Clinton gosta delas jovens, referindo-se a raparigas.” (Anexo 12, depoimento de Johanna Sjoberg em 2016)
“Não me lembro de ter comido com eles, mas para que fique claro, as alegações de que o Presidente Clinton comeu na ilha de Jeffrey são 100% falsas. P: Mas ele pode ter tomado uma refeição no avião da Jeffrey? R: Tenho a certeza de que ele tomou uma refeição no avião da Jeffrey.” (Anexo 4, depoimento de Maxwell)
“P: Encontrou-se com … Bill Clinton? R: Não. P. Viu Bill Clinton na ilha? R. Não. Q. Viu Bill Clinton num helicóptero pilotado por Ghislaine Maxwell? R: Não.” (Anexo 12, depoimento de Sjoberg)
Mas Clinton não é o único ex-presidente dos Estados Unidos presente nos documentos. Donald Trump também foi mencionado.
“O piloto disse-me para voltar e dizer ao [Epstein] que não podíamos aterrar em Nova Iorque e que íamos ter de aterrar em Atlantic City. O Jeffrey disse: “Ótimo, vamos telefonar ao Trump e vamos para – não me lembro do nome do casino, mas – vamos para o casino.” (Anexo 12, depoimento de Sjoberg, descrevendo uma viagem em 2001 que incluiu uma paragem no casino de Trump)
“P: Alguma vez massajou Donald Trump? R: Não.” (Anexo 12, depoimento de Sjoberg)
David Copperfield e Michael Jackson são outros dois nomes bastante conhecidos do público. Os dois foram mencionados nos documentos.
“P: Observou que David Copperfield era amigo de Jeffrey Epstein? R: Sim. P: Copperfield alguma vez discutiu consigo o envolvimento de Jeffrey com raparigas? R: Ele perguntou-me se eu sabia que as raparigas eram pagas para encontrar outras raparigas.” (Anexo 12, depoimento de Sjoberg, descrevendo um jantar em casa de Epstein)
“Conheci o Michael Jackson … na casa do Jeffrey em Palm Beach. P: Fez-lhe uma massagem? R: Não.” (Anexo 12, depoimento de Sjoberg)
Não se sabe quanto tempo será necessário para que todos os nomes e documentos não selados sejam tornados públicos. Duas pessoas cujos nomes estão selados estão a recorrer para manter os seus nomes ocultos, incluindo uma pessoa descrita como “Doe 110”, um indivíduo cujo “nome e associação com Epstein foram amplamente divulgados pelos meios de comunicação social”. O seu recurso continua pendente. Outra pessoa no caso, identificada apenas como “Doe 107”, já estava a lutar para manter o seu nome selado, argumentando que “enfrenta um risco de danos físicos no seu país de residência”. O juiz pediu a Doe 107 – que não constava da lista de nomes a serem divulgados – que fornecesse informações adicionais para apoiar o seu caso até 22 de janeiro.
Epstein foi detido em julho de 2019, acusado de abusar sexualmente e traficar dezenas de raparigas no início dos anos 2000.
O multimilionário suicidou-se na cela da prisão, em Nova Iorque, em agosto de 2019.
(Com Lusa e Forbes Internacional)