A adoção as melhores práticas de sustentabilidade é cada vez mais uma realidade, sobretudo, numa altura em que se sabe que não há um Planeta B e que tudo o que faz hoje terá impacto amanhã. Ciente desta premissa a Porto Business School (PBS) tem apostado em desenvolver modelos de gestão e de transformação que ajudem as empresas e os empresários a traçar o caminho para um futuro assente em crescimento inteligente e sustentabilidade. É neste contexto que lançou agora o projeto de financiamento público Sustainable Act.
Em entrevista à FORBES, o diretor executivo para Inovação e Crescimento da PBS, Rui Coutinho, explica esta aposta na sustentabilidade sublinhando que o projeto “não só define o caminho que a Porto Business School, enquanto instituição, está a fazer, no sentido de promover as práticas de gestão sustentável, mas também incorpora o nosso compromisso em apoiar as empresas, no percurso que estas devem fazer para integrar essas mesmas práticas de gestão sustentável”.
De acordo com Rui Coutinho, o projeto pretende sobretudo ajudar as Pequenas e Médias Empresas. Isto porque, de certa forma, “as grandes empresas têm acesso a recursos e a competências de forma mais vasta, sendo estas ferramentas muitas vezes mais limitadas em pequenas e médias empresas”.
A mesma fonte destaca que o facto de se fazer “este caminho lado a lado com as PME nacionais, nos próximos anos garantimos que estas conseguem crescer, de forma efetiva e competitiva, integrando um modelo de gestão sustentável que impacta positivamente nas pessoas e no planeta enquanto, simultaneamente, alavancam resultados económicos positivos”.
“Com o Sustainable Act, queremos ajudar as PME portuguesas no caminho e implementação de um plano de ação para a sustentabilidade, alinhado simultaneamente com os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas e com objetivos de competitividade económica”. O diretor executivo para Inovação e Crescimento da PBS sublinha que, ao longo dos próximos dois anos, a business school pretende ajudar as PME a compreender que o caminho da gestão sustentável é a melhor opção de negócio.
Capacitar e transformar
Rui Coutinho detalha que, para se dar este passo, o projeto está dividido em duas grandes fases – capacitação e transformação – que permitem fazer um trabalho e acompanhamento direto com as empresas, levando-as a atingir um estado de maturidade mais evoluído no seu caminho para a sustentabilidade. Para se poder “distinguir as empresas que estão efetivamente a fazer este processo de transformação e a implementar um plano, vamos também lançar o Selo PME Sustentável já no próximo ano, ao qual, entretanto, as empresas se poderão candidatar. Este é um processo contínuo que começa agora e culmina com esta distinção em 2022”, explica ainda a mesma fonte.
Para as empresas alcançarem este selo foi definido um roadmap que inclui um conjunto de iniciativas, como um ciclo de workshops, que contarão com o apoio do FI Group Portugal e da Aliados Consulting. Estes workshops visam ajudar as empresas a construir o seu plano de ação para a sustentabilidade, garantindo-lhes o acesso a recursos e ferramentas úteis. Por exemplo para perceber o impacto financeiro de determinada tecnologia no seu negócio, como a impressão 3D, realidade aumentada, “gémeos” digitais ou os robôs colaborativos. “Tudo para que consigam incorporar as mais-valias da digitalização, mas tendo sempre subjacente esta vertente verde e com propósito”, refere Rui Coutinho.
Até ao momento já foram disponibilizadas três ferramentas de apoio: um compêndio de ferramentas de relato financeiro, um guia das melhores práticas e o screening das tecnologias 4.0 para o desenvolvimento sustentável. Mas a meta, até ao final do projeto, é disponibilizar cerca de dez ferramentas de apoio às PME, nas quais, se incluem uma ferramenta de autodiagnóstico e um conjunto de “lições” baseadas na experiência de dez líderes empresariais.
De acordo com a mesma fonte, está ainda previsto a criação de um Barómetro para monitorização do grau de maturidade das PME para a sustentabilidade, avaliando o ritmo de incorporação de diferentes práticas de gestão sustentável no quotidiano das empresas. “Todas estas iniciativas são complementares à formação para executivos da Porto Business School na área da sustentabilidade, na qual realço o Programa de Gestão Sustentável, em parceria com o BCSD e com a Fundação Calouste Gulbenkian”, refere Rui Coutinho.
