Opinião

Portugal 2026: crescer com visão, transformar com responsabilidade

Nuno Afonso

Entramos em 2026 com um setor da construção e do imobiliário que vive simultaneamente o melhor e o pior dos mundos. Por um lado, assistimos a um dinamismo assinalável: investimento consistente, projetos ambiciosos, procura elevada e uma confiança renovada no potencial do país. Por outro, enfrentamos uma realidade incontornável: Portugal precisa urgentemente de aumentar a sua capacidade de construir — e sobretudo de construir melhor.

A verdade é simples: faltam dezenas de milhares de casas para responder à procura atual e ao crescimento demográfico dos próximos anos. Esta escassez é estrutural e não conjuntural. A produção anual de novos fogos permanece muito aquém das necessidades, e os custos de construção continuam a pressionar promotores, investidores e famílias. A capacidade construtiva do país atingiu limites preocupantes. A mão-de-obra está pressionada, os prazos são mais longos e os custos continuam a subir. Por isso, a inovação tecnológica não é apenas desejável — é indispensável.

Mas é precisamente neste contexto que se definem os líderes — aqueles que conseguem transformar dificuldades em oportunidades de inovação.

Lisboa e Porto continuarão a ser motores do mercado, mas 2026 será também o ano da afirmação das cidades médias e das zonas periféricas. O teletrabalho, a procura por habitação mais acessível e a valorização da qualidade de vida têm vindo a deslocar o interesse de compradores e investidores para locais antes menos procurados. Como promotores, temos aqui um papel crucial: levar projetos de qualidade a regiões que estão prontas para crescer, mas que ainda têm oferta limitada. Esta descentralização pode ser um motor poderoso de coesão territorial e de desenvolvimento económico equilibrado.

Por fim, falar de tendências sem abordar a habitação acessível seria ignorar a realidade. Portugal enfrenta uma dificuldade real em garantir casas a preços compatíveis com o rendimento das famílias. É um problema complexo e multifatorial — mas é também uma oportunidade para os promotores que conseguirem inovar no produto e no modelo de negócio.

Enquanto líder empresarial, acredito que devemos participar ativamente na solução. É possível construir mais, com qualidade, e criar tipologias diversificadas que respondam às necessidades reais da classe média e dos jovens.

O setor da construção e do imobiliário tem um papel determinante no futuro do país. Geramos emprego, impulsionamos a economia, criamos cidades e moldamos a forma como vivemos. Por isso mesmo, a nossa responsabilidade é enorme.

Para 2026, temos uma convicção clara: não basta crescer — é preciso transformar. Construir melhor, com mais consciência, com visão estratégica e com compromisso social.

Se fizermos isso — empresas, investidores, reguladores e cidadãos — não estaremos apenas a responder à procura do presente. Estaremos a preparar Portugal para o futuro.

Nuno Afonso,
CEO do Grupo Rio

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