É impossível ficar indiferente às notícias das últimas semanas. Portugal está a arder e, este ano, as chamas já consumiram mais de 172 mil hectares de floresta, ultrapassando já os 136 mil hectares ardidos em todo o ano de 2024, segundo dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). O fenómeno não está a apenas a acontecer em Portugal, já que Espanha, tal como outras regiões da Europa estão a ser fustigadas com as ondas de calor e os consequentes incêndios. Até agora, a União Europeia já viu arder cerca de 8,9 mil quilómetros quadrados do seu território, o quádruplo do que ardeu o ano passado.
Foi com o objetivo de ser um elo de ligação entre quem quer ajudar e quem precisa de ajuda, que nasceu, há apenas três dias, a plataforma digital Portugal Sem Chamas. Apesar e muito recente, este projeto solidário, de utilização gratuita, já conta com mais de 200 voluntários, disponíveis para prestar auxílio, entre empresas, cidadãos e influenciadores. Tem como lema “Unidos na prevenção, solidários na recuperação”.
Alimentos, água, roupas e bens essenciais e apoio financeiro em forma de donativos são os tipos de ajuda com maior contribuição, até ao momento.
O projeto surgiu do apelo solidário da atriz Jessica Athaíde nas redes sociais, que foi depois reforçado pelo humorista António Raminhos, os quais se prontificavam a divulgar pessoas e empresas dispostas a apoiar as vítimas dos incêndios. Este primeiro passo inspirou um grupo de voluntários que decidiu agir perante as imagens dramáticas de um país a arder e assim desenvolveu o protótipo da plataforma, recorrendo à inteligência Artificial para mobilizar a ajuda necessária.
Ricardo Paiágua, um dos criadores da plataforma, refere, em comunicado que “Hoje, usamos IA em tudo. Tarefas que antes demoravam meses, resolvem-se numa semana, e as de uma semana, em apenas uma hora. Pensámos em trazer essa agilidade para a solidariedade e assim potenciar respostas a emergências.” Alimentos, água, roupas e bens essenciais e apoio financeiro em forma de donativos são os tipos de ajuda com maior contribuição, até ao momento.
Como funciona o projeto solidário
O “Portugal Sem Chamas” funciona com quatro plataformas: a Preciso de Ajuda, disponível para pessoas afetadas, que descrevem a sua situação e necessidades; a Quero Ajudar, para marcas ou cidadãos registam ofertas de apoio, como bens, alojamento, transporte, doações ou divulgação. Por outro lado, disponibiliza a Influenciadores Solidários, ou seja, uma lista de figuras públicas que mobilizam as suas comunidades para apoiar vítimas, e para finalizar a Estado dos Fogos, que consiste em fornecer informação atualizada sobre incêndios ativos, controlados e extintos.
“Fazer plataformas é o mais fácil. Nós só queremos unir Portugal num movimento solidário e que gera ferramentas de apoio a quem perdeu muito ou tudo com os incêndios. Mas se cada um contribuir um pouco, multiplicamos a ajuda”, sublinha Ricardo Paiágua. Este empreendedor social já esteve envolvido várias iniciativas solidárias como foi o caso da Cama Solidária, que durante a pandemia, mobilizou centenas de voluntários e caravanas para acolher profissionais de saúde. Também mobilizou a Computador Solidário, que distribuiu milhares de computadores a estudantes sem meios para acompanhar as aulas online, e a Acolhe um Herói, que juntou famílias a bombeiros e operacionais deslocados em grandes incêndios. Esteve ainda envolvido na iniciativa Acolhe um Ucraniano, que mobilizou alojamentos e apoio para centenas de refugiados no início da guerra da Ucrânia.