Sustentabilidade na ordem do dia
O diretor executivo para Inovação e Crescimento da PBS realça que, nos últimos três anos, os temas da sustentabilidade ambiental e da economia circular têm estado na ordem do dia, não só por incentivo do Governo, através da atribuição de financiamentos via Fundo Ambiental e da Comissão Europeia com o lançamento do Pacto Ecológico Europeu. Isto sem esquecer a pressão dos consumidores, mais conscientes do seu impacto ambiental e mais exigentes com possíveis soluções sustentáveis, o que resultou no facto de empresas e outras organizações públicas e privadas iniciaram a transição para um futuro mais sustentável.
O mesmo responsável revelou ainda que, perante o atual cenário de pandemia global, a PBS em conjunto com a Aliados Consulting, desenvolveu um estudo para analisar o impacto da Covid-19 na sustentabilidade, analisando a perceção de pequenas, médias e grandes empresas nacionais a atuar no mercado nacional. O estudo contou com a participação direta de um grupo alargado de empresas, em cargos de gestão e especialistas, entre eles CEO, COO, administradores, diretores de comunicação, diretores de sustentabilidade, técnicos de qualidade, entre outros.
Pandemia acelera transição
Rui Coutinho sublinha que face aos dados obtidos no estudo “identificámos que ainda há um longo caminho a fazer em relação à sustentabilidade, ainda que a pandemia tenha ajudado a acelerar essa transição”. E detalha que, 48,7% das empresas nacionais classificaram a sustentabilidade como “muito importante” na estratégia de uma empresa, mas quase metade das inquiridas (43,6%) não têm orçamento alocado a esta área.
Outra das conclusões a retirar é que “as empresas estão mais conscientes das alterações climáticas e entendem que é urgente uma transição “verde”. No entanto, é evidente a falta de iniciativas internas e recursos para estimular essas alterações”, refere o professor da PBS.
Questionado sobre quais as medidas onde se tem apostado mais, o diretor executivo para Inovação e Crescimento da PBS salienta que, no período pré-Covid, as empresas estavam mais concentradas nas questões da eficiência energética e em iniciativas de redução de emissões, redução de resíduos e redução de consumos. Isto porque “eram áreas onde os benefícios económicos eram mais evidentes e imediatos e, por outro lado, aspetos onde a regulação e a legislação têm vindo a impor alterações e ajustamentos”.
No entanto, o estudo conclui que “74,3% das empresas que responderam ao questionário não alteraram o seu foco da sustentabilidade. Aliás, 15,4% afirmam mesmo ter aumentado esse foco neste período”, destaca a mesma fonte. Mas as questões como a economia circular ainda ficam abaixo do limiar dos 50% de aplicação pelas empresas.
Certo é que “a perceção de que a sustentabilidade será um fator competitivo é um dado adquirido pelas empresas”, diz Rui Coutinho que refere que 66,7% das empresas inquiridas preveem que a sustentabilidade seja um fator competitivo no rescaldo da Covid-19.
A mesma fonte destaca que “quase dois terços das empresas mantiveram o foco na sustentabilidade ao longo do período analisado e cerca de metade manterá o mesmo foco e o mesmo orçamento no rescaldo da pandemia”. Apesar de reconhecer que o caminho da recuperação económica das empresas passará, em parte, pela sustentabilidade, alerta que “serão necessários mais incentivos, financeiros e não financeiros, para se tornar mais efetivo”.
Quanto as perspetivas, num futuro próximo, cerca de duas em cada três empresas afirmam estar preparadas para o mundo pós Covid-19 e para os seus desafios, o que reflete o otimismo do tecido empresarial que respondeu ao inquérito.
Rui Coutinho realça que “há ainda um longo caminho a percorrer junto das empresas, seja através de uma economia mais verde e circular, seja pela reestruturação dos modelos de negócio existentes que poderão não ser sustentáveis nas condições que se avizinham”. E destaca que o empenho da União Europeia nestas temáticas é assinalável. Face a este cenário “existirão grandes oportunidades para a mobilização das empresas na reestruturação da economia, voltada para um crescimento sustentável, num esforço conjunto entre as entidades governamentais e as empresas”.
O diretor executivo para Inovação e Crescimento da Porto Business School não tem dúvidas que “a Covid-19 veio acelerar a transição para uma nova forma de pensar o crescimento económico, que ainda não fazia parte da agenda da maioria das empresas. Neste contexto, o papel do crescimento inteligente tornou-se ainda mais urgente e essencial”. E acredita que “se a estas circunstâncias, somarmos a oportunidade única de investimento proporcionada pelos incentivos económicos que se anunciam, estão reunidas as condições para um ponto de viragem que marca uma verdadeira mudança de paradigma de crescimento”. Em jeito de conclusão, Rui Coutinho alerta que “é, portanto, fundamental realinhar o investimento em inovação e sustentabilidade com o desígnio do crescimento inteligente. Essa deve ser a prioridade das prioridades”.