A Mastercard divulgou os resultados da quinta edição do Índice Mastercard de Mulheres Empreendedoras (MIWE) que analisa a igualdade género no mundo das empresas e do trabalho e de como o empreendedorismo feminino tem vindo a progredir em 65 países que representam cerca de 82% da força de trabalho feminina em todo o mundo.
Segundo o estudo, e apesar das mulheres representarem cerca de metade da população mundial e 39% do emprego global, apenas um quinto das empresas exportadoras são lideradas por mulheres e 80% das empresas detidas por mulheres têm dificuldades na obtenção de crédito.
Além disso, as mulheres continuam a estar significativamente sub-representadas em relatórios económicos e índices sobre startups.
Impacto da pandemia ameaça reverter décadas de progresso acrescentando mais 36 anos ao tempo estimado para alcançar a paridade de género no trabalho e nas empresas.
A análise da Mastercard destaca o facto de EUA, Nova Zelândia e Canadá serem os países nos quais as mulheres têm mais oportunidades “porque são economias em que a capacidade de prosperar em atividades empreendedoras é maior e, também, porque têm um acesso mais fácil a diferentes recursos, desde o conhecimento ao apoio financeiro”.
Austrália, Suíça e Taiwan integram também o topo deste índice, com a Alemanha a apresentar o maior crescimento e a catapultar-se para o 7º lugar, seguida de Israel no 8º lugar, “país que em 2020 apresentou um crescimento extraordinário num conjunto de indicadores em resultado das políticas de apoio institucional dirigidos especificamente às mulheres nas PME”, afirma a Mastercard.
Portugal no 22º lugar do ranking global do Índice e na 6ª posição no ranking dos países com maior percentagem de mulheres empresárias
Portugal também foi analisado, tendo subido este ano uma posição no ranking das mulheres empresárias, passando para o 6º lugar à frente de países como a Espanha, a Itália ou a Irlanda.
Apesar do país obter um bom resultado num conjunto de indicadores como o modelo de governação ou a participação das mulheres em trabalhos especializados ou técnicos, existem, ainda, algumas áreas em que pode progredir face à média global das economias avançadas, nomeadamente no acesso a produtos financeiros, na competitividade ou no ambiente empresarial, indicadores que remetem Portugal para a 22ª posição do ranking global, uma posição atrás da Polónia (21º), Espanha (15º), Bélgica (14º), Irlanda(12º), França (11º), e à frente de países como a República Checa (39º), Itália (43º), Dinamarca (13º), Suécia (10º) ou Reino Unido (9º).
Mulheres gestoras de empresas
Já quando analisada a percentagem de mulheres gestoras de empresas, Portugal assume uma posição dianteira (37,4%) – à frente da Irlanda (35,7%), França (34,6%) ou Alemanha (29,7%) –, mas também em indicadores como a percentagem de mulheres em trabalhos especializados e técnicos (52,5%) superior à participação em outros países como a Dinamarca (50,3%), Alemanha (52%), Irlanda (51,4%) ou Espanha (49,7%), encontrando-se ainda na 15ª posição ao nível da participação feminina na força global de trabalho.
Acesso a apoio financeiro: Portugal longe da média
Duas das áreas em que Portugal está significativamente abaixo da média global é no acesso das mulheres empresárias a produtos financeiros (31º) – muito distante de economias como o Reino Unido (9º), a Alemanha (11º), a França (13º) ou a Dinamarca (15º), e seis pontos abaixo da Irlanda –, mas também no apoio a PMEs, ao ocupar a 32º posição, a 14 pontos de Espanha e a 10 da Irlanda.
“Apesar disso, no que respeita a condições empresariais, Portugal apresenta uma melhor posição em resultado, sobretudo, da boa qualidade da gestão empresarial, apesar de estar ainda longe da média em domínios como a competitividade, perceções culturais do empreendedorismo e quadro geral empresarial”, afirma o documento.
“Existem ainda muitas áreas em que é fundamental trabalharmos para podermos criar mais oportunidades para as mulheres”, afirma Maria Antónia Saldanha, Country Manager da Mastercard.
