Brasil em grande: prémio de Melhor Ator em Cannes para ator Wagner Moura

O ator brasileiro Wagner Moura conquistou este sábado o prémio de melhor ator no Festival Internacional de Cinema de Cannes pelo papel de homem perseguido em “O Agente Secreto”, do compatriota Kleber Mendonça Filho. O ator de 48 anos é um dos rostos mais conhecidos do cinema brasileiro graças às colaborações internacionais, nomeadamente na série…
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O ator brasileiro Wagner Moura conquistou este sábado o prémio de melhor ator no Festival Internacional de Cinema de Cannes pelo papel de homem perseguido em “O Agente Secreto”, do compatriota Kleber Mendonça Filho.
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O ator brasileiro Wagner Moura conquistou este sábado o prémio de melhor ator no Festival Internacional de Cinema de Cannes pelo papel de homem perseguido em “O Agente Secreto”, do compatriota Kleber Mendonça Filho.

O ator de 48 anos é um dos rostos mais conhecidos do cinema brasileiro graças às colaborações internacionais, nomeadamente na série da Netflix “Narcos”, na qual interpretou o narcotraficante Pablo Escobar.

Wagner Moura, 48 anos, foi o primeiro brasileiro a levar o prémio na categoria de Melhor Ator. Entre as atrizes, Fernanda Torres e Sandra Corveloni também já foram laureadas.

O brasileiro foi ao festival para a estreia da longa metragem no último domingo, dia 18 de maio, mas não pôde estar na cerimónia devido às filmagens de “11817”, do francês Louis Leterrier. Kleber Mendonça Filho, realizador, recebeu o prémio pelo ator, e logo depois subiu ao palco para receber o seu próprio prémio. Isto porque a longa-metragem “O agente secreto”, de Kleber Mendonça Filho, conquistou também um prémio fora da competição oficial, considerado o melhor do festival pelo júri da crítica da Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema).

“Escolhemos um filme que tem uma generosidade romanística e épica. Um filme que permite digressão, diversão, humor e caráter para evocar um tempo e lugar e uma histórica rica”, justificou o júri da crítica.

O filme “O Agente Secreto”, do realizador brasileiro Kleber Mendonça Filho, ganhou três prémios: Melhor Realização, Melhor Ator para Wagner Moura e ainda o prémio Fipresci da crítica internacional de cinema.

Passado no Recife, em 1977, durante a ditadura militar no Brasil, “O Agente Secreto” é um ´thriller´ político que mergulha nas tensões de um país sob o regime militar, onde Wagner Moura interpreta Marcelo, um especialista em tecnologia que decide fugir do seu passado violento, saindo de São Paulo e regressando à capital pernambucana, sua cidade natal em busca de tranquilidade, mas depara-se com um ambiente carregado de segredos e perigos, acabando perseguido.

Coproduzido pelo Brasil, França, Holanda e Alemanha, o filme conta ainda no elenco com nomes como Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone e Hermila Guedes.

A longa-metragem “O Agente Secreto” estreou em Cannes com cerca de 13 minutos de aplausos.

Cinema brasileiro em grande

Estas conquistas recentes evidenciam a força do cinema brasileiro, que este ano recebeu o seu primeiro Óscar de Filme Internacional por “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, e levou o Urso de Prata em Berlim com “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro.

Sinal político

O cineasta e dissidente iraniano Jafar Panahi foi também galardoado com a Palma de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Cannes pelo filme “Um Simples Acidente”, rodado em segredo, anunciou a organização.

O cineasta, de 64 anos, pôde deslocar-se a Cannes pela primeira vez em 15 anos para receber o seu prémio, entregue pela atriz Juliette Binoche, que presidiu a um júri composto pela atriz americana Halle Berry, a realizadora indiana Payal Kapadia e a actriz italiana Alba Rohrwacher. O realizador e produtor congolês Dieudo Hamadi, o realizador sul-coreano Hong Sangsoo, o realizador mexicano Carlos Reygadas, o ator norte-americano Jeremy Strong e a escritora franco-marroquina Leïla Slimani também integraram o júri.

Esta distinção é vista como um forte sinal político, já que se trata de um realizador dissidente iraniano que foi a Cannes depois de quinze anos em prisão domiciliária no Irão.

Un Simple Accident” (“Um Simples Acidente”) é um ´thriller´moral que examina o dilema de antigos detidos tentados a vingar-se do seu torturador, num ataque direto à arbitrariedade das forças de segurança.

O filme é também uma reflexão sobre a justiça e a vingança perante a arbitrariedade.

Na cerimónia de atribuição dos prémios, o realizador iraniano apelou à “liberdade” do seu país: “Penso que este é o momento de pedir a todas as pessoas, a todos os iranianos, com todas as opiniões diferentes, em qualquer parte do mundo, que ponham de lado (…) todos os problemas, todas as diferenças. O mais importante neste momento é o nosso país e a liberdade do nosso país”, declarou em farsi, de acordo com a tradução fornecida pelo festival.

