O grupo bancário BBVA, o segundo maior de Espanha, anunciou na terça-feira ter manifestado ao banco Sabadell interesse em iniciar negociações para explorar a possibilidade de fusão, três anos após o fracasso de uma primeira tentativa.
Os dois bancos tinham anunciado um primeiro projeto de fusão em novembro de 2020, com o objetivo de resistir melhor à crise económica causada pela pandemia de covid-19.
O projeto, que teria dado origem a um gigante financeiro, seria, no entanto, abandonado 10 dias mais tarde, por falta de “acordo sobre a possível troca de ações entre as duas entidades”, segundo o Sabadell Bank.
A nova proposta de negociações surgiu um dia depois de o BBVA ter anunciado que obteve lucros líquidos de 2,2 mil milhões de euros entre janeiro e março, mais 19% do que um ano antes.
Os analistas da XTB destacam o facto desta possível fusão poderá tornar-se numa das maiores fusões bancárias dos últimos anos na Europa.
“O BBVA confirma ter informado o presidente do Conselho de Administração do Sabadell” da sua vontade de “iniciar negociações tendo em vista estudar uma eventual fusão entre as duas entidades”, indicou o banco em comunicado enviado ao regulador do mercado espanhol na terça-feira.
O BBVA acrescentou ter nomeado assessores para esse efeito, enquanto o Sabadell, na sua própria comunicação ao supervisor bolsista, a Comissão Nacional do Mercado de Valores (CNMV), afirmou ter recebido hoje uma proposta escrita do BBVA para uma fusão.
“O Conselho de Administração analisará de forma adequada todos os aspetos da proposta”, disse o Sabadell, o quarto grupo bancário espanhol.
Os analistas da XTB recordam que quando, em 2020, se falou na possibilidade de fusão, “na altura, o BBVA queria aproveitar a má situação que a entidade catalã estava a atravessar, acusada de ter uma rede comercial envelhecida, falta de digitalização, muita exposição ao crédito às PME e uma filial britânica em perdas. Mas desde então a situação mudou muito, a exposição ao crédito empresarial tornou-se um ponto forte com o aumento das margens de juro, levou a cabo vários programas de redução de custos e a sua filial britânica é agora rentável”.
O valor de BBVA e de Sabadell
A XTB dá nota de que “o BBVA tem uma capitalização bolsista de cerca de 60.000 milhões de euros e o Sabadell de cerca de 10.000 milhões de euros. As ações do Sabadell subiram até junto dos 8% com a notícia, enquanto as do BBVA caíram 8.5% na bolsa de Madrid. As negociações surgem numa altura em que alguns bancos espanhóis registam receitas recorde após uma década de reestruturação. O Banco Santander SA registou um aumento de 10% nas suas receitas do primeiro trimestre, enquanto o BBVA aumentou a sua previsão de lucros para o ano inteiro”.
Na sua análise, a XTB refere que “o Sabadell foi durante muito tempo considerado um alvo de aquisição pelos seus três grandes rivais espanhóis – Santander, CaixaBank SA e BBVA – ou um consolidador de entidades mais pequenas no país, como a Unicaja”.
Na altura em que as negociações fracassaram, “o Sabadell estava a enfrentar problemas generalizados com a sua filial britânica TSB, que, entretanto, conseguiu recuperar. Os bancos viram como o aumento das taxas de juro lhes permitiu aumentar significativamente os seus lucros. Dada a dificuldade de crescer de forma orgânica, a maioria das entidades optou por proporcionar valor aos acionistas através do pagamento de dividendos ou de programas de recompra de ações. Embora a curto prazo seja positivo para a empresa, em certo sentido, também mostra a dificuldade de continuar a crescer. Assim, quando as taxas de juro começarem a descer e as margens de juro voltarem a diminuir, será difícil para os bancos voltarem aos níveis de lucro atuais, uma vez que não investiram os lucros excedentários para continuar a crescer noutras áreas ou países, face a um setor em consolidação e com alta concorrência”, afirma a XTB.
Neste contexto, a XTB avalia “positivamente a operação” e o atraso na descida das taxas de juro vai permitir que o banco continue a aumentar os seus lucros, sendo também “uma forma de continuar a manter o atual nível de rendimentos sem depender das taxas de juro, assim diversificando os seus rendimentos e aumentando a sua dimensão”.
Com esta operação, salientam estes analistas, “o BBVA recupera a primeira posição por volume de ativos em Espanha, um dos seus principais mercados e um dos que mais cresceu nos seus últimos resultados. Por outro lado, pode também constituir uma oportunidade para o Sabadell, que recentemente manifestou interesse numa eventual operação de capitalização com o Unicaja”.
Mercado português
Os analistas do XTB referem, por fim, que por cá, “o mercado bancário tem estado forte também, em especial no caso do BCP que tem demonstrado um crescimento sustentado e esta situação pode não ser vantajosa já que o BBVA tem presença em Portugal e pode aumentar as suas operações em termos de concorrência”.