Maria Antónia Saldanha, Country Manager da Mastercard, salienta que “existe um conjunto de indicadores que nos dão confiança de que a evolução nos próximos anos seja positiva ao nível da igualdade de género nas empresas e no trabalho. Verificamos que existem ainda muitas áreas, já identificadas, em que é fundamental trabalharmos para podermos criar mais oportunidades para as mulheres e contribuirmos decisivamente para reduzirmos as desigualdades de género. Isso passa, naturalmente, por mobilizar recursos para áreas chave como as PME, a inclusão financeira, para políticas que facilitem o acesso das mulheres ao crédito e ao investimento, mas também a recursos para o desenvolvimento de competências, conhecimento e inovação.”
A falta de acesso ao financiamento é, aliás, uma das principais barreiras que as mulheres empreendedoras enfrentam em todo o mundo, equivalendo a uma lacuna de financiamento que ascende a mais de 1,54 mil milhões de euros.
Impacto mais desproporcional sofrido por mulheres
“Apesar dos esforços globais para mitigar o impacto da pandemia vivida ao longo dos últimos dois anos, a verdade é que acabaram por ser as mulheres a sofrer um impacto mais desproporcional, que ameaça reverter décadas de progresso para alcançar a paridade de género no trabalho e nos negócios”, realça a Mastercard.
Aliás, de acordo com a análise “The Global Gender Gap Report 2021” do Fórum Económico Mundial, em comparação com o período pré-pandemia, são hoje necessários mais 36 anos para colmatar as desigualdades globais de género.
Segundo o estudo da Mastercard, cerca de duas em cada três empresas lideradas por mulheres foram fortemente afetadas pela pandemia.
Cerca de 54% das pessoas que perderam emprego durante este período foram mulheres, em resultado da sobre-representação em setores mais atingidos pelo confinamento e do aumento do tempo gasto em cuidados familiares.
Ainda mais relevante é o facto de que 90% das mulheres que perderam esses empregos ainda não terem conseguido regressar ao mercado de trabalho.
“Os encargos adicionais induzidos por sucessivos confinamentos e o encerramento de escolas não só conduziram a níveis mais baixos de produtividade, devido a alterações nas rotinas de trabalho, ao acesso desproporcionado a equipamentos de teletrabalho, como, em alguns casos, obrigaram as mulheres a abandonar completamente os seus empregos”, afirma a Mastercard.
Dados da Organização Internacional do Trabalho mostram que globalmente, em 2020, a taxa de emprego das mulheres diminuiu 5,0% em comparação com 3,9% para os homens.
Apesar disso, muitas mulheres mostraram uma forte resiliência e adaptabilidade, com 14 das economias avaliadas no relatório da Mastercard a mostrarem sinais positivos de crescimento do empreendedorismo feminino, em particular em economias de baixo e médio rendimento, onde a compensação financeira direta dos governos tende a ser inferior.
Novas ferramentas
Ainda de acordo com dados do Entrepreneurship Outlook 2021 da OCDE, 50% das PME adaptaram os seus modelos de negócio durante a pandemia, integrando novas ferramentas e soluções digitais, como o e-commerce, marketing, além de interações B2B e B2C, para poderem continuar a operar remotamente e digitalmente.
E esta aceleração da mudança para as ferramentas digitais, vem demonstrar que mais do que nunca é essencial incluir as mulheres empreendedoras na nova economia digital.
“A recuperação económica global depende da retoma de um crescimento mais sustentável e inclusivo, que capacite as mulheres empreendedoras e que apoie as suas empresas”, salienta Jane Prokop, EVP, líder de segmento global para pequenas empresas da Mastercard.
“O Índice Mastercard de Mulheres Empreendedoras identifica alguns dos maiores desafios que as mulheres enfrentam nos negócios, e apresenta indicadores que revelam um movimento global positivo em muitos países. E no atual quadro de maior adoção de ferramentas digitais, é essencial promover políticas que garantam que mulheres empreendedoras beneficiam da nova economia digital”, refere Jane Prokop.
“A capacitação de mulheres e a promoção do empreendedorismo feminino é essencial e um forte catalisador para o crescimento e a inovação que fomentará o crescimento de comunidades e alimentará uma recuperação global mais justa e sustentável para todos”, conclui a Mastercard.