Opinião

Porque é que continuamos a ver as PME como uma nota de rodapé da economia?

Jon Fath

Durante décadas, a liderança foi entendida como sinónimo de autoridade, controlo e eficiência na gestão de recursos. Mas num tempo marcado por rápidas transformações tecnológicas, incerteza económica e crescentes desigualdades regionais, essa visão tornou-se insuficiente. O verdadeiro papel da liderança hoje não é apenas gerir capital: é desbloquear o potencial humano, económico e social onde ele existe, especialmente nos sítios onde poucos o procuram.

Na Europa, essa mudança de mentalidade é mais do que desejável. É urgente. O seu futuro não continuará a ser construído apenas nos centros financeiros, nas grandes multinacionais ou nos corredores das instituições comunitárias. Será moldado nas pequenas empresas locais, nos bairros em transição, nos empreendedores que desafiam a estagnação com ideias novas, mesmo em contextos adversos.

A liderança do futuro é, por isso, uma liderança de proximidade. Uma liderança que reconhece que as PME – responsáveis por mais de 99% do tecido empresarial europeu – não são um risco a mitigar, mas um ativo estratégico a potenciar. São elas que criam emprego local, que mantêm comunidades vivas, que testam e implementam soluções com impacto real e imediato. Ignorar este ecossistema é comprometer a resiliência da Europa.

Mas apoiar as PME não significa apenas acesso a financiamento. Significa confiança. Significa criar políticas públicas que não as asfixiem com burocracia. Significa colocar ao seu dispor ferramentas tecnológicas que até agora só estavam acessíveis a grandes empresas. Significa formar líderes que saibam colaborar, que sejam inclusivos, e que olhem para a diversidade – seja ela geográfica, cultural ou económica – como uma vantagem competitiva.

A liderança europeia do século XXI deve, acima de tudo, ser corajosa. Corajosa para investir em ideias pequenas com impacto grande. Corajosa para descentralizar o poder e apostar nos territórios menos visíveis. Corajosa para abandonar modelos de sucesso ultrapassados e testar novas formas de organização, mais horizontais, mais ágeis, mais humanas.

Num tempo em que os grandes desafios – da transição climática à revolução digital – exigem respostas rápidas e inovadoras, não podemos permitir-nos continuar a ver as PME como uma nota de rodapé na economia.

Jon Fath,
cofundador e CEO da Rauva

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