Panahi, que esteve preso duas vezes no Irão – uma delas seis anos e vinte anos proibido de filmar -, país de onde não podia sair até há pouco tempo, prometeu regressar depois de Cannes, apesar do risco de represálias, pois ninguém sabe que destino as autoridades lhe reservam depois desta décima primeira longa-metragem agora premiada internacionalmente.

“O mais importante é o facto de o filme ter sido feito. Não tive tempo para pensar no que poderia acontecer. Estou vivo enquanto fizer filmes”, afirmou à AFP esta semana.

Ao entregar-lhe a Palma de Ouro, a presidente do júri, Juliette Binoche, falou da vocação dos artistas para “transformar a escuridão em perdão”.

A longa-metragem foi rodada clandestinamente, tendo o realizador recusado pedir autorização para filmar, desafiando as leis da República Islâmica, ao mesmo tempo que várias das suas atrizes aparecem sem véu.

É o segundo iraniano a ganhar a Palma de Ouro, depois de Abbas Kiarostami com “O Gosto da Cereja” (1997), e, em 2024, um outro iraniano, Mohammad Rasoulof, ganhou um prémio especial por “The Seeds of the Wild Fig Tree”.

Outros prémios

A francesa Nadia Melliti, de 23 anos, recebeu o Prémio de Melhor Atriz em Cannes pelo seu primeiro papel no cinema em “La petite dernière”, do compatriota Hafsia Herzi, adaptado do romance autobiográfico de Fatima Daas, publicado em 2020.

Nadia Melliti interpreta Fátima, de 17 anos, uma jovem muçulmana que descobre a sua homossexualidade.

O Grande Prémio do júri foi atribuído ao norueguês Joachim Trier por “Sentimental Value”, enquanto os irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne, que já ganharam duas Palmas de Ouro na história de Cannes, levaram um novo troféu, o prémio de argumento, por “Jeunes Mères”. É a segunda vez na sua carreira que ganham este prémio, depois de “Le silence de Lorna” (2008).

O franco-espanhol Oliver Laxe venceu o Prémio do Júri com “Sirat”, um mergulho numa festa ´rave´ alucinante e apocalíptica no país de “Mad Max”, protagonizada por Sergi Lopez.

Este prémio foi partilhado com o realizador alemão Mascha Schilinski, que explora cem anos de traumas familiares através dos destinos de quatro mulheres em “Sound of Falling”.

Quanto ao prémio especial do júri, foi para “Resurretion”, do realizador chinês Bi Gan, um filme de ficção científica e drama, com os atores Jackson Yee e Shu Qi.

Na competição oficial para a Palma de Ouro de melhor curta-metragem estavam os filmes portugueses “A Solidão dos Lagartos”, de Inês Nunes, e “Argumentos a favor do amor”, de Gabriel Abrantes.

A atriz Cleo Diára foi distinguida com o prémio de Melhor Atriz na secção Un Certain Regard do Festival de Cinema de Cannes pela sua interpretação em “O Riso e a Faca”, a mais recente longa-metragem de Pedro Pinho.

Na competição figurava também a animação “Fille de l’eau”, da realizadora e ilustradora Sandra Desmazières, sobre as memórias de Mia, uma antiga mergulhadora. O filme tem coprodução de França, Países Baixos e Portugal, através da produtora de animação Animais.

Em 2009, o festival atribuiu a Palma de Ouro de melhor curta-metragem ao filme “Arena”, do realizador português João Salaviza.

Em 2024, nas longas-metragens, Miguel Gomes venceu o prémio de melhor realização com “Grand Tour”, e o realizador Daniel Soares obteve uma menção especial com a curta-metragem “Bad for a moment”, na competição oficial.

O 78.º Festival de Cinema de Cannes fez eco das guerras no Médio Oriente e na Ucrânia, e também de algumas declarações empenhadas, a começar pelo ataque de Robert De Niro a Donald Trump na cerimónia de abertura.

“Apagão” em Cannes

O encerramento festival está a ser marcado por dois cortes da eletricidade que aconteceram durante o dia, estando as autoridades francesas a investigar a possibilidade de sabotagem que causou um apagão em Cannes e noutras localidades vizinhas.

No entanto, a organização manteve a cerimónia oficial com recurso a geradores independentes, embora as sessões previstas fora do Palácio dos Festivais tenham sido canceladas.

Um incêndio suspeito numa subestação em Biançon, seguido da queda de um poste de alta tensão, originou duas falhas no fornecimento de energia, afetando cerca de 160.000 casas na região, que têm estado a ser repostos, enquanto a empresa RTE, responsável pela rede elétrica francesa, indicou que o primeiro apagão foi resolvido temporariamente redirecionando a energia de outras redes.

Embora a origem exata dos incidentes ainda não tenha sido confirmada, a coincidência com a cerimónia de encerramento do Festival de Cannes levanta preocupações sobre intenções deliberadas.

O restabelecimento da eletricidade está a ser feito gradualmente na região, com 60 mil habitações já reabastecidas até ao meio da tarde, segundo as autoridades.

com Lusa

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