O conhecido “Prédio mais feio de Faro” mudou de rosto e transformou-se numa unidade turística, inspirado no movimento Modernista, uma nova página da história da arquitetura em Portugal.
O prédio encontrava-se devoluto desde 1986 e, após 35 anos desocupado, estava bastante degradado, com instalações elétricas e de águas totalmente desatualizadas, e a configuração do espaço – antes adaptado a escritórios – teve de ser redesenhada para se adequar aos apartamentos turísticos.
A modernização surge com o objetivo de dar vida nova ao edifício, mantendo a sua identidade e a sua linguagem arquitetónica modernista.
“Renovamos o prédio com a utilização dos mesmos materiais, a mesma geometria, as mesmas cores e a simplicidade na funcionalidade. A ideia foi dar o exemplo de como conservar o legado modernista e como o valorizar, transformando-o num produto cultural para atrair a Faro um turismo de qualidade que se interessa pelo design e pela arquitetura”, conta em entrevista exclusiva à Forbes, Christophe de Oliveira, proprietário do The Modernist.
Christophe de Oliveira ainda sobre o processo de restruturação do edifício, que foi possível depois de um investimento de meio milhão de euros.
As obras de modernização prolongaram-se por três anos, com uma renovação 100% portuguesa e regional, sendo que cada material foi escolhido, desenhado e fabricado no Algarve, desde o material de construção mais básico até aos móveis, iluminações ou elementos de decoração, o que acabou por atrasar um pouco o processo, porque muitas coisas já não se faziam.
Há quantos anos esteve o edifício sem um novo rosto?
O edifício foi encomendado em 1977, por uma família lisboeta ao arquiteto Joel Santana, provavelmente seduzida pela Igreja da Sagrada Família do Calhariz de Benfica, que o arquiteto acabava de construir, e quis realizar em Faro uma obra da mesma raiz Modernista, com linhas simples, materiais brutos e cores monocromáticas.
Entre 1977 e 1986, a família arrendou o prédio a uma companhia de transportes marítimos, que aqui tinham os seus escritórios. Com a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE), a empresa fechou e aí começou o abandono do prédio até o encontrarmos. O edifício era muito criticado pelos farenses, porque tinha uma localização central, na rua pedonal Dom Francisco Gomes, e o seu aspeto degradado era como uma “ferida” no coração da cidade. E, assim, o Modernismo foi associado a um certo abandono.
Daqui por diante quais são as perspetivas e que resultados esperam alcançar com esta modernização?
O nosso objetivo é enquadrar The Modernist na nova era do turismo e das viagens pós-Covid, em que acreditamos que se vai viajar menos, mas viajar com um sentido – procurar locais únicos, com uma história original, que proporcionem experiências e uma pegada ecológica mais reduzida, cujas construções tenham um impacto positivo nas comunidades locais.
Queremos atrair a Faro amantes de arquitetura, do design e da cultura, a juntar à oferta natural – o parque da Ria formosa começa a poucos passos do The Modernist e, a partir da marina de Faro, é possível aceder às praias de barco-táxi. Nesse sentido, criámos um Roteiro Modernista através da cidade, para que os nossos hóspedes possam descobrir essa herança arquitetónica.
Faro tem um potencial cultural fantástico, por isso, é candidata a Capital Europeia da Cultura, em 2027 e estamos a trabalhar com a equipa de Faro 2027 para integrar a arquitetura modernista na sua oferta e tornar Faro na capital do Modernismo no Sul da Europa.
Fale-nos mais da empresa que esteve carregada para execução da obra e quais foram os principais desafios nesta modernização?
Trabalhámos com a PAr – Plataforma de Arquitetura, que fez um trabalho incrível e corrobou a nossa visão. Tivemos vários desafios, quer na gestão do tempo, por conta da pandemia, e, consequentemente, do orçamento. O facto de optarmos por uma construção quase artesanal foi mais complicado, foi preciso encontrar um artesão local com capacidade de fabrico para um edifício inteiro, instruí-lo na linguagem da arquitetura modernista, para a produção dos vários elementos – vãos, portas, mobiliário, pedras, etc. A equipa da PAr – Plataforma de Arquitetura teve aqui o trabalho mais difícil, mas esse é o segredo do resultado final, uma obra singular, diferenciadora e inspiradora para quem a vê, agora, no coração da cidade.