Emergência é a palavra escolhida pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) para caracterizar a situação dos media em Portugal, numa entrevista à Lusa em que diz que “praticamente todas” as empresas se queixam de “grandes dificuldades”.
Luís Simões recorda que a palavra mais referida durante o 5.º Congresso dos Jornalistas, que decorreu em Lisboa entre 18 e 21 de janeiro, foi emergência.
“Na verdade é a palavra que se adequa ao setor, porque é um setor com salários em atraso, com salários cada vez mais baixos, com muita precariedade e é um setor que vive momentos difíceis. E isso não foi alheio à decisão de se avançar para uma greve, para fazer um alerta que o jornalismo vive momentos muito complicados”, argumenta o presidente do SJ.
“Curiosamente, todas as empresas do setor ou praticamente todas, talvez com a excepção da Cofina, se queixam de momentos de grandes dificuldades, até financeiras” e “isso, certamente, é uma parte da explicação para a degradação das condições de trabalho, mas, na verdade, foram cometidos ao longo dos anos muitos erros”, prossegue Luís Simões.
Este “é o momento” em que todos têm de “pensar no essencial” e “hoje é determinante a questão do financiamento dos media”, aponta Luís Simões.
“Sem um debate sério sobre o financiamento dos media vai ser muito complicado que no futuro tenhamos melhores condições e este é o momento provavelmente de todos – e eu quando digo todos incluo os governantes, o poder político, a sociedade e os vários setores da sociedade -” se sentarem a “discutir e ver de que forma deve ser financiado o setor”, defende o presidente do SJ.
Até porque “não há outra forma de salvar a democracia do que encontrarmos uma maneira (…) do jornalismo sobreviver (…) – e o Presidente da República, além de falar na necessidade do pacto regime, que eu tendo a perceber e a concordar, fala sempre e diz sempre também que sem jornalismo saudável não há uma democracia saudável, é tempo de lhe darmos ouvidos todos e é tempo de todos encontrarmos formas e fazer um esforço para financiar o que é fundamental para as nossas vidas, que é jornalismo”, enfatiza.
Faltam dados concretos sobre o setor
Sobre a situação do setor, não existem dados concretos, mas o caso da Global Media Group (GMG) é o mais evidente: os salários de dezembro foram pagos na quinta-feira, depois de o Grupo Bel, de Marco Galinha, ter dado um aval à Vasp, mas ainda falta pagar o subsídio de Natal e o pagamento de janeiro ainda é uma incógnita.
“Temos a Global [Media], que desde a entrada daquele fundo [WOF – World Opportunity Fund] que dizemos sempre que é um fundo sem rosto, que foi um fundo sem princípios e que foi um fundo que está a deixar numa situação dramática um dos principais grupos de comunicação social, que tem órgãos centenários, como os Jornal de Notícias [JN], o Diário de Notícias [DN], o Açoriano Oriental, tem uma rádio de referência, como a TSF”, sublinha, destacando os “momentos dramáticos” que os trabalhadores vivem.
“Depois vamos tendo ao longo dos meses, dos dias outras empresas com algumas dificuldades até para cumprir as responsabilidades para com os trabalhadores”, prosssegue, apontando que o SJ tem tido “referências da TiN [Trust in News], a dona da Visão”.
Imprensa regional também vive momentos complicados
Depois, “já vimos que houve ali um momento em que A Bola despediu 100 de 150 trabalhadores, a Impala, é o que sabemos, numa situação dramática, e depois temos uma coisa que muitas vezes ignoramos, mas acho que devemos repetir vezes sem conta: imprensa regional vive igualmente momentos muito complicados”.
A imprensa regional é “fundamental até para a estabilidade de um país que tem em muitos momentos desertos informativos – há a 51% dos concelhos – e isso deve-nos alarmar – em Portugal que estão à beira de serem um deserto informativo, que não têm uma única televisão, uma única rádio, tendem a não ter jornais impressos e nem sequer órgãos do digital”, lamenta.
E isto “é assustador para todos nós e, sim, a imprensa regional não pode ser retirada desta equação e para a coesão nacional, nós precisamos que também tenha alguma alguma estabilidade”, remata.
Alexandra Luís/Lusa