Prémio Nobel da Paz 2025 entregue a líder da oposição venezuelana. Comité justificou e… deixou indireta a Trump

O Prémio Nobel da Paz 2025 foi atribuído à opositora venezuelana María Corina Machado, ex-deputada da Assembleia Nacional da Venezuela entre 2011 e 2014, anunciou hoje o Comité Nobel norueguês. A líder da oposição foi premiada “pelo seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo da Venezuela e pela sua luta para alcançar…
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A laureada com o Nobel da Paz deste ano, Maria Corina Machado, liderou a luta pela democracia face ao autoritarismo na Venezuela. Sobre a hipótese do Nobel ir para Trump pelo cessar fogo na Faixa de Gaza, o Comité não se pronunciou, preferindo enfatizar os motivos para atribuir o prémio a Corina Machado. Mas ao fazê-lo, deixou frases que podem ser "indiretas" ao presidente americano.
Líderes

O Prémio Nobel da Paz 2025 foi atribuído à opositora venezuelana María Corina Machado, ex-deputada da Assembleia Nacional da Venezuela entre 2011 e 2014, anunciou hoje o Comité Nobel norueguês.

A líder da oposição foi premiada “pelo seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo da Venezuela e pela sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”, explicou a organização do Nobel.

“Enquanto líder do movimento pela democracia na Venezuela, Maria Corina Machado é um dos exemplos mais extraordinários de coragem civil na América Latina nos últimos tempos”, sublinhou o Comité.

Justifica o comité do Nobel que Corina Machado “tem sido uma figura fundamental e unificadora numa oposição política que antes estava profundamente dividida — uma oposição que encontrou um terreno comum na exigência de eleições livres e um governo representativo. É precisamente isso que está no cerne da democracia: a nossa vontade comum de defender os princípios do governo popular, mesmo quando discordamos. Numa época em que a democracia está ameaçada, é mais importante do que nunca defender esse terreno comum”.

Os membros do Nobel enfatizam que “a Venezuela evoluiu de um país relativamente democrático e próspero para um Estado brutal e autoritário que agora sofre uma crise humanitária e económica. A maioria dos venezuelanos vive em profunda pobreza, enquanto os poucos que estão no topo enriquecem. A máquina violenta do Estado é dirigida contra os próprios cidadãos do país. Quase 8 milhões de pessoas deixaram o país. A oposição tem sido sistematicamente reprimida através de fraudes eleitorais, processos judiciais e prisões”.

O Comité norueguês do Nobel afirma que “o regime autoritário da Venezuela torna o trabalho político extremamente difícil”, recordando que Corina Machado como fundadora da Súmate, uma organização dedicada ao desenvolvimento democrático, defendeu eleições livres e justas há mais de 20 anos, dando eco das suas palavras: “Foi uma escolha entre urnas e balas”.

Desde então, “no cargo político e no seu serviço a organizações, a María Corina Machado tem-se pronunciado a favor da independência judicial, dos direitos humanos e da representação popular. Passou anos a trabalhar pela liberdade do povo venezuelano. Antes das eleições de 2024, a Corina Machado era a candidata presidencial da oposição, mas o regime bloqueou a sua candidatura. Ela então apoiou o representante de um partido diferente, Edmundo Gonzalez Urrutia, nas eleições. Centenas de milhares de voluntários mobilizaram-se em toda a linha política. Foram treinados como observadores eleitorais para garantir uma eleição transparente e justa. Apesar do risco de assédio, prisão e tortura, cidadãos de todo o país vigiaram as mesas de voto. Asseguraram que as contagens finais fossem documentadas antes que o regime pudesse destruir as cédulas e mentir sobre o resultado”.

O Comité acrescenta ainda, referindo que “os esforços da oposição coletiva, tanto antes como durante as eleições, foram inovadores e corajosos, pacíficos e democráticos. A oposição recebeu apoio internacional quando os seus líderes divulgaram as contagens de votos recolhidas nos distritos eleitorais do país, mostrando que a oposição tinha vencido por uma margem clara. Mas o regime recusou-se a aceitar o resultado das eleições e agarrou-se ao poder”.

Uma indireta a Trump?

Numa altura em que se falava muito da possibilidade do presidente dos EUA, Donald Trump, vir a receber o Nobel da Paz pelos seus esforços terem conduzido a um cessar fogo entre Israel e o Hamas, os membros do Nobel, no comunicado que contém os motivos da atribuição do Nobel da Paz a Corina Machado, acabam por, indiretamente, lançar farpas a Trump, explicando por que é que o líder norte-americano ficou de fora: “A democracia é uma condição prévia para uma paz duradoura. No entanto, vivemos num mundo em que a democracia está em retrocesso, onde cada vez mais regimes autoritários desafiam as normas e recorrem à violência. O controlo rígido do poder pelo regime venezuelano e a repressão da população não são únicos no mundo. Vemos as mesmas tendências a nível global: o Estado de direito abusado por aqueles que estão no poder, a liberdade de imprensa silenciada, os críticos presos e as sociedades empurradas para o autoritarismo e a militarização. Em 2024, foram realizadas mais eleições do que nunca, mas cada vez menos são livres e justas”.

Ao longo da sua longa história, “o Comité Norueguês do Nobel homenageou mulheres e homens corajosos que enfrentaram a repressão, que levaram a esperança da liberdade para as celas das prisões, para as ruas e para as praças públicas, e que demonstraram com as suas ações que a resistência pacífica pode mudar o mundo. No ano passado, a Sra. Machado foi forçada a viver na clandestinidade. Apesar das graves ameaças contra a sua vida, ela permaneceu no país, uma escolha que inspirou milhões de pessoas”, declara o Comité.

O Comité indica que “quando os autoritários tomam o poder, é crucial reconhecer os corajosos defensores da liberdade que se levantam e resistem. A democracia depende de pessoas que se recusam a ficar em silêncio, que ousam dar um passo à frente apesar dos graves riscos e que nos lembram que a liberdade nunca deve ser tomada como garantida, mas deve ser sempre defendida – com palavras, com coragem e com determinação”.

Para os membros do Comité do Nobel, “Maria Corina Machado cumpre os três critérios estabelecidos no testamento de Alfred Nobel para a seleção do laureado com o Prémio da Paz. Ela uniu a oposição do seu país. Nunca vacilou na resistência à militarização da sociedade venezuelana. Tem sido firme no seu apoio a uma transição pacífica para a democracia. Maria Corina Machado demonstrou que as ferramentas da democracia são também as ferramentas da paz. Ela personifica a esperança de um futuro diferente, onde os direitos fundamentais dos cidadãos são protegidos e as suas vozes são ouvidas. Neste futuro, as pessoas serão finalmente livres para viver em paz”